Flamengo e Palmeiras duelaram pelo posto de quem joga menos fora de casa
Assim como o Alviverde no jogo de ida da Copa do Brasil, Rubro Negro não se saiu bem no Allianz Parque, mas ficou com a vaga
Não nasci em tempo de ver Adílio jogar no Maracanã, mas quem viu conta empolgado (e quem não viu, escuta) sobre sua classe e esperteza para conduzir o maior meio-campo da história do Flamengo, uma unanimidade daquelas que produzimos aos montes, vindo de um tempo que faz com que até rivais possam se curvar, sem o constrangimento bobo de hoje, à categoria de um camisa 8 eterno.
O videotape está aí, para essa sempre emocionante passagem de um pilar que estrutura e baliza a grandeza do futebol brasileiro, conduzindo a bola coladinha ao pé, por onde quisesse. Um craque.
Flamengo e Palmeiras resolveram competir quem poderia fazer o pior jogo possível enquanto visitantes, circunstância de uma disputa por mata-mata, é verdade, mas uma certa mania de compensação que cobrou o preço e não funcionou para nenhum dos lados. Talvez valha a pena pela questão matemática simples, porque, ainda que times tão potentes se recusem a jogar na casa do outro, um seguirá no torneio, metade das chances para cada lado, sem muito interesse de apontar para soluções melhores.
O jogo de volta, valendo um lugar nas quartas da Copa do Brasil, começou como o esperado, com a pressão inicial palmeirense em seu típico modo copeiro: laterais indo para cima, Gustavo Gómez subindo de cabeça por todos os lugares do campo, Weverton repondo com pressa, Veiga encontrando o espaço para o último passe antes do cruzamento, Rony guerreando por cada lateral, e a bola área de gol no segundo pau. Um a zero foi pouco. E quando o jogo assentou, passado esse ímpeto de começo, o Flamengo preferiu esperar.
Não se trata de juízo de valor estético, mas de efetividade. Tite voltou com David Luiz no lugar de Luís Araújo, suspendeu a velocidade do seu ataque (Cebolinha viria só para os acréscimos) e convidou o rival para marcar mais um gol. A bola de Murilo foi na trave, a de Flaco impedida por um fio de cabelo no VAR e o chute do goleiro Weverton nos descontos, fosse ainda o velho Parque Antarctica, nas piscinas. A melhor combinação de jogadores em campo (talvez da América), formada por Gerson, Arrasca e Pedro, criou uma mísera chance em todo o jogo, e ela caiu nos pés de Pulgar. Não compensou.
Mas talvez o debate possa ser quem conseguiu jogar ainda pior na visita ao outro, porque uma semana atrás o Palmeiras foi espaçado e nada perigoso, torcendo para o jogo acabar. Esse equilíbrio forjado por ideias que não deram certo teria ficado mais evidente se a vaga para seguir na Copa do Brasil fosse decidida nos pênaltis, mas no fim o Palmeiras não tirou a vantagem porque tem menos competência técnica para decidir as jogadas, ainda que tenha devolvido o domínio de sete dias antes, ao seu jeito.
É possível questionar o método… Mas não o resultado
Tite é um pragmático, não um idealista, e fez a conta que, na visão dele, deixaria o Flamengo mais perto da classificação. Acertou mais no placar final que nos porquês. Abel ganhou justos aplausos da torcida, reconhecendo a entrega, ainda que a força palmeirense em muitos momentos dependa apenas da imposição física de seu elenco, ótimo competidor ao longo desses anos, e de ganhar terreno para seguir somando passos e acumulando gente nas bolas alçadas. Deu certo, menos no resultado.
O fim de jogo lembrou a virada histórica no mesmo duelo, há 25 anos, quando Euller achou os gols de bololô na área.
Semana que vem é a abertura dos confrontos da Libertadores, e a vantagem do Flamengo em começar no Maracanã contra o Bolívar é não ter a chance de jogar tão mal na partida de ida, como poderia ser em La Paz. O Palmeiras vai ao Nilton Santos nesse dilema, e se só assistir o Botafogo pode se frustrar de novo enquanto conta cruzamentos e escanteios em São Paulo depois.
O mata-mata é um barato porquê, independentemente do jeito, você resolve não por jogar, mas por passar. Quem fica pelo caminho, lamenta, ainda que continue repetindo as mesmas manias.