RB Bragantino estar bem no Brasileiro não é acaso e não deve parar em 2023
RB Bragantino tem projeto que começa a ficar bem estabelecido com ideologias e investimento; Trivela explica o que mudou em Bragança
A atual temporada do RB Bragantino pode não ter sido a mais brilhante, porém demonstrou a capacidade do clube de se reinventar, e se manter competitivo dentro do difícil cenário brasileiro. Eliminado ainda na 1ª fase da Copa do Brasil para o Ypiranga, do Rio Grande do Sul, o Massa Bruta seguiu em frente, e até foi bem no Campeonato Paulista, ainda no 1º semestre, quando a equipe chegou entre os quatro melhores da competição, sendo eliminado pelo Água Santa, que seria o vice-campeão da edição deste ano.
O RB Bragantino foi relativamente longe também na Copa Sul-Americana, sendo eliminado nos pênaltis pelo América-MG, nas oitavas de final. Mas o grande destaque do Massa Bruta em 2023 é a disputa do Campeonato Brasileiro. Se nas copas o time do técnico Pedro Caixinha não teve lá muita sorte, no Brasileirão a história é bem diferente. Atualmente, o time de Bragança Paulista é o vice-líder da competição, com 46 pontos, a nove do líder Botafogo, que tem 55.
Além disso, a equipe do interior paulista vem de uma sequência de cinco jogos sem derrotas, e é o time que menos perdeu dentro da Série A, com apenas quatro derrotas em 26 jogos disputados. Desde a implementação da SAF, em 2019, o Toro Loko vem se destacando por sua organização, incrível capacidade de revelar bons jogadores e de se manter fiel à sua identidade de jogo, focado no aspecto ofensivo, intenso, e de muita mobilidade em campo.
RB Bragantino quebra barreiras culturais para implementar filosofia vencedora
Nos últimos quatro anos, apenas três treinadores passaram pelo comando técnico do RB Bragantino, mostrando que a continuidade do trabalho é o caminho mais certo para o sucesso dentro do futebol. Antônio Carlos Zago deu início ao projeto, conquistando a Série B em 2019. Nos dois anos seguintes, coube a Maurício Barbieri dar andamento ao trabalho, tendo conquistados feitos inéditos, como o vice-campeonato da Copa Sul-Americana em 2021, e a vaga inédita para a Libertadores de 2022.
Com a saída de Barbieri, coube ao português, Pedro Caixinha, continuar o legado deixado por seus antecessores, e manter a mentalidade ofensiva e vencedora do time de Bragança Paulista. Apesar do início de ano complicado, com eliminações na Copa do Brasil, e no Campeonato Paulista, o RB Bragantino recuperou-se, e aos poucos, foi conquistando espaço dentro do Campeonato Brasileiro.
Neste segundo turno, o Massa Bruta faz a segunda melhor campanha entre todos os 20 clubes da Série A. São 14 pontos conquistados em sete jogos, com quatro vitórias, dois empates e somente uma derrota. O retrospecto só não é melhor do que o do Fortaleza, de Juan Pablo Vojvoda, que somou 16 pontos neste returno. Apesar do investimento feito pelo grupo Red Bull, o Bragantino demonstrou imensa capacidade para se moldar ao modelo implementado pela empresa austríaca, e conseguiu aliar o processo rígido europeu, a uma filosofia de jogo, e de preparação extremamente brasileira.
Profissionalização e mudança de ideologia transformaram o RB Bragantino
Para explicar melhor os motivos do sucesso do Massa Bruta desde a sua aquisição, a Trivela conversou com exclusividade com Sandro Orlandelli, que foi diretor-técnico do clube entre 2020 e 2022, e foi um dos principais responsáveis por toda a montagem de estrutura vencedora do RB Bragantino nos últimos anos. Orlandelli tem sólida experiência na função, e acumula experiências em clubes de peso do futebol europeu, como Manchester United e Arsenal.
Um dos trabalhos mais impactantes da carreira de Sandro Orlandelli foi no Arsenal. Na função de Head Coach, o profissional ajudou a formar grandes nomes do futebol mundial, como Fábregas, Adebayor e Van Persie, e ao lado de Arséne Wenger, conquistou a Premier League de forma invicta, na temporada 2003-2004. Para Orlandelli, o principal desafio enfrentado pelo profissional para mudar o patamar do Massa Bruta no cenário nacional foi a adaptação à filosofia europeia, ao estilo brasileiro de se jogar futebol
“O principal desafio foi criar, construir uma adaptabilidade de cultura, de uma filosofia que vinha da Red Bull, que é mais sedimentada, para a realidade brasileira, latina, com outro nível de visão, e de um clima mais tropical. Conseguimos trazer esta adaptabilidade por meio da construção da filosofia de jogo do europeu, baseado na ideia de jogo do Brasil, baseado na capacidade, e na relação ímpar do jogador brasileiro com a bola”, disse Orlandelli.
O ex-diretor-técnico do RB Bragantino ainda afirmou que uma das principais diferenças no método de trabalho europeu em relação ao brasileiro é a maneira como o atleta trabalha de forma individualizada nos times do Velho Continente. Apesar da metodologia de treinos do Brasil ser similar ao que é aplicado na Europa, o trabalho feito com cada atleta é um ponto a ser repensado, e que já é aplicado no time de Bragança Paulista, com o objetivo de potencializar o desempenho de cada jogador em campo.
Existem várias ramificações nos métodos de treinamento. Em relação ao coletivo, cada clube tem a sua própria característica na forma como desenvolve seus jogadores, agora, o método de treinamento individualizado é um processo que na minha opinião, deve ser repensado, comparando o que é feito lá, e nós conseguimos colocar isso em prática, o que nos dá a segurança em saber que teremos sucesso nesta forma de trabalho, afirmou.
SAF não é o único caminho para o sucesso no futebol, segundo Orlandelli
Para Sandro, o clube deve analisar de forma clara qual a sua realidade, e o que deseja dentro do cenário competitivo. Os times de orçamento mais baixo, apesar de não terem tanta capacidade para investimento, podem criar um ambiente positivo de trabalho, e desenvolver grandes talentos, mesmo sem grandes contratações.
Neste sentido o lado humano é muito mais importante para criar uma equipe forte, e desta forma conseguir de forma gradual, conquistar mais espaço dentro do futebol, e mais capacidade financeira em um prazo mais longo. Todavia, tudo depende de um bom ambiente dentro do clube, para que o coletivo seja fortalecido, e a individualidade de cada atleta seja potencializada.
No Brasil, vários clubes considerados pequenos surpreenderam no cenário nacional, principalmente no início dos anos 2000, utilizando deste método de coletividade e bom ambiente em campo. Três exemplos marcantes foram o Brasiliense, que em 2002 chegou a final da Copa do Brasil, eliminando o Atlético-MG na semifinal, em 2004 o Santo André sendo campeão da competição em cima do Flamengo, em pleno Maracanã, nestes dois casos o técnico era Péricles Chamusca, e em 2005, quando o modesto Paulista de Jundiaí treinado por Vágner Mancini também foi campeão do torneio sobre o Fluminense.
A questão é o clube ter claro o que ele quer e a sua realidade. Se o clube tem um orçamento baixo, você pode ter jogadores que embora não estejam em uma primeira prateleira técnica, podem ser bem desenvolvidos, e isso te faz competitivo. É necessário aliar isso a um ambiente positivo, no qual você possa extrair o máximo do potencial do atleta, não só do lado esportivo, mas principalmente do humano, disse Sandro.
RB Bragantino poderá conquistar títulos em prazo menor do que o estipulado no início do projeto
Orlandelli revelou que todo o projeto de futebol do RB Bragantino foi pensado e estruturado para conquistar títulos e reconhecimento dentro do cenário brasileiro em dez anos. Entretanto, tendo em vista o atual desempenho do time no Campeonato Brasileiro, e a competitividade do clube nos mais diversos torneios que disputa, a equipe poderá ultrapassar este degrau em um prazo menor do que o definido anteriormente.
O Massa Bruta bateu na trave em 2021, quando foi vice-campeão da Copa Sul-Americana, ao perder a final da competição por 1 x 0 para o Athletico Paranaense, e em 2023, quase foi finalista do Campeonato Paulista, ficando pelo caminho na semifinal. O trabalho sério desenvolvido pelo clube de Bragança Paulista supera e muito o desenvolvido na maioria dos times grandes da Série A, o que demonstra uma nova realidade do futebol brasileiro, na qual os clubes terão de se estruturar e se preparar cada vez mais para potencializar seus recursos humanos, e estudar todo e qualquer investimento feito no elenco.
É necessário antes de tudo estudar, planejar e investir somente na certeza de que determinada peça pode fazer a diferença dentro do elenco. No caso no qual o clube não tenha esta capacidade, a utilização correta das categorias de base, não só para formar jogadores a fim de vender e acumular capital, mas para reforçar o time principal, é outra estratégia importante a ser adotada, e pode mudar a capacidade de competir de um clube neste competitivo e difícil cenário brasileiro.