Niebieskie serce: conheça o polonês de alma mineira que virou torcedor do Cruzeiro
Apaixonado pelo Brasil, Bart Gut mora há dois anos em BH e aprendeu a torcer para o Cruzeiro

Mais de 10 mil quilômetros separam Olsztyn, na Polônia, de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, mas nem toda essa distância foi capaz de impedir o destino de unir o professor de inglês Bart Gut, de 36 anos, e o Cruzeiro, um dos gigantes do futebol brasileiro. Impulsionado por questões familiares e um certo camisa 9 “fenomenal”, o polonês, apaixonado por futebol e pelo Brasil, ganhou um novo time para chamar de seu. E a Trivela conta essa curiosa história do mundo da bola.
O torcedor cruzeirense que costuma acompanhar o clube pelo Twitter pode ter esbarrado com comentários sobre o Cruzeiro em uma língua bastante diferente, o polonês. E foi isso que aconteceu com o repórter que vos escreve. Bem, é difícil não notar a frase “Dla mnie Barreal musi byc w podstawowym skladzie, Cifuentes tez zdal egzamin ale trzeba oczekiwac od niego wiecej!” num retweet de post da conta oficial do Brasileirão, não é mesmo?!
2.plowa to festiwal goli i koncowy wynik 3×1 to nie jest top mozliwosci ze stworzonych okazji!ale najwazniejsze sa 3pkt.dla mnie Barreal musi byc w podstawowym skladzie, Cifuentes tez zdal egzamin ale trzeba oczekiwac od niego wiecej! tak czy siak!vamos?https://t.co/WKXBj3oJSr
— Bart Gut (@BartGut) April 28, 2024
Este tipo de comentário chamou bastante a atenção e, então, passei a acompanhá-lo com maior atenção. Assim, percebi que se tratava de alguém realmente engajado com o clube celeste. E aí, surgiu a ideia do papo. Marcamos num empório belo-horizontino, uma sugestão de Bart, e o local, um empreendimento bem com a cara de Minas Gerais, logo mostrou que o amor do gringo pelo estado não ficava só nas redes sociais. As prateleiras, cheias de queijos, doces e cachaça, eram sintomáticas.
A chegada ao Brasil
Bart Gut chegou ao Brasil em abril de 2022, vindo de Londres, onde conheceu sua noiva, a mineira Leticia Lopes. O polonês morava na capital inglesa há sete anos, onde trabalhava com logística, mas o amor falou mais alto quando sua companheira precisou voltar ao seu país natal e ele não pensou muito. Juntou suas malas e veio junto, abandonando seu emprego para dar aulas de inglês em Belo Horizonte, aproveitando a fluência de quase uma década de Inglaterra.
O polonês contou, ainda, que se alguns motivos o fizeram se apaixonar rapidamente pelo Brasil, algo que fica evidenciado em suas redes sociais, onde se declara muitas vezes ao país e a Minas Gerais.
Será que dá para comemorar melhor 2 anos morando na capital de Minas Gerais do que com uma noite de Comida de Buteco!? Amo você, #BeloHorizonte??❤ pic.twitter.com/xtXdjYhOVY
— Bart Gut (@BartGut) April 26, 2024
Segundo Bart, a culinária o conquistou, mas o que ele mais ama no país é o jeito das pessoas, o carinho, receptividade. Ele contou também que mesmo quando não falava português, as pessoas tentavam o ajudar de todas as formas possíveis.
— Como piada, o que eu mais gosto é a coxinha. Falando sério, geralmente eu amo a comida. Gosto de feijoada, mas em primeiro lugar vem o tropeiro. Eu acho diferente vocês comerem arroz e feijão todos os dias, hoje eu como, mas não é comum para mim. Mas falando sério, eu sempre falo que o que eu mais amo são as pessoas. Nós temos estereótipos na Europa sobre o Brasil, em relação a segurança, mas eu nunca passei por uma situação de perigo, de medo. O que mais gosto aqui são as pessoas, mas claro, do futebol, porque aqui temos jogadores top tecnicamente. Pelé, Ronaldo, Romário, Ronaldinho. Aqui tem muitas coisas diferentes da Polônia, Europa e isso me deixa bem curioso — contou Bart.

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Como nasceu o carinho de Bart para com o Cruzeiro?
Viajado, Bart Gut contou que seu time de coração é o Barcelona, ainda que isso pudesse soar estranho. Segundo o polonês, ele fez diversas viagens para a cidade espanhola durante sua vida, onde assistiu diversas partidas, além de ter sido inspirado por grandes jogadores como Hristo Stoichkov, responsável por sua paixão pelo futebol, nascida na Eurocopa de 1996, Romário, Ronaldo e, em especial, Rivaldo. Porém, destaca ter um time em sua terra natal, o Stomil Olsztyn, clube também azul e branco, que manda seus jogos no pequeno e antigo Stadium OSiR. Nacionalmente, tem um carinho especial pelo Lechia Gdańsk, clube de muitos dos seus amigos.
Em Londres, desenvolveu carinho pelo Tottenham, explicando que a preferência pelos Spurs se deu pelo fato da equipe inglesa normalmente não disputar os mesmos títulos que o Barça, diferentemente de outros clubes locais, como Chelsea e Arsenal.

Se Bart tem seus clubes preferidos na Polônia, Espanha e Inglaterra, não seria diferente no país do futebol. E, mais uma vez, sua noiva Leticia teve papel fundamental na escolha. A mineira vem de uma família de cruzeirenses e o polonês logo entendeu que seria uma boa apoiar a Raposa. A escolha não foi nada difícil, principalmente porque Gut é apaixonado pela histórica foto de um jovem Ronaldo, seu ídolo, com uma linda camisa azul estrelada, que ele sempre guardou na memória, bem antes de saber o que o destino lhe reservara.
— Eu conheci o Cruzeiro pelo Ronaldo Fenômeno. A foto com a camisa de 1992-1993. Eu amo essa camisa. Depois, já com a Leticia, conversamos muito, ela falou como era Belo Horizonte, como era sua família, os pais, irmãos, ela, todos cruzeirenses. Na minha cabeça o ideal era ser cruzeirense se minha futura família seria cruzeirense. Além disso, minha sogra me presenteou como uma camisa do Cruzeiro — contou.
— Depois de chegar aqui ao Brasil, conversei com meu sogro, cunhado, amigos e percebi que o Cruzeiro é um time muito grande. Eu vou no Google e vejo que ganhou a Libertadores, Brasileirões, mas não cheguei a ver. Eu amo a paixão dos brasileiros pelo futebol — completou Gut.
O polonês contou que em seus primeiros meses no Brasil, ele ainda acompanhava mais o Barcelona, fazia questão de ver todos os jogos e ainda não tinha uma relação tão forte com o Cruzeiro, mas que isso mudou.
— Estou cansado do futebol europeu, não cansado a ponto de não assistir nada. O nível do futebol europeu é melhor que o do Brasil, mas notei que o futebol brasileiro é o puro futebol, não é tão comercial, apesar de ainda ser, é diferenciado. E eu amo a paixão do brasileiro pelo futebol. Tenho muitos amigos atleticanos, muito cruzeirenses, e isso é muito forte. Nas semanas de clássicos eu fico louco também. E em 2023 e 2024 eu assisti muitos, muitos jogos do Cruzeiro. Esse ano eu assisti mais jogos do Cruzeiro do que do Tottenham, Barcelona ou do meus times poloneses — revelou Bart.
Amor pelo futebol brasileiro
Mas para além do Cruzeiro, Bart, como dito, é um grande amante do futebol brasileiro como um todo. Não só do talento dos atletas, como no ambiente dos estádios e da forma como o povo trata o esporte. Algo que faz parte da vida das pessoas e as toca internamente.
— O Brasil produz, em média, jogadores de um nível melhor que os da Europa. Futebol aqui é muito diferenciado. Na Europa é muito físico, muitos jogadores fortes. No Brasil também tem, como o Hulk, é um monstro, mas aqui eu notei que se o jogador não é bom tecnicamente é difícil fazer uma carreira. Esse é o primeiro teste, ser bom com bola. A liga polonesa é muito diferente. Eu assisti muitos jogos na Europa, em Inglaterra e Espanha, e os jogadores brasileiros, como Vinícius Jr são rápidos, fortes, mas muito tecnicamente bons com bola — analisou.
Bart contou que o futebol brasileiro e o polonês são bem diferentes, visto que os jogadores do Brasil possuem grande diferencial técnico. Ele afirmou, ainda, que o clima nos estádios também é outro. Segundo ele, as torcidas polonesas cantam muito, mas geralmente ofendendo os rivais, enquanto por aqui os cânticos têm maior viés de apoio aos clubes.
— Na Polônia, o nível da comunicação sobre futebol não é tão forte. A gente consome no dia do jogo, no outro dia, mas aqui no Brasil tudo na cidade é sempre voltado ao futebol, todos os dias. Na TV, nas bancas de jornais, ainda que sejam dias sem jogos. A temática de futebol está sempre presente. No cafezinho, na praça, se eu vou correr com a camisa do Cruzeiro, alguém fala “último jogo fraco demais, Matheus Pereira craque”. Em toda oportunidade falam sobre futebol. Na Polônia isso não é comum — contou o professor de inglês.
Ele se disse impressionado com a importância do futebol para o brasileiro. Que na Inglaterra viu situação parecida, mas que ainda não se compara.
Bart contou que o futebol brasileiro não é muito repercutido na Polônia, exceto quando se trata de grandes promessas ou craques já consolidados. Ainda assim, ele afirmou conhecer alguns times, além do Cruzeiro, antes mesmo de ver sua ligação com o Brasil crescer.
— Conhecia, claro, Flamengo, Vasco e Corinthians, por causa do Mundial de Clubes de 2000. Eu já conhecia os clubes grandes, mas não me aprofundava no assunto. Conhecia muito pelos grandes jogadores, que são os melhores do mundo. Também quando estes jogadores voltavam para o Brasileirão, como Lucas, do Tottenham para o São Paulo.
Um polonês no Cruzeiro?

Bart revelou, ainda, que gostaria de ver um jogador polonês atuando pelo Cruzeiro. “Lewandowski”, brincou ele. Mas completou logo que seria algo bem improvável, pelo salário e idade do jogador. Em seguida, apontou uma opção mais plausível, para ele, Piotr Zieliński, que fez grandes temporadas no Napoli e que está a caminho da Inter de Milão. Segundo Gut, o meia se assemelha a Matheus Pereira e seria um bom acréscimo daqui a alguns anos.
O polonês ainda destacou que o país natal costuma formar ótimos goleiros e que existem boas opções, inclusive, na opinião deles, melhores que Cássio, que deixou o Corinthians e se aproxima de ser anunciado pela Raposa. Em mais de um momento, Bart se mostrou incomodado com a situação e, tal qual um brasileiro, “cornetou” a chegada do goleiro ao Cruzeiro. Segundo ele, o ídolo do Timão já passou do seu auge e o clube celeste podia buscar um melhor nome no mercado.
— Agora Pedrinho chegou e eles têm a oportunidade de refazer o time. Eu entendo que é um ídolo, experiente, nome, mas, para mim, a estratégia é fraca. Tivemos Rafael Cabral, muito experiente também. Otávio é muito jovem ainda, não está preparado, mas tem a possibilidade de um bom futuro. Para mim, a chegada de Cássio fecha a posição por mais três anos. Nada contra Cássio, pessoalmente, mas não gosto. Os melhores anos de Cássio foram antes — opinou Bart, antes de elogiar Gabriel Grando, que chegou ao Cruzeiro recentemente.
Declarações ao Brasil
Ao final do papo, fizemos uma curta caminhada e Bart Gut voltou a se declarar ao Brasil e ao povo brasileiro. Ele e sua noiva ainda pensam em voltar para a Europa, mas Minas Gerais e Belo Horizonte conquistaram seu coração.
Bart se mostra feliz por hoje ter redefinido conceitos sobre o país, agindo como uma ferramenta de quebrar estereótipos e seus posts em polonês mostram isso. Belo Horizonte entrega seu melhor a Bart, o povo local, uma família, um grande clube para torcer. E ele devolve na mesma moeda, com muito carinho e respeito para com a cidade, com o povo, com seus símbolos. E hoje ele entende muito bem porque em um “formoso céu risonho e límpido, a imagem do Cruzeiro resplandece”.
