Brasileirão Série A

Abel usou Endrick menos do que deveria no Palmeiras? Números dele e dos demais respondem

Treinador do Palmeiras, Abel Ferreira insistiu com atacantes que entregaram números piores, analisando pelas médias

Se chegar a Abel Ferreira, esse texto certamente vai ser colocado entre os que ele mais terá detestado em sua temporada como técnico do Palmeiras.

Primeiro, por ser engenharia de obra pronta: Endrick está jogando bem, e isso já é sabido, agora é fácil falar. Em segundo lugar, porque, sem acesso aos treinamentos e dia-a-dia do clube, os jornalistas de fato não sabem o que está acontecendo do portão da Academia de Futebol para dentro, e, por consequência, quem está rendendo mais.

Por fim, Abel odiará essa análise porque não tolera ser questionado quanto a possíveis erros – que são poucos, os seus números como técnico do clube comprovam. Mas que não só podem existir como existem.

E, avaliando os últimos jogos, não há como fugir da conclusão de que Abel poderia ter sido mais audacioso, paciente e até coerente, caso tivesse usado Endrick em mais oportunidades.

Porque, de fato, não dá para afirmar com certeza se Endrick faria tudo que tem feito se fosse o dono da posição desde o começo do ano.

Mas tampouco dá para dizer que não faria. E se o ponto de comparação é o que foi feito pelos que jogaram mais que ele, Endrick teria sido melhor escolha.

Artilharia na média por jogos

Endrick comemora gol contra o Botafogo no Estádio Nilton Santos. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras/by Canon)

E como Abel também não gosta de análises com “E se”, a melhor maneira de mostrar que ele poderia ter obtido um Palmeiras ainda melhor com Endrick jogando mais está na análise do que já aconteceu.

Com os dois gols diante do Botafogo, Endrick chegou a dez na temporada. Com 52 jogos no ano, tendo jogado apenas metade deles como titular, o camisa 9 se tornou o terceiro artilheiro do Palmeirras na temporada, empatado com Artur, ambos com dez gols – Veiga tem 17, Rony, 13.

No Brasileiro, Endrick é agora o vice-artilheiro do Palmeiras. Tem sete gols em apenas dez jogos como titular – apenas um a menos que Raphael Veiga, titular em 22.

Rivais de posição foram mal

Palmeiras de Rony teve dificuldades para atacar o Boca Juniors (Foto: Cesar Greco/Palmeiras/by Canon)

Para fugir um pouco mais do “e se”, também dá para falar sobre as apostas de Abel ao não utilizar Endrick, que fez três gols desde que passou a ser titular do time, há sete jogos.

Escolhido para entrar no time quando Dudu se lesionou, em 27 de agosto, Mayke não fez nenhum gol e deu apenas uma assistência, que, na verdade, conta mais para a estatística do que para a prática: foi dele o passe para o gol que empatou Palmeiras x Boca em 5 de outubro. Mas, quem viu a jogada, sabe que o gol foi inteiramente de Piquerez.

Outra aposta do português foi usar Artur na ponta invertida, pelo lado esquerdo. Nessa função, ele fez um gol, na goleada por 4 a 1 sobre o América-MG, e uma assistência, na derrota por 2 a 1 diante do Fluminense.

Mas a comparação que faz parecer ainda mais equivocada o não uso de Endrick é o desempenho de seu rival de posição, Rony. Desde a lesão de Dudu, o camisa 10 do Palmeiras fez dois na goleada de 4 a 1 no América, e nada mais.

Brazil Serie A 05/10/24

E

Bragantino

Bragantino

0

Palmeiras

Palmeiras

0

Brazil Serie A 28/09/24

V

Atletico Mineiro

Atletico Mineiro

1

Palmeiras

Palmeiras

2

Brazil Serie A 22/09/24

V

Vasco da Gama

Vasco da Gama

0

Palmeiras

Palmeiras

1

Brazil Serie A 15/09/24

V

Criciuma

Criciuma

0

Palmeiras

Palmeiras

5

Brazil Serie A 01/09/24

V

Athletico Paranaense

Athletico Paranaense

0

Palmeiras

Palmeiras

2

Abel elogia seu camisa 9

Embora não o tenha escalado tanto como os números mostram que poderia, Abel defende Endrick, como fez após a vitória sobre o Botafogo.

– O Endrick começou o ano muito bem, passou período muito mal. Alguns jornalistas até disseram que deveria voltar para a base. Mas não é por acaso. Os olheiros do Real Madrid são competentes – disse.

– Agora, estamos a falar mais uma vez, de um menino de 17 anos, que ainda não é maior de idade, que tem oscilações, mas é sempre bom essa mistura da irreverência dos mais jovens e a experiência dos mais velhos dá nessa mística – completou.

Atacante se motivou com grito errado

Ao final do jogo, Endrick concedeu entrevista para a TV Globo, que transmitiu o jogo. E revelou ter se motivado com gritos vindos da torcida do Botafogo.

– O Botafogo tem tudo para ser campeão, mas o Palmeiras é isso, nunca vai deixar de correr atrás. Uma coisa que ficou entalada em mim foi o pessoal da torcida… Óbvio que quando gritaram campeão no aquecimento fiquei querendo… Difícil falar em ódio no coração, mas nossa torcida veio nos apoiar, e eu não ia deixar eles gritarem que seriam campeões – disse ele.

O ponto é que os gritos em questão eram para Lucas Verthein, do Remo do Botafogo, que ganhou o ouro no Pan-Americano. Foi, então, uma confusão, o que motivou o camisa 9 do Palmeiras a acabar com o jogo no NIlton Santos. 

– Vou lutar cada segundo para conquistar esse Brasileirão. Espero que eu possa conquistar meu segundo Brasileiro. Só agradecer por esses dois gols – disse ainda Endrick.

Melhor com Endrick

Números à parte, o campo não mente. Se é fato que Endrick oscilou após começar o ano bem, é ainda mais fato que todo o ataque do Palmeiras também oscilou.

Mas enquanto Rony só foi deixar o time titular após a eliminação para o Boca Juniors, bem como Artur, Endrick demorou cinco meses – da estreia contra o Cuiabá, em 14 de abril, a Grêmio x Palmeiras, de 21 de setembro, para voltar a ter uma sequência no Brasileiro entre os 11 iniciais.

Abel teve muito mais paciência com os jogadores mais rodados e que, portanto, deveriam oscilar menos, do que com o atacante mais brilhante a surgir no Brasil desde Pedro, no Fluminense de 2018.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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