Por que esse atacante inglês tem um impacto tão grande na cultura do Brasil?
Em fevereiro desse ano, Estrela do Norte* e Rio Branco de Venda Nova empataram em 0 a 0 pela oitava rodada do Campeonato Capixaba – e pouca gente percebeu que estava presenciando um momento histórico.
É óbvio que estou exagerando. Mas, juro, há um bom motivo pra falar dessa partida (em que quase nada aconteceu) tantos meses depois.
Aos 19 minutos do segundo tempo, a substituição que capturou minha atenção e me colocou numa jornada esquisita: sai o camisa 8, Linnick; entra o camisa 15, Liniker.
É fácil deduzir que ambos os jogadores do Estrela do Norte ganharam seus nomes em homenagem à mesma pessoa: Gary Lineker, atacante inglês que fez muito sucesso nas décadas de 80 e 90.
O sucesso de Gary Lineker
O ídolo do futebol inglês foi artilheiro da Copa de 86, jogou no Barcelona e aparecia frequentemente nos jornais brasileiros como uma das grandes estrelas do futebol europeu. Hoje, aos 64 anos, é um comentarista importante da TV britânica.
(Convém lembrar, também, que até onde sabemos, Lineker carrega o mérito de ser o único jogador a defecar em campo numa Copa do Mundo. O incidente aconteceu na estreia inglesa no Mundial de 1990, na partida contra a Irlanda. As imagens desse jogo mostram que algo aconteceu para que ele se mantivesse caído por muito tempo, mas a natureza escatológica do fato só veio a público muitos anos depois).
Linekermania na MPB
Essa substituição pouco eficiente – o jogo terminou empatado em 0 a 0 – ficou comigo porque ressoou com um tema que já me chamava atenção: o fenômeno da Linekermania, que assolou os cartórios brasileiros nas décadas passadas.
De acordo com os dados disponíveis no site do IBGE do Censo de 2000, 2.037 pessoas foram registradas no Brasil com o nome de Lineker e todas as variantes que a minha criatividade foi capaz de alcançar (coloco todas elas no fim desse texto).
Não é muita gente, reconheço, mas é o suficiente para permitir situações curiosas – como essa substituição, mas não só ela.
Uma postagem de 2016 do colunista Mauro Ferreira na seção de música do site do G1 captura uma coincidência semelhante. O título é “Lineker e Liniker têm nomes quase idênticos, mas são artistas distintos.”
Fala da dificuldade de dois artistas brasileiros, despontando ao mesmo tempo no cenário da MPB, de se diferenciarem por causa dos seus nomes parecidos. Lineker é mineiro, e Liniker, paulista.
O texto coloca Liniker com pronomes masculinos porque foi escrito antes que ela falasse publicamente sobre sua transição de gênero. Seu álbum de 2024, CAJU, foi um dos lançamentos mais celebrados do ano.
Os shows da turnê se esgotaram em minutos – eu sei porque lutei muito para conseguir comprar ingressos. A assessoria confirmou à coluna que a origem do nome é mesmo o atacante inglês.
O Lineker mineiro continua sua carreira musical, mas em 2017, trocou seu nome artístico e agora atende por Yantó.
Lineker e as lembranças tristes do Brasil
É curioso que Gary Lineker tenha deixado uma marca tão grande na cena cultural do Brasil, considerando que ele, talvez, guarde uma lembrança amarga de nós.
Em 1992, às vésperas da Euro 1992, Brasil e Inglaterra se enfrentaram em um amistoso no Estádio de Wembley. A grande expectativa era de que Lineker marcasse pelo menos um gol e se igualasse a Bobby Charlton como o maior artilheiro da história do English Team.
O jogo terminou 1-1, com gols de Bebeto e David Platt. Lineker teve a chance de entrar para a história em uma cobrança de pênalti, mas optou por uma cavadinha facilmente defendida pelo goleiro Carlos.
Depois dessa partida, a Inglaterra fez uma campanha ruim na Eurocopa e terminou na lanterna do grupo com apenas 1 gol marcado em 3 jogos. Lineker pendurou as chuteiras após a competição e nunca mais marcou um gol pela Seleção Inglesa.
Seguem as grafias utilizadas na pesquisa: Lineker, Liniker, Linyker, Lyniker, Linik, Linneker, Linniker, Linick, Linecker e Linicker. Nem ideia se repeti algum, estou totalmente confuso.
*Nota do editor: aconteceu aqui outro momento histórico, um provável ineditismo, que fugiu ao autor. Uma espécie de metalinguagem. Essa possivelmente foi a primeira vez em que o clube Estrela do Norte foi citado no site da Trivela. Acontece que, desde o início de 2023, como indicado em nossa página “Quem Somos?“, a Trivela pertence à North Star Network, uma companhia francesa (apesar do nome em inglês).
North Star, em português, significa Estrela do Norte.