Galo mostra sua maior força para golear o Athletico e encaminhar título da Copa do Brasil
Intensidade do ataque abreviou o caminho para o passeio alvinegro no Mineirão
Havia muitas coisas em comum a Atlético Mineiro e Athletico Paranaense antes da bola rolar neste domingo, no Mineirão, pelo jogo de ida na Copa do Brasil. A começar pelo fato de serem homônimos, evidentemente, passando pela sensação de barriga cheia pelos títulos conquistados na temporada. Mais de 50 mil pessoas marcaram presença na arquibancada para testemunhar um jogo que entrou para a história.
Mas, sobretudo, pelas grandes atuações que fizeram para chegar até a decisão. No entanto, o favoritismo do Galo falou mais alto e, em um espetáculo ofensivo, o placar terminou com 4 a 0 para os mineiros. Ainda no primeiro tempo, a distância entre os adversários foi escancarada. Sem piedade e com apetite de sobra, o Atlético não quis esperar para construir sua vantagem. Desde a saída de bola, trabalhou passes e ações verticais para pressionar o Furacão.
Um Galo frenético
A tendência a abafar e sufocar o Furacão logo rendeu frutos: a defesa, liderada por Thiago Heleno, cometeu erros quando não poderia, e sentiu o peso do confronto. Na decisão da Sul-Americana diante do Red Bull Bragantino, a missão do capitão rubro-negro e seus colegas não foi tão complicada quanto hoje, quando tiveram de barrar o ímpeto de Hulk, motivado pela conquista da Bola de Ouro do Brasileirão. Nem de Hulk e muito menos de Eduardo Vargas, que mostrou mais uma vez sua estrela para momentos cruciais.
Vargas, por sinal, só entrou cedo no jogo por conta de uma indisposição de Diego Costa, que precisou deixar o campo na marca dos 13 minutos. Mais leve, o chileno conseguiu atrair a marcação e se desvencilhar com velocidade para dar opção a Hulk. Forçando suas incursões pela direita, o Galo saiu na frente após um cruzamento de Matías Zaracho resvalar no braço de Léo Cittadini. O pênalti foi marcado após muita reclamação, empurrões e discussões. Hulk bateu e o clima de festa contagiou os demais.
Embora possa parecer, por conta do placar final, que o Athletico não levou perigo, a verdade é que no primeiro tempo as estatísticas de finalização foram favoráveis aos paranaenses, que arremataram sete vezes. Diluindo esse dado no contexto da decisão, parece pouco. A questão é que Everson se mostrou muito confiável quando desafiado, além da defesa alvinegra tirar os espaços e inibir as chances seguintes. Nunca houve uma chance clara e manifesta para que o Athletico fizesse um gol. E mesmo quando os visitantes esboçaram tentar igualar o jogo na vontade, a resposta sempre foi muito mais forte do que Thiago Heleno e seus colegas poderiam lidar.
Keno: homem show na hora certa
E foi justamente no momento em que o Furacão mais pressionou é que apareceu a figura de Keno. Ao lado de Hulk, é o homem mais letal deste Galo. Foi assim que ele recebeu a bola na faixa de 30 metros, tirou dois adversários com cortes rápidos e disparou um petardo no cantinho da meta de Santos. O arqueiro, que geralmente costuma antever esses chutes, nada pôde fazer se não contemplar a rede balançando às suas costas.
Se o Galo já estava bastante dominante com um gol de vantagem, após o segundo, em uma pintura, a torcida fez o Mineirão trepidar e aumentou a voltagem do time, que respondeu com ainda mais eletricidade. David Terans, ex-atleta do clube mineiro, hoje destaque do Furacão, quase deixou sua marca em uma bela cobrança de falta, mas Everson buscou um ângulo improvável para evitar. Ali morria a última esperança dos paranaenses no confronto.
O segundo tempo para a história
No intervalo, Alberto Valentim tramou o que seria uma proposta mais segura e de contenção de danos no Athletico. Visando utilizar mais a lateral com Marcinho, um dos atletas mais insinuantes em campo, o técnico pretendia equilibrar a final e quem sabe sair com um gol do Mineirão para responder no meio de semana, dentro da Arena da Baixada.
O que Valentim não contava, evidentemente, era que seu capitão tornasse a tarefa ainda mais árdua. Thiago Heleno se precipitou ao afastar uma bola da área, acertou a cabeça de Hulk, que manteve a posse e preparou o terreno para a finalização rápida. Antes que Heleno pudesse tentar fazer algo para bloquear a ação, Santos tocou na bola e deu rebote para que Vargas concluísse e fizesse o terceiro. Nesses detalhes, o Galo foi impiedoso. Trabalhou todos os seus gols e ainda capitalizou em cima de falhas imperdoáveis da defesa do Furacão. Para quem gosta de equipes eficientes, o Atlético de Cuca foi uma grande referência.
Ainda restava tempo para mais. Com 23 minutos no relógio, na etapa final, Hulk carregou pela direita, acionou Nacho Fernández (que entrou na vaga de Keno) e esperou a magia acontecer. Zaracho quase finalizou, a defesa cortou para o lado, mas lá estava Vargas para cumprir. O Galo se tornava, ao balançar o barbante, o único clube na história da Copa do Brasil a marcar quatro gols na mesma partida. O placar inédito credencia os mineiros a buscarem mais uma taça na inacreditável temporada que fizeram vencendo o Estadual e o Brasileiro. Resta apenas a última joia da coroa.
Na quarta-feira, só um milagre tira a conquista do Galo. O Athletico, que errou demais e ameaçou de menos, terá não só um déficit absurdo como adversidade. Sem Thiago Heleno, suspenso, e Nikão, que saiu lesionado, a equação fica ainda mais complicada para Alberto Valentim. A final da Copa do Brasil de 2021 é histórica por si só em 90 minutos. Resta saber qual será a narrativa dos 90 restantes: a imposição do grande time do país ou uma reação honrosa de quem, mais uma vez, não teve medo de desafiar ninguém em seu caminho até duas decisões de campeonato. Evidentemente, as similaridades que Atlético e Athletico apresentavam antes da bola rolar neste domingo se esvaíram.