Copa do Brasil

Tudo que Wright já falou sobre o polêmico Flamengo x Atlético-MG de 1981

Árbitro centro da polêmica na Libertadores de 1981, que tornou enorme rivalidade entre cariocas e mineiros, nunca se arrependeu da decisão de expulsar cinco jogadores do Glao

Um jogo decisivo de Libertadores, valendo vaga para uma semifinal, sendo decidido por W.O. após a expulsão de cinco jogadores? Parece inacreditável, mas foi esse roteiro que aconteceu na partida Flamengo e Atlético Mineiro em 26 de agosto de 1981, quando o Rubro-Negro venceu e iniciou a caminhada pelo primeiro título continental.

O responsável pelas expulsões foi o árbitro José Roberto Wright.

Essa partida, marcada por acusações de favorecimento aos cariocas e que rende reclamações mais de 40 anos depois, tornou a rivalidade entre mineiros e o Fla uma das maiores do Brasil. Ela terá mais um episódio neste domingo (2), com a decisão da Copa do Brasil de 2024.

A exibição do então juiz em 81 se tornou argumento de rivais para incomodar rubro-negros e tirar o mérito daquele que é sua grande conquista. Mas o que o principal personagem da partida, Wright, disse sobre aquele episódio?

Foram várias declarações e sempre a mesma posição: ele acredita que tomou a decisão correta.

— Na ocasião, apliquei a regra. O time do Atlético não queria jogar e eu fui obrigado a botar para fora vários jogadores. Se eu tivesse uma televisão, o que não é possível, poderia mudar ideia. No entanto, não aprovo tal método — disse Wright à Revista Placar em dezembro de 1987.

Wright já chegou a rever expulsões de Flamengo x Atlético Mineiro e manteve opinião

FUTEBOL – JOSÉ ROBERTO WRIGHT
O então árbitro José Roberto Wright em partida em 1991 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

O jogo em questão entre mineiros e cariocas aconteceu porque o regulamento da época previa um jogo extra para definir quem seria o “campeão” de um grupo e avançar à semi.

Naquela edição, os brasileiros estavam no grupo 3 e, após empataram por 2 a 2 os dois jogos que tiveram entre si na fase inicial, terminaram a chave com a mesma pontuação.

Então, Flamengo e Atlético se enfrentaram no Serra Dourada, com mais de 70 mil torcedores nas arquibancadas, local preferido dos rubro-negros. Se o lado do Fla escolheu a sede, a arbitragem da partida foi escolhida pelo Galo, selecionado Wright, quem já tinha apitado um dos jogos dos times na fase de grupos e tinha um currículo de peso.

Ele foi um árbitro de grande carreira no século passado no futebol brasileiro, apitando uma Copa do Mundo, oito finais de Campeonatos Brasileiros, duas da Libertadores e eleito em 1990 o melhor juiz do mundo pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS).

Só que nada marcou suas mais de duas décadas de carreira como aquele jogo.

FIFA World Cup WM Weltmeisterschaft Fussball Italia 1990 Italy 1990 4 7 1990 Stadio Delle Alpi
José Roberto Wright durante partida entre Alemanha e Inglaterra na Copa do Mundo de 1990 (Foto: IMAGO)

Galo e Fla já tinha uma carga de rivalidade, pois decidiram o Brasileirão de 1980, vencido pelos cariocas por 3 a 2, iniciando uma era de ouro do time. As equipes eram a elite do Brasil naquele momento, base da Seleção brasileira.

Porém, não teve nada de show ou algo bonito naquele jogo-extra da Liberta de 81.

Muito mais do que os grandes em campo fizeram, chamou atenção a atuação de Wright, que apenas com 33 minutos mostrou um vermelho direto para Reinaldo por um carrinho forte em Zico, apesar de estar no campo de defesa.

Ao rever esse lance, no programa Esporte Espetacular, da Globo, em 2019, o juiz confirmou que tomou a decisão correta e justificou que já tinha avisado os capitães que expulsaria em qualquer lance mais pesado.

— Tudo igualzinho. [Não mudaria] nada, nada, nada. Se você ver, ele [Reinaldo] vai por trás e derruba intencionalmente. Se eu não tivesse avisado antes que seria cartão vermelho, o amarelo poderia até segurar. Mas naquela altura do jogo não tinha mais como. Os jogadores não estavam me respeitando, estavam cheios de reclamações — detalhou.

O árbitro voltou a expulsar um do Alvinegro menos de dois minutos depois, quando Éder, tentando cobrar uma falta rapidamente, trombou com José Roberto. O lance causou uma confusão generalizada, dirigentes do Galo invadiram o campo e sobrou vermelho para Palhinha e Chicão.

— [Éder] Não fez a mínima questão de virar o corpo [quando se choca com Wright] — afirmou o árbitro, ainda ao Esporte Espetacular.

O jogo até chegou a ser reiniciado, mas o time do Atlético fez cera em um lance e o último a ser expulso foi Osmar Guarnelli. Os lances podem ser revistos no vídeo abaixo do canal Peleja.

Em 2018, ao blog do jornalista Rica Perrone, Wright também usou o argumento da partida quente para iniciar a série de expulsões do lado do Galo.

— O que você considerou um erro foi o maior acerto que eu tive. O jogo tava difícil, pegado, muita pancadinha. Chegou uma hora eu não tinha mais condições de segurar na base da bronca. Chamei os dois capitães e disse ‘O primeiro que der, sai!'. O que eu vou contar agora é a primeira vez que revelo. Quando chamei os dois capitães e avisei que expulsaria, o Reinaldo virou para o Nunes e disse ‘duvido, não vai expulsar ninguém!'. Então foi uma expulsão mais do que lógica. Ou você se impõe ou é engolido — revelou.

Praticamente irredutível sobre sua atuação naquele dia, o juiz assumiu um possível erro ao Superesportes, em 2012. Na ocasião, acreditou que poderia ao menos ter expulsado um do Flamengo, o que, no fim, não mudaria em nada o resultado.

— Talvez tenha cometido um erro. Quando o Atlético já estava sem quatro jogadores, poderia ter punido um atleta do Flamengo por um carrinho, uma entrada dura. Mas naquele momento achei que poderia aplicar apenas o cartão amarelo. A verdade é que não faria diferença porque o clima entre os jogadores do Atlético era de guerra — disse.

O Galo tentou anulação da partida, mas nunca conseguiu, e o Fla avançou para semifinal antes de ser campeão em cima do Cobreloa. Apesar das especulações sobre Wright supostamente ser torcedor rubro-negro, na verdade, ele é Fluminense, como revelou ao Esporte Espetacular.

Após pendurar o apito, o ex-árbitro passou anos sendo comentarista da Globo, emissora que deixou em 2012. Ele integrou a Comissão de Arbitragem da CBF como assessor até 2022, quando foi demitido.

Recentemente, o responsável pela polêmica em 1981 colocou o Atlético Mineiro na Justiça e pediu R$ 56 mil, pois o clube fez um post para criticar a atuação do árbitro Rodrigo Pereira de Lima e colocou “Wright” como sobrenome do criticado.

Uma juíza alegou liberdade de expressão do Galo, e o ex-árbitro perdeu o processo em 22 de outubro.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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