Maurício Noriega: Palmeiras e Botafogo protagonizaram jogo épico que só futebol pode proporcionar
Duelo de líderes entre Botafogo e Palmeiras merece ser lembrado e reverenciado sem que a arbitragem seja tema central
Há jogos e jogos. Este Botafogo 3 x 4 Palmeiras foi um jogo para a história. Épico. Daqueles que explicam a magia desse esporte. Um massacre de um time na primeira etapa: o Botafogo. O ainda líder do Brasileirão subjugou o atual campeão nacional de forma sufocante, intensa e com velocidade alucinante. Fechou a etapa inicial com um 3 a 0 que saiu barato, pois jogou para fazer pelo menos 5 a 0.
O Palmeiras foi atordoado para o vestiário, mas voltou mostrando porque é o Palmeiras mais vitorioso de uma história vitoriosa. Fez com o Botafogo o que o Botafogo tinha feito com ele -e mais. Ao ponto de virar um jogo perdido para 4 a 3, com chances de 5 a 3. Foi uma imposição de força física, técnica e mental, com o estilo de um time que usa como nenhum outro os lados do campo no futebol brasileiro.
As polêmicas envolvendo a péssima arbitragem brasileira não podem ficar acima do espetáculo. Porque o que se viu no Nilton Santos foi daquelas noites que cativam fãs, que conquistam novos consumidores.
A carga emocional que envolve o futebol brasileiro é incomparável. Cobrança, pressão, ameaças, calendário, distâncias, diferenças de temperatura. A disputa do Campeonato Brasileiro não encontra paralelo nas grandes ligas do mundo. Também por isso acontecem partidas memoráveis, porque o equilíbrio emocional é tênue.
Um time senhor do jogo em 45 minutos desmorona nos 45 minutos seguintes. Ainda vencendo por 3 a 1, o Botafogo teve um pênalti a seu favor, mesmo com um atleta a menos, e desperdiçou a chance do 4 a 1 que provavelmente seria definitivo. Faltou ao Botafogo a casca de campeão que o Palmeiras construiu e sustenta desde 2015. A força mental do Alviverde é imponente. Uma virada construída dessa forma tem como base um grupo de pessoas que está acostumado a vencer e sabe perder jogos para vencer competições.
Sobre a arbitragem escreverei pouco. Porque ela é tão menor do que este grande jogo que não merece. Acho que Adryelson não deveria ter sido expulso pelo VAR. A decisão do campo deveria prevalecer. Para mim, não houve pênalti de Rony em Tiquinho Soares.
O Palmeiras alugou um latifúndio na cabeça do Botafogo. Mas o Glorioso segue sendo o único time que depende se seu próprio futebol para ser campeão. Precisará agora negociar com seus medos e confianças, porque escancarou isso em 90 minutos. Jogou como campeão na primeira etapa e no segundo tempo deu pinta de que pode deixar a taça escapar. O Palmeiras é aquele piloto que nas últimas voltas da corrida está tirando tempo e surge nos retrovisores do líder, vagando de lado a lado. Joga pressão para aguardar os erros do carro à frente, pronto para dar o bote. Grêmio, Bragantino, Flamengo e Atlético esperam que algum retardatário segure os que puxam a fila.