Empresa de consultoria estima dívida do Corinthians acima dos R$ 2 bilhões
Relatório da Ernst & Young está finalizado, mas "dia da transparência" só vai acontecer após revisão
Ao contrário do prometido pela diretoria corintiana, o “Dia da Transparência”, inicialmente marcado para esta quinta-feira (9), será adiado. A números do relatório Ernst & Young, empresa de consultoria contratada pela atual gestão do Corinthians, finalizou o relatório financeiro que analisa o atual cenário do clube, mas os números só devem ser apresentados nas próximas semanas, após revisão. Segundo apurou a Trivela, o documento conclui que a dívida do Timão supera a casa dos R$ 2 bilhões.
O cálculo que a EY adota é o mesmo usado pelo atual diretor financeiro do Timão, Rozallah Santoro, de ativos e passivos do clube, mais o financiamento de mais de R$ 700 milhões da Neo Química Arena. Na contagem da última gestão, a dívida está em R$ 1,5 bilhão. Ou seja, a diferença é de mais de meio milhão em relação ao apresentado no balanço de 2023, último ano do mandato de Duilio Monteiro Alves.
Neste cenário catastrófico de endividamento, que vai obrigar o Corinthians a pagar cerca de R$ 200 milhões só de juros em 2024, a consultoria aponta formas de reestabelecer a saúde financeira do clube. As possibilidades foram debatidas pelos representantes em reuniões, sendo que algumas são consideradas as mais eficientes:
- Recuperação judicial
- Contratação de um CEO
- SAF (Sociedade Anônima do Futebol)
Por fim, há a recuperação de crédito orgânica, provavelmente a que será colocada em prática, estratégia indicada para negócios com alto potencial de faturamento que foram mal geridos. O processo envolve renegociação de dívidas de curto prazo e demora mais tempo para solucionar o problema.
Corinthians de 2024 lembra Flamengo de 2013
Na prateleira de clubes endividados, o Corinthians de 2024 relembra o cenário de outro gigante do futebol brasileiro: o Flamengo, de 2013. Pelo menos é o que dizem fontes envolvidas em ambas as análises. E isso pode ser muito positivo para o Timão.
O Flamengo foi o primeiro clube do Brasil a passar por uma auditoria desta natureza, teve novos processos institucionalizados, inclusive com a atualização do estatuto e fez uma restruturação orgânica, sem aporte de fora. Por mais que seja um processo mais longo, ele também é mais sustentável.
Entretanto, é preciso paciência. O Rubro-Negro iniciou sua empreitada de mudanças em 2013, mas só teve resultado em 2018, chegando ao auge em 2019.
Recuperação judicial é “remédio” mais eficaz
Segundo as fontes, a recuperação é o remédio mais amargo, mas também o mais eficaz para tirar o clube das dívidas. Em termos gerais, o objetivo da recuperação judicial é evitar que uma empresa declare falência. Durante o processo, ela recebe permissão para suspender e renegociar parte de suas dívidas com seus credores.
— Se você pensar o Corinthians hoje, com uma dívida que está na casa do bilhão, é uma saída, um fôlego. Eu diria que é necessário assim como outros clubes fizeram. Você tem o Botafogo, que passou por uma recuperação extrajudicial, o Coritiba, o Cruzeiro, que está conseguindo entrar agora também. É uma maneira de realmente ter um fluxo de caixa melhor e sem bloqueios e penhoras. Então, acho que é uma grande alternativa para os clubes extremamente endividados — disse Carlos Aragaki, mestre em Ciências Contábeis pela PUC-SP e sócio da BDO.
Aliás, a RJ só passou a ser possível para clubes a partir de 2020, com a promulgação da Lei das SAFs, PL 5.516/2019 apresentada pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), atual presidente do Senado. Há dois anos em vigência, a lei protege as SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) das dívidas antigas deixadas pelos clubes. No entanto, não é necessário que a equipe se torna uma empresa ou sociedade para poder usufruir das benesses.
— Usando como base Lei da SAF, a recuperação judicial pode ser pedida por qualquer clube, sem que esse precise ser um clube de futebol associativo ou empresa. Sendo assim, qualquer equipe pode pedir os benefícios da recuperação judicial, para se reorganizar financeiramente, conseguindo assim ter fôlego para ajustar as suas contas e pagar os seus credores, segundo o seu fluxo de caixa — afirma Higor Mafei Bellini, presidente da comissão de direito desportivo da OAB Butantã.