Respire, torcedor do Botafogo: irregularidade acontece até nas melhores campanhas do Brasileirão
Existem muitos fatores que fazem o torcedor do Botafogo ficar ansioso com a recente irregularidade do time no Brasileirão, mas é sempre bom lembrar: isso é normal
O Botafogo não jogou mal na derrota por 1 a 0 diante do Cuiabá, pelo contrário, em vários momentos remeteu à pressão que fez na arrancada da primeira metade do Campeonato Brasileiro, e poderia ter aberto o placar sem demandar grandes brilhos. Foi parado por uma infração mínima na mão de Cuesta e um chute de Eduardo que de alguma forma foi rebatido por Walter, o nome da partida.
Num misto de apreensão com a sequência menos inspirada, a aflição histórica das quase três décadas sem um título deste porte e a necessidade de uma certa frieza em enxergar a vantagem matemática e a capacidade do time, o Botafogo tem um bom desafio pela frente. E o desafio de elenco e torcida é ponderar o que estava na conta: não há campeão brasileiro de ponta a ponta sem oscilação nem provações no meio do caminho. Haveria um goleiro de meio de tabela para uma segunda-feira de cabeça inchada, faz parte.
Botafoguense, respire: o Corinthians campeão de 2017, seu exemplo, também passou por isso
O Corinthians de seis anos atrás, outro time que virou o turno com pontuação recorde tal qual o Botafogo do efêmero Luís Castro, viveu situação parecida. Apesar da larga vantagem, um retorno à normalidade fez com que houvesse um dérbi paulista com necessidade de espantar qualquer suspeita de desastre. O time de Fábio Carille entrou em campo com só cinco pontos de margem sobre o Palmeiras na rodada 32, venceu em clima de final e bateria campeão ainda com boa antecedência, no jogo 35.
A liga por pontos corridos prega dessas peças, e calhou do compromisso botafoguense na quarta-feira ser a visita do Palmeiras enquanto vice-líder a seis pontos de distância (e um jogo a mais). Não fosse a queda de luz no Nilton Santos, a apressada agenda rabiscada pela CBF e os duelos adiados, poderiam ser nove, em caso de vitória do Botafogo sobre o Fortaleza; poderia também o time de Abel Ferreira ser o terceiro, com Flamengo ou Bragantino somando pontos no encontro direto que ficou para depois pela chantagem rubro-negra diante do Maracanã alugado à final única da Libertadores.
É hora de ser racional: a vantagem do Botafogo ainda é muito boa
O Botafogo ainda pode fazer 86 pontos no fim da campanha, e hoje a contagem de 80 já é a margem suficiente para o título. RB Bragantino alcança no máximo 79, Palmeiras e Flamengo, 77, Grêmio, 74 — clique aqui e veja todas as chances no Brasileirão. Ainda há campo demais para tropeços, somado a uma suposta arrancada perfeita que nenhum adversário dá sinal de conseguir cravar sem percalços.
Seria exagerado falar que o título está sob risco só porque a bola não entrou contra o Cuiabá. Talvez o razoável é concordar que, de momento, aumentaram as chances da conquista ser menos confortável do que poderia parecer, pelo menos até quarta-feira, quando pode voltar a soar inalcançável. Totalmente natural num campeonato feito o nosso.
O Botafogo perdeu do Cuiabá, mas teve seus bons momentos
Voltando ao início, vale reforçar que o Botafogo teve bons momentos no jogo. As estatísticas vão apontar um excesso de cruzamentos, normal nessa altura da pressão pela vitória e no cenário desenhado do jogo. Foram várias chances de gol e pelo menos duas intervenções acima da média de Walter, o melhor em campo, bloqueando a já citada bola de Eduardo e depois arranjando um Gordon Banks para buscar o cabeceio de Tiquinho Soares quase dentro do gol. A sorte de campeão também traiu Perri que, ao se precipitar na saída do gol, viu a bola dividida com Isidro Pitta correr com força e direção de gol.
Houve desempenhos piores em que o Botafogo somou pontos, coisas do futebol. Junior Santos jogou bem, Di Plácido apoiou legal, e o meio de campo conseguiu rodar a bola e pressionar o Cuiabá, como naqueles tradicionais chutes de Tchê Tchê na entrada da área. Depois de sofrer o gol, Segovinha deu uma ou outra rabiscada interessante, Janderson teve boa presença de área, Gabriel Pires também entrou para dar um chute de fora. Alguém vai dizer que faltou repertório, mas são mais de 30 tentativas de finalização contra um rival que teve o mérito de espetar um gol improvável, gastar o tempo e trancar o gol.
Agora, o foco do Botafogo é um só: respirar e pensar no Palmeiras
Agora são três longos dias ao botafoguense apressado para assistir a resposta diante do Palmeiras, porque quando nosso time perde a gente não quer muito lembrar que o goleiro e o zagueiro são de seleção, o centroavante é o melhor do campeonato, a campanha é histórica e notável. Entre a paixão e a lucidez, a mandinga e as contas na tabela, o Alvinegro segue mais perto que longe, mediando a maior ansiedade do recorte recente de sua linda história. A novidade, no fim, é que chegou aquele momento de afirmação, via de regra previsto desde o início dessa maratona, com a tabela inteira sabendo como o líder se porta e um estádio cheio esperando o gás final rumo à taça, ainda que não se jogue o máximo possível. Acontece até nas melhores campanhas.