Brasileirão Série A

Botafogo institucionaliza o ‘contra tudo e contra todos’, enquanto time se perde em campo

Diretoria do Botafogo adotou a ideia do "contra tudo e contra todos", enquanto o time patina no Campeonato Brasileiro e vê adversário se aproximar

O Botafogo teve uma noite para esquecer nesta quarta-feira (1º), no Nilton Santos. Dentro e fora de campo. Enquanto a diretoria institucionalizou a famigerada e batida expressão “contra tudo e contra todos”, reforçando o discurso da torcida de que há uma suposta conspiração contra o clube no Campeonato Brasileiro, o time de Lúcio Flávio levou uma histórica virada por 4 a 3 para o Palmeiras, depois de abrir 3 a 0, e viu a sua vantagem na liderança da competição ser mais ameaçada do que nunca. Perdido em campo, o Botafogo parece já procurar culpados para um possível fracasso no Brasileirão.

Antes mesmo da bola rolar, o Botafogo já adotava o discurso de “contra tudo e contra todos”. A expressão virou mantra da torcida nas últimas semanas e ganhou ainda mais repercussão após as polêmicas envolvendo o adiamento da partida contra o Fortaleza, que deveria ter ocorrido no último dia 24 de outubro, quando o Botafogo se sentiu prejudicado com a decisão da CBF.

No mesmo dia em que a CBF confirmou a decisão de adiar a partida, o atacante Tiquinho Soares publicou uma foto em uma rede social com a sigla “C.T.C.T”, em clara alusão ao “contra tudo e contra todos”, muito utilizado no futebol quando um clube ou uma torcida se sente prejudicada ou perseguida pela CBF, arbitragem ou quem quer se seja. O camisa 9 acabou ampliando a voz da torcida nas reclamações e conspirações em meio a disputa do título do Campeonato Brasileiro.

E, na última quarta-feira, foi a vez do próprio Botafogo, através de John Textor, dono da SAF do clube, entra na onda do “C.T.C.T”. Em vídeo publicado nas redes do Botafogo, e que também foi transmitido no telão do Nilton Santos antes do duelo com o Palmeiras, o americano usou a expressão para incendiar a torcida.

— Precisamos de vocês com a gente. Aconteça o que acontecer, vocês permanecem com a gente até o final. Os campeonatos são feitos de amor e foi o seu amor que nos trouxe até aqui. Permaneça com a gente até o fim. Nós vamos fazer isso. Contra tudo e contra todos. Mas apenas juntos conquistaremos o mundo – afirmou John Textor no vídeo.

Depois da dura derrota sofrida para o Palmeiras, Textor foi além. O dono da SAF do Botafogo afirmou que a expulsão de Adryelson era um caso de “corrupção” e “roubo”. E ainda disse que o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, deveria se demitir do cargo. Por mais que tivesse certa razão ao reclamar do exagerado cartão vermelho para o zagueiro do Botafogo, as graves acusações sobre o Campeonato Brasileiro foram feitas sem provas.

— O mundo todo viu, isso não é cartão vermelho. Ele (Adryelson) pegou a bola primeiro. Não tenho certeza nem se foi falta. Mas não é cartão vermelho, ele mudou o jogo. Isso é corrupção, isso é roubo. Por favor, me multa, Ednaldo, mas você precisa renunciar amanhã de manhã. É isso que precisa acontecer. Esse campeonato se tornou uma piada. Ninguém merece isso, esses jogadores do Palmeiras não querem ganhar desse jeito, nós não queremos perder desse jeito. São cinco jogos seguidos. Senhores, vocês (jogadores do Palmeiras) jogaram um bom jogo, não é culpa de vocês, mas isso é corrupção – afirmou Textor ao Premiere, antes de completar.

– Isso precisa mudar. Ednaldo, você precisa renunciar pelo bem do jogo. Isso precisa acabar. Isso é roubo, me multa. Você não pode me expulsar, é meu estádio, eu vou continuar aqui – disse Textor, na beira do campo.

Depois do jogo, na zona mista, Textor voltou a reclamar da arbitragem com acusações graves e citando outros possíveis erros contra o Botafogo durante o Campeonato Brasileiro. No entanto, o empresário não abordou temas referentes ao futebol ou como o Botafogo perdeu a partida que estava vencendo por 3 a 0.

Expulsão de Adryelson virou combustível para discurso exagerado de Textor (Foto: Icon sport)

Enquanto isso, time mostra instabilidade e abalo emocional

Enquanto o clube, dos jogadores a diretoria, parece focar em um inimigo invisível – ou um tanto quanto genérico, como “a arbitragem”, ou “a CBF” -, o time segue patinando no Campeonato Brasileiro e mostrando instabilidade técnica e emocional, como o próprio técnico Lúcio Flávio admitiu, justamente na reta final da competição. Nas últimas três partidas, todas no Nilton Santos, o Botafogo conquistou apenas um ponto, e viu o Palmeiras encostar na tabela – que pese o alvinegro ter um jogo a menos.

E o maior exemplo dessa instabilidade, é claro, foi levar essa virada para o Palmeiras, em um jogo que poderia ser praticamente decisivo em caso de vitória, justamente na noite em que a diretoria resolveu institucionalizar o “contra tudo e contra todos”.

A partida da última quarta-feira foi retrato perfeito do que vem sendo a campanha do Botafogo neste Brasileiro. Com muita intensidade e voltando a apostar nas rápidas transições da defesa para o ataque, assim como o time fazia no primeiro turno, o Glorioso conseguiu massacrar o Palmeiras no primeiro tempo e poderia ter feito até mais do que os 3 a 0. No entanto, no segundo tempo, veio a queda. Disperso, inclusive com erros do (quase) sempre seguro Lucas Perri, o time de Lúcio Flávio se abalou com o primeiro gol do Verdão a passou a ficar afobado em campo.

Botafogo não conseguiu segurar a grande vantagem que tinha no placar contra o Palmeiras (Foto: Icon sport)

Ainda assim, mesmo com a expulsão exagerada de Adryelson, o Botafogo ainda teve a chance de tranquilizar a partida e praticamente decretar a vitória aos 37′ do 2º tempo. Mas Tiquinho Soares desperdiçou o pênalti que faia o placar ficar em 4 a 1 faltando poucos minutos para o fim do jogo. O que se viu em seguida foi um time totalmente perdido em campo, com diversas falhas individuais, técnicas, mas principalmente coletivas, na marcação da bola aérea do Palmeiras.

Enquanto a diretoria do Botafogo agora parece ter definido a CBF como adversária do clube, o time segue perdido em campo e abalado psicologicamente. Ao menos, pela própria competência dos jogadores e – por que não? – também da própria diretoria, o clube fez um primeiro turno histórico e ainda tem alguma vantagem, principalmente sendo otimista em relação ao jogo atrasado contra o Fortaleza. A ver como a direção e o técnico Lúcio Flávio tentarão reestabelecer a tranquilidade já contra o Vasco, na próxima segunda-feira (6), às 19h, em São Januário.

Foto de Gabriel Rodrigues

Gabriel Rodrigues

Gabriel Rodrigues é jornalista formado pela UFF e soma passagens como repórter e editor do Lance!, Esporte News Mundo e Jogada10.
Botão Voltar ao topo