Brasil

Casos de LGBTfobia caem em 2023, mas números envolvendo agentes do futebol brasileiro ainda é alto

Os casos de LGBTfobia registraram uma diminuição de 7% em 2023, mas ainda existe um longo caminho para deixar o preconceito longe do futebol

O esporte é um retrato da sociedade civil. Por conta disso, cenas de preconceito acabam, infelizmente, se tornando comuns em meio ao futebol. Um relatório do Observatório da LGBTfobia no Futebol do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+ mostrou que os episódios de discriminação caíram em 2023, mas os números ainda são altos e ligam um alerta no Brasil.

No ano passado, pelo menos 69 episódios de LGBTfobia foram identificados e documentados. Em 2022, foram 74 casos de discriminação no âmbito esportivo. Ou seja, houve uma diminuição de 7% em relação em 2023. Mesmo assim, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para deixar o preconceito longe do futebol. O trabalho do Observatório já é um exemplo de como é necessário para juntar dados.

Os casos de LGBTfobia são uma prova concreta do que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta dentro dos estádios, pois, historicamente, os preconceitos (incluindo racismo e machismo) foram normalizados dentro do futebol. Os 69 incidentes de 2023 expõem a necessidade urgente de conscientização e educação referente à discriminação. O esporte deve ser inclusivo, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero das pessoas.

Alguns dos casos de LGBTfobia no futebol em 2023

Segundo levantamento do Observatório da LGBTfobia no Futebol do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, veja alguns dos casos de LGBTfobia no futebol em 2023

Casal de torcedores do Remo é alvo de homofobia

Hércules Cássio e o namorado realizaram um ensaio fotográfico com camisa do Remo e foram vítimas de homofobia nas redes sociais. As fotos do casal foram compartilhadas com comentários esbanjando LGBTfobia. Em entrevista ao ge, Hércules revelou como os ataques o abalaram psicologicamente, deixando claro que o futebol deveria ser inclusivo:

“Quando eu vi, fiquei muito triste, mexeu com meu psicológico. Não tem como não ligarmos. Têm comentários bons, mas têm uns que são muito fortes. Eles ficaram brincando com a nossa imagem só por que estávamos com a camisa do Remo. Nós somos torcedores”.

Atacante do Santa Cruz chama Náutico de “Barbie” antes de clássico

Hugo Cabral, do Santa Cruz, chamou o Náutico de “Barbie” de um clássico. A declaração foi feita em entrevista ao repórter João Victor Amorim, da Rádio Jornal, após um empate por 1 x 1, no Arruda, pelo Campeonato Pernambucano. Posteriormente, o atacante chegou até a se desculpar em coletiva, mas tratou o episódio de LGBTfobia como “normal”:

“Hoje não foi um bom dia para mim, mas a Barbie vai pagar no domingo”.

Marcos Braz usa termos homofóbicos em entrevista no Flamengo

Antes de contratar o volante Allan, Marcos Braz usou termos homofóbicos para responder às perguntas sobre o assédio ao volante ex-Atlético-MG. Irritado com as acusações sobre a postura do Rubro-Negro nas tratativas pelo jogador, o dirigente ironizou a situação com declarações repletas de LGBTfobia:

“Assédio… Toda vez é esse enredo, não é só do Atlético, não. Acaba que vão achar que eu sou viado. Assédio, assédio, assédio…”.

Gritos homofóbicos da torcida do Corinthians interrompem Majestoso

Durante clássico Majestoso na Neo Química Arena, a torcida do Corinthians entoou gritos homofóbicos contra o São Paulo, tais como “dessas bichas teremos que ganhar” e “vai pra cima delas Timão, da bicharada”. O árbitro Bruno Arleu de Araújo foi obrigado a paralisar o jogo no início do 2º tempo, quando o sistema de som do estádio pediu para os torcedores pararem com as manifestações de LGBTfobia por conta do risco de punição.

Emerson Sheik reclama de punição ao Corinthians por LGBTfobia

Após o Corinthians x São Paulo citado anteriormente, o Timão foi condenado pelo Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a disputar uma partida com os portões fechados como punição pelo caso de LGBTfobia. Contudo, durante o podcast “Pod Pai Pod Filho”, de Téo José, Emerson Sheik reclamou da medida, alegando que estavam “tirando um pouco a cultura” dos estádios:

“O torcedor corintiano vai ser punido agora, o torcedor vai cantar de novo. Não vai mudar. Quando ele estiver bravo, ali não é amor, é paixão. O cara vai estar puto pra caramba, vai estar perdendo para o São Paulo, ele vai estar lá fazendo as brincadeiras que já existem há muitos anos. E não são todos que são homofóbicos”.

Morotó Pereira diz que Marta e sua namorada iriam “queimar no inferno”

O atacante Morotó Pereira, ex-Rio Branco, disparou ataques homofóbicos contra a jogadora Marta e sua namorada, Carrie Lawrence. Em publicação em suas redes sociais, o atleta usou da religião para destilar LGBTfobia contra uma das maiores jogadoras de futebol de todos os tempos:

“É uma pena que elas vão queimar no fogo do inferno será que elas conhece a palavra de Deus eu sinto muito em dizer isso mas todas elas vão pro fogo do inferno eu sinto muito mas isso não é palavras minhas palavras do Senhor palavras do todo poderoso elas todas vai pro inferno”.

Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
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