Brasil

Reforma de estádio e presidência com tiros: A relação de Fernando Collor com o futebol

Preso nesta sexta-feira (25), ex-presidente teve passagem de altos e baixos no comando do CSA

Em agosto de 1988, a seleção brasileira se preparava para disputar as Olimpíadas de Seul com expectativa. O time de Carlos Alberto Silva tinha grande potencial e nomes como Taffarel, Jorginho e Geovani municiando um ataque formado pelos jovens Bebeto e Romário.

Antes de pegar um avião rumo aos Estados Unidos, onde ia disputar um rápido torneio preparatório, o Brasil fez um pit stop em Maceió para um amistoso diferente: um duelo com uma seleção de Alagoas, formada majoritariamente por jogadores do interior do Estado. Sem dificuldades, a Seleção venceu por 6 a 1 com 4 gols e baile de Romário.

“A seleção brasileira participou, ontem, em Maceió, de um jogo de futebol. Participou, sobretudo, de um jogo político. Jogo sujo, jogo válido, jogo de interesse, jogo de astúcia – pouco importa como adjetivem. Esse jogo faz parte do jogo. De vez em quando, permito-me brincar aqui, dizendo e repetindo aos meus leitores que futebol também é cultura”, escreveu em sua coluna o jornalista Claudio Mello e Souza, do Jornal o Globo, sugerindo que o amistoso fazia parte da campanha à eleição para a presidência da CBF, que terminou com a eleição de Ricardo Teixeira.

Não era a única eleição que estava por vir. O governador de Alagoas e candidato à presidência da República, Fernando Collor de Mello, também tentou tirar uma casquinha da Seleção. De acordo com a “Revista Placar”, “liberou 4 milhões de cruzados para uma rápida arrumação do (estádio) Rei Pelé, mas acabou vaiado pelo público antes da partida.” Pouco tempo depois, acabou eleito presidente da República.

Collor no CSA: uma presidência turbulenta

Em 1973, Fernando Collor de Mello chamou atenção nacional ao ser eleito o presidente de clube mais jovem do Brasil, aos 24 anos. Ao assumir o CSA, clube historicamente ligado a políticos de Alagoas, gerou curiosidade ao dizer que “não ia usar o clube para fazer política, mesmo sendo filho de políticos”.

Foi uma presidência de altos e baixos: Collor levou Garrincha para disputar um amistoso pelo CSA contra o ASA, em 1973; conquistou o Campeonato Alagoano; e classificou a equipe para o inchado Campeonato Brasileiro de 1974, o primeiro da história do Azulão. Por outro lado, viu seu time terminar na última posição o certame nacional (40ª) e renunciou logo depois no meio de uma confusão enorme.

— Esta semana não foi boa para o CSA. Um dia depois dos tiros de Jaiminho, tentando atingir os goleiros Zé Galego e Dida, o jogador Isauro quase ia às tapas com o gaúcho Ênio no treino de ontem. Para a surpresa de todos, o presidente do clube, Fernando Collor de Melo, renunciou ao seu mandato depois de cumprir um ano e meio, faltando, portanto, seis meses para o término — escreveu o Diário de Pernambuco em 3 de agosto de 1974.

É um trecho e tanto. O episódio dos tiros repercutiu nacionalmente e virou parte do anedotário do futebol alagoano. A história foi contada pela Revista Placar em tom bem-humorado:

— Na segunda-feira da semana passada, ele (Jaiminho) realmente tentou assassinar dois companheiros de equipe. Tudo aconteceu dentro da própria concentração do CSA. Depois de uma áspera discussão com os goleiros Dida e Zé Galego, Jaiminho retirou-se para o seu quarto […] Minutos depois, ele voltou, surpreendentemente, empunhando um revólver e mandou bala nos dois que se julgavam seus amigos. A sorte de Dida e Zé Galego […] é que Jaiminho manja muito mais de bola do que de bala.

Oficialmente, a renúncia de Collor se deu, surpreendentemente, por razões políticas: sua mãe, Leda Collor de Melo, ia se candidatar a deputada e havia preocupação com um possível conflito de interesses. O Diário de Pernambuco, no entanto, relaciona a saída do jovem presidente às confusões internas do CSA:

Sabe-se, porém, extraoficialmente, que outros motivos concorreram para esta decisão, principalmente os últimos fatos relacionados com o elenco, como os tiros de Jaiminho em dois companheiros.

Foto de Andrey Raychtock

Andrey RaychtockColaborador

Colunista da Trivela. Mais angustiado que um goleiro na hora do gol. Jornalista com passagens por Globo, Esporte Interativo (atual TNT Sports) e Cazé TV. Percorrendo os becos e vielas do futebol alternativo e dividindo o que encontrei.
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