Testemunha confirma importunação sexual de Falcão contra recepcionista, afirma advogada
Polícia apreendeu equipamento que armazena imagens das câmeras do condomínio onde morava Falcão para perícia profunda
Dois meses após a denúncia de importunação sexual que teria sido praticada pelo ex-jogador Paulo Roberto Falcão contra uma recepcionista de 26 anos, em um condomínio em Santos, o caso segue sob investigação. E, em entrevista à Trivela, Pâmela Mendes, advogada da mulher, revela que o faxineiro do imóvel em que o crime ocorreu confirmou à Polícia Civil que viu a colega de trabalho ser importunada pelo ex-coordenador de esportes do Santos.
O avanço das apurações permanece à espera do laudo do Instituto de Criminalística (IC) do Estado de São Paulo, que ainda analisa as imagens das câmeras de monitoramento do condomínio em que Falcão morava e a recepcionista trabalhava, no bairro da Aparecida.
Responsável por comandar as investigações, a delegada Mariana Máximo Ramos, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos, ouviu testemunhas e fez a apreensão do aparelho que arquivava as imagens de monitoramento do prédio para uma perícia mais detalhada do caso.
– Ao longo desses dois meses de investigações, a delegada solicitou a apreensão do aparelho que concentra as imagens de segurança do condomínio para uma perícia mais profunda. Ela entendeu que isso foi necessário porque as imagens apresentadas inicialmente tinham alguns cortes entre algumas cenas contínuas. Esse aparelho está no IC e estamos aguardando a perícia – conta Pâmela, que defende a recepcionista ao lado do advogado Pedro Grobman.
– Junto a isso, o faxineiro do condomínio também foi chamado para prestar depoimento e confirmou que viu a colega ser importunada sexualmente por Falcão – acrescenta a advogada.
Gerentes estavam cientes das queixas
Assim como o faxineiro, dois gerentes do imóvel foram intimados pela delegada responsável pelo caso e revelaram que a recepcionista já havia reclamado do comportamento de Falcão para eles.
– Ela (a recepcionista) foi importunada em duas ocasiões. Entre esses dois episódios houve uma mudança na gerência do condomínio. Apesar da mudança, fez questão de avisar aos dois gerentes o que tinha acontecido, e ambos confirmaram para a delegada que sabiam das queixas da funcionária – fala Pâmela.
Falcão contrata perito particular
Diante da apreensão do aparelho que armazenava as imagens das câmeras de monitoramento, Falcão, por meio da sua advogada, contratou um perito particular com o intuito de fazer a perícia junto com o IC. Segundo a advogada da recepcionista, a Justiça não concedeu esse direito ao ex-jogador.
– O juiz não permitiu isso e informou que o perito particular pode fazer um laudo à parte e enviar como um relatório da defesa. Mas participar da perícia junto com o IC era algo inviável – disse Pâmela.
Falcão não procurou a recepcionista
Fora do Santos desde que a denúncia de importunação sexual veio à tona, Falcão tem aproveitado um período de férias com a mulher na Itália. Os dias em família podem ser vistos nas redes sociais da companheira do ex-jogador, que é um dos maiores atletas da história da Roma, clube da capital italiana.
Ao longo de todo esse período, Falcão ou seus representantes jurídicos nunca entraram em contato com a recepcionista, ou seus advogados para dar qualquer tipo de explicação.
Recepcionista está desempregada
Contratada para trabalhar na recepção do condomínio por meio de uma empresa terceirizada, a mulher se encontra desempregada no momento.
– A verdade é que a empresa não ofereceu auxílio para a [suposta vítima]. No início falaram que ela seria transferida para um outro posto, mas após o marido dela conceder uma entrevista a empresa ofereceu 30 dias de férias. O ideal era o afastamento, porque foi causado um transtorno psicológico nela. Depois desse ocorrido, entramos com o pedido de rescisão indireta e antes da conclusão das férias houve desligamento. Atualmente temos uma ação contra a empresa em andamento e acreditamos que terá um acordo -, detalha Pâmela.
Esclarecimentos às autoridades
Procurada pela reportagem, a advogada de Falcão, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que, “em respeito às investigações, conduzidas em procedimento sigiloso, todos os esclarecimentos estão sendo prestados às autoridades em total colaboração, e a defesa reafirma a confiança de que a investigação concluirá pela inexistência de crime”.
Tudo ocorreu no início de agosto
No termo de declaração à polícia, obtido com exclusividade pela Trivela, a recepcionista explica que os casos de insubordinação sexual por parte de Falcão ocorreram em dois dias do início de agosto.
No dia 2, Falcão, de acordo com o relato da funcionária do condomínio, “se dirigiu ao espaço reservado para o monitoramento e, disse apontando para a câmera de segurança: ‘Não sabia que aqui tinha câmera de segurança’ sendo que enquanto o autor falava, ele imediatamente roçou o pênis no braço esquerdo dela, que esquivou-se”.
Apesar de “constrangida”, a recepcionista optou por não tomar nenhuma atitude neste dia.
No dia 4, ainda segundo o relato da recepcionista à polícia, a importunação se repetiu. Falcão “foi até a recepção e ingressou novamente no espaço reservado para monitoramento, posto de trabalho da ofendida, onde é permitida apenas a presença de funcionários da recepção. Ali, apontou para a câmera que exibia uma imagem e disse: ‘nossa, que imagem bonita’, e mais uma vez comprimiu o pênis no braço da vítima, dessa vez de forma mais contundente, e ela tornou a esquivar-se”, consta no relato.
Após a publicação da matéria com os detalhes da denúncia, Falcão, por meio de uma publicação no seu perfil no Instagram, negou a importunação sexual, mas informou que estava deixando o cargo no Santos.
Ver esta publicação no Instagram
– Em respeito à torcida do Santos Futebol Clube, pelos recentes protestos diante do desempenho do time em campo, decidi deixar o cargo de coordenador esportivo nesta data. Meu sentimento, em primeiro lugar, é defender a imagem da instituição. Sobre a acusação feita nesta sexta-feira, que recebi com surpresa pela mídia, afirmo que não aconteceu -, escreveu o ex-dirigente do Peixe.
De um a cinco anos de cadeia
Conforme o Artigo 215-A do Código Penal, praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro, prevê como pena a reclusão, de um a cinco anos, se o ato não constituir crime mais grave.