Em meio a indefinições, Flamengo precisa saber encerrar ciclos e ter fim digno no Brasileiro
Mesmo que não pareça, o ano continua para o Flamengo, que não pode errar nas decisões que restam a serem tomadas no ano

Pela primeira vez desde 2018, o ano do Flamengo muito provavelmente não terá uma conquista. Acostumado a levantar taças importantes nas últimas temporadas, o Rubro-Negro foi vice na Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana, Campeonato Carioca e Copa do Brasil em 2023, além de ter sido eliminado nas oitavas de final da Libertadores e ficado com o terceiro lugar no Mundial de Clubes. Apenas o improvável título do Brasileirão, competição em que está 11 pontos atrás do líder Botafogo, poderia mudar esse cenário.
Por mais frustrante que seja o período, o Flamengo ainda não pode se dar ao luxo de considerar o ano como finalizado. A equipe da Gávea precisa, no mínimo, terminar o Campeonato Brasileiro de forma digna e saber como encerrar ciclos de ídolos que estão chegando ao fim. Caso o contrário, a imagem sobre a temporada pode ficar ainda pior.
Sampaoli e possível novo técnico
A primeira definição que precisa ser feita pelo Flamengo enquanto lamenta a perda da Copa do Brasil é sobre o treinador. Ainda que não seja oficial, a saída de Jorge Sampaoli parece ser inevitável. Os resultados e desempenhos sob o comando do argentino não atingiram as expectativas da torcida e diretoria, enquanto o clima no vestiário entre comissão técnica e elenco não é bom.
Por mais iminente que seja, a saída de Sampaoli não deve ser simples. De acordo com o Uol, a multa rescisória do técnico é R$ 14 milhões, mas vai caindo proporcionalmente durante o andamento do contrato, válido até o fim de 2024. Mesmo que isso não seja novidade para o clube, que pagou cerca de R$ 15 milhões para Vitor Pereira depois da demissão em abril, será um empecilho. Vale a pena mantê-lo até o fim do ano para abaixar o valor ou melhor arcar com o alto custo e não comprometer o restante da temporada ou até mesmo a próxima?
Se a demissão de Sampaoli parece ser questão de tempo, seu substituto ainda é uma incógnita. Segundo o ge, o nome com mais força dentro da Gávea é o de Tite, técnico da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 2018 e 2022. Desempregado desde a eliminação para a Croácia no Catar, o treinador não assumiu clube algum e pretendia ir para a Europa no meio do ano, mas não recebeu propostas que lhe agradaram.
Com a temporada europeia 2023/24 já em andamento e o término da janela de transferências, Tite teria mudado o nível de exigência e passado a cogitar um retorno ao futebol brasileiro. O Flamengo, por sua vez, teria sondado o comandante e confirmado que ele estaria disposto a trabalhar no país. Acontece que o treinador deseja começar um novo trabalho em 2024, mas a diretoria rubro-negra prefere que o sucessor de Sampaoli assuma a equipe imediatamente.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
Um fim digno no Brasileirão
Ainda não se sabe se será Sampaoli, Tite ou outro treinador que comandará o Flamengo nas 14 partidas restantes do Campeonato Brasileiro, mas a definição precisa ser rápida. O clube aparece em sétimo lugar na tabela de classificação, com 40 pontos em 24 rodadas, e não se encontra na zona de classificação para a Libertadores.
É justamente por não estar entre os seis primeiros colocados que o Rubro-Negro precisa de um norte ainda este ano. Não se classificar para a Libertadores mesmo com o elenco mais caro da América Latina seria trágico em todos os sentidos. Esportivamente, deixaria ainda mais claro o fracasso da diretoria em 2023, que em nenhum momento teve convicção sobre decisões importantes que tomou, especialmente nas escolhas e trocas de treinadores.
Financeiramente, o Flamengo perderia muito em receitas. As premiações de CBF e Conmebol (uma pela performance no Brasileirão de 2023 e outra pelo desempenho no torneio internacional que disputar em 2024) seriam bem menores, assim como o público e renda que obteria. Afinal, uma partida de Libertadores atrai mais interesse que uma de Sul-Americana, seja pela importância ou pela diferença entre os clubes de cada competição.
Outra consequência de não garantir vaga na Libertadores seria o fim do período como protagonista no continente. Não ficar no G6 após vencer dois Brasileiros, duas Libertadores, uma Copa do Brasil, uma Recopa Sul-Americana, duas Supercopas do Brasil e três Cariocas em quatro temporadas certamente marca o término de uma era vitoriosa.
Fim de ciclos históricos
Por fim, o Flamengo precisará saber lidar com o fim de ciclos históricos no clube. Logicamente, isso também passará pela definição do treinador, que é quem informa à diretoria quais jogadores gostaria de contar para o próximo ano.
Quatro jogadores rubro-negros tem contrato até o fim de 2023. O com maior chance de ter seu vínculo renovado é Bruno Henrique, que vai completar 33 anos. Apesar da idade, o camisa 27 vem se destacando desde que voltou de lesão e foi utilizou a faixa de capitão no jogo de volta contra o São Paulo na decisão da Copa do Brasil. A negociação entre jogador e clube não é simples, mas ambas as partes enxergam a situação como prioridade.

Já Éverton Ribeiro tem seu futuro totalmente aberto. No Flamengo desde 2017, o meio-campista perdeu espaço com Sampaoli, mas segue como um dos líderes do elenco. Em julho, o camisa 7 revelou que as conversas sobre renovação ainda não haviam começado, mas que pretendia continuar no clube. A Trivela apurou com exclusividade que o atleta desperta interesse do rival Fluminense.
Os outros dois em fim de contrato, por outro lado, dificilmente ficarão para 2024. Titular incontestável no glorioso ano de 2019, Rodrigo Caio convive com lesões desde 2020 e disputou apenas nove jogos neste ano. Filipe Luís, por sua vez, está com 38 anos, entrou em campo somente 17 vezes na atual temporada e deverá se aposentar caso não tenha seu vínculo prorrogado.
Além dos quatro, outros também podem estar encerrado suas passagens pelo Flamengo. Com extensão de contrato até o fim do próximo ano garantida por ter batido metas estipuladas, David Luiz esteve na mira de times do exterior na recente janela de transferências.
Por fim, Gabigol também tem contrato até o término de dezembro de 2024 e disse que sua renovação está sendo discutida desde o Mundial de Clubes, mas segue indefinida. Por mais que o camisa 10 deseje ficar, recentes atritos com a diretoria e especulações em outras equipes do Brasil dão indícios de que a permanência não está próxima.
Independente de quais nomes continuarem ou se despedirem, os ciclos que terminarem precisam ser encerrados com respeito pelo Flamengo. Todos os citados tiveram participações fundamentais em conquistas gigantes na época mais vitoriosa do clube em quase 40 anos e, por isso, merecem sair pela porta da frente. Honestidade quanto ao andamento de cada negociação e uma última oportunidade para serem aplaudidos pelo Maracanã certamente ajudariam a não arranhar ainda mais a imagem do melancólico 2023.