Brasileirão Série A

[História] 22 estrangeiros que tiveram papéis de destaque nos títulos do Brasileirão

Muitos são os clubes do Campeonato Brasileiro que possuem um jogador estrangeiro entre seus protagonistas. E raríssimos não contam com ao menos um gringo no elenco – mais especificamente, apenas três. Depois de anos de letargia, as diretorias passaram a perceber melhor o mercado sul-americano e a contratar bons valores para fortalecer suas equipes. Prática comum que dá um tempero especial à Série A, ainda que a presença de  forasteiros vencedores não seja nova. Desde os anos 1960, atletas de outros países (principalmente os sul-americanos) colocam a faixa das competições nacionais no peito. Algo que se tornou mais frequente a partir da virada do século e tende a crescer mais, diante do atual cenário.

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Assim, decidimos falar não apenas dos estrangeiros que se espalham pelo campeonato em 2017, mas relembrar os que ajudaram a construir a história gloriosa do Brasileirão. Exceção ao “pioneiro” Cincunegui, todos os outros tiveram participação ativa e certo grau de importância nas conquistas de suas equipes. Conheça e relembre:

Juan Miguel Pérez (Palmeiras 1967)

O primeiro gringo campeão nacional foi o goleiro Juan Miguel Pérez. O paraguaio chegou à Academia contratado junto ao Galicia de Aragua, da Venezuela. Era inicialmente reserva de Valdir Joaquim de Moraes, mas precisou assumir a meta na reta final do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Participou do último jogo da fase de classificação e de todos do quadrangular final, no qual os alviverdes conquistaram a taça. Além disso, também esteve presente no título da Taça Brasil, ao final do mesmo ano.

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Ramos Delgado (Santos 1968)

Após longa passagem pelo River Plate, Ramos Delgado parecia entrar em declínio quando se transferiu ao Banfield. Em 1968, chegou para reforçar a defesa do Santos. E o veterano se eternizou como um dos melhores zagueiros que já passaram pela Vila Belmiro. Sua principal conquista aconteceu no Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968, último título nacional do Peixe até o Brasileiro de 2002. Defendeu o clube até os 38 anos, levando ainda quatro taças do Paulista.

Cincunegui (Atlético Mineiro 1971)

O lateral esquerdo jogou pouco no Brasileirão de 1971, entrando em campo em apenas seis partidas. De qualquer forma, o uruguaio merece a menção: por anos foi considerado o primeiro estrangeiro a faturar o troféu nacional, até o revisionismo da CBF sobre o histórico da competição. Famoso por sua postura aguerrida em campo, estabeleceu-se como grande ídolo da massa alvinegra naqueles anos. Vindo do Nacional de Montevidéu, permaneceu no clube por cinco anos.

Madurga (Palmeiras 1972)

Campeão pelo Boca Juniors e com passagem pela seleção argentina, Madurga veio por empréstimo ao Palmeiras. Dono de boa qualidade técnica, era um jogador polivalente. Não à toa, Osvaldo Brandão costumava escalá-lo no meio de campo, ao lado de Dudu, mas também contou os seus serviços no ataque, quando César Maluco se lesionou. Assim, esteve em campo em 27 das 30 partidas dos alviverdes no certame. Inclusive na decisão, atuando na linha de frente durante o empate com o Botafogo. No ano seguinte, retornou à Bombonera.

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Andrada (Vasco 1974)

Um dos maiores goleiros da história do Vasco, o argentino vai muito além do milésimo gol de Pelé. Trazido do Rosario Central, permaneceu na Colina por sete anos. Em 1970, viveu o fim do jejum no Campeonato Carioca. E, já no final de sua passagem, participou da primeira conquista do Campeonato Brasileiro. Era o camisa 1 durante toda a campanha, somando 27 partidas. “El Gato” era um dos líderes em um elenco sem tantas estrelas, que derrotou o Cruzeiro na final. No anos seguinte, se transferiu ao Vitória, antes de voltar à Argentina.

Figueroa (Internacional 1975 e 1976)

Talvez não haja estrangeiro mais significativo para o Campeonato Brasileiro do que Figueroa. Don Elias foi peça-chave na transformação do Internacional durante a década de 1970. Participou de algumas campanhas, antes de impulsionar os colorados ao seu bicampeonato nacional. Em 1975, além de jogar muito, ainda foi o responsável por anotar o gol do título, na decisão sobre o Cruzeiro. Voltaria a encabeçar a equipe novamente em 1976, ratificando a soberania. Mais do que um defensor de enorme qualidade técnica, o chileno também se colocou como um grande líder ao esquadrão. Foi o esteio de uma defesa praticamente intransponível, com médias de gols baixíssimas.

Benítez (Internacional 1979)

A meta colorada no bicampeonato nacional era guardada por Manga. Entretanto, Benítez foi um digno substituto ao veterano no terceiro título colorado. Tarimbado na meta do Olimpia e da seleção paraguaia, desembarcou no Beira-Rio em 1977, mas demorou um pouco para se firmar na equipe, passando pelo Palmeiras. Já o grande momento veio mesmo na campanha de 1979, impulsionando a façanha invicta da equipe de Ênio Andrade. Não esteve em campo apenas em um jogo.

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Dario Pereyra (São Paulo 1977 e 1986)

O elo entre duas gerações vencedoras no Morumbi, Dario Pereyra se sobressaiu em ambas as campanhas. Na primeira, era um jovem meio-campista, que acabara de chegar a peso de ouro, contribuindo bastante nos últimos jogos. Inclusive, foi dele a responsabilidade de marcar Toninho Cerezo na decisão contra o Atlético Mineiro. Anulou o adversário, com o surpreendente triunfo dos tricolores. Nove anos depois, o veterano, já deslocado ao miolo de zaga, servia como ponto de referência à equipe cheia de jovens. Converteu uma das cobranças na disputa de pênaltis contra o Guarani, assegurando a segunda taça nacional ao clube.

Hugo de León (Grêmio 1981)

A imagem do uruguaio erguendo a taça da Libertadores em 1983, com a testa ensanguentada (por conta de um prego na base do troféu, que o feriu ao apoiá-lo na cabeça) ocupará para sempre o imaginário gremista. Contudo, vale lembrar que seu capitão liderou o time também em sua primeira conquista nacional. Contratado junto ao Nacional de Montevidéu, De León não demoraria a personificar a alma tricolor. Só não esteve em campo em duas partidas da caminhada no Brasileirão de 1981 e deu valorosa contribuição para a glória da equipe de Ênio Andrade.

Romerito (Fluminense 1984)

Trazido do New York Cosmos, o paraguaio logo se afirmaria entre os maiores ídolos da história do Fluminense. E o título do Campeonato Brasileiro de 1984 ajudou nessa adoração, especialmente pelo papel decisivo de Romerito. Destaque no setor ofensivo dos tricolores, anotou o gol que assegurou a celebração, na vitória por 1 a 0 sobre o Vasco no primeiro jogo das finais. A partir de uma sobra de bola, tentou duas vezes até vencer o goleiro Roberto Costa. No reencontro, o empate por 0 a 0 já valeu ao Flu. Foram cinco tentos em 14 partidas naquela campanha, desequilibrando justamente na reta final.

Quiñonez (Vasco 1989)

Apesar de ser tratado muitas vezes como folclore, por sua cabeleira e pela rara presença de um jogador equatoriano no Brasil durante a época, Quiñonez ajudou bastante o Vasco a faturar o Brasileirão de 1989. Trazido do Barcelona de Guayaquil, logo se impôs na equipe titular. Participou de 10 partidas, todas na reta final da campanha, figurando o 11 inicial inclusive na decisão diante do São Paulo. O zagueiro ficaria pouco tempo em São Januário, logo retornando ao seu país. Inclusive, encarou os cruz-maltinos na final da Libertadores de 1998.

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Arce e Rivarola (Grêmio 1996)

O sangue paraguaio que auxiliou o Grêmio em feitos históricos nos anos 1990, inclusive na reconquista do Brasileirão depois de 15 anos. Ao lado de Adílson Batista, principalmente, Rivarola compunha uma dupla de zaga muito sólida no Olímpico, desde a conquista da Copa Libertadores no ano anterior. Arce, por sua vez, era um espetáculo à parte por tudo o que oferecia ao time. Poucos fizeram tão bem a função de lateral no país durante os anos 1990, primando especialmente pelos cruzamentos precisos e pelas bolas paradas. Não à toa, era essencial nos times de Luiz Felipe Scolari.

Gamarra e Rincón (Corinthians 1998 e 1999)

Duas lendas em seus países, igualmente idolatrados no Brasil por tudo o que garantiram aos seus clubes. E ambos vivendo o momento mais vitorioso com a camisa do Corinthians, embora tenham atuado por outras equipes. Antes da participação marcante na Copa de 1998, Gamarra se juntaria aos alvinegros. A passagem foi curta, mas o suficiente para se marcar entre os melhores zagueiros da história do Parque São Jorge. Faturaria o Brasileiro em 1998, embora tenha saído antes do bi em 1999. Já Rincón era o motor da equipe em ambas as conquistas, herdando a braçadeira do paraguaio para erguer a taça após a decisão contra o Atlético Mineiro. Ainda maior no passado corintiano, por toda a sua influência na época.

Aristizábal e Maldonado (Cruzeiro 2003)

O sucesso do Cruzeiro no primeiro Brasileirão de pontos corridos dependeu bastante de sua espinha dorsal gringa. Maldonado era o vértice no meio de campo, contribuindo com combatividade e eficiência. Esteve em campo em 28 partidas durante o campeonato, tornando-se um dos homens de confiança de Vanderlei Luxemburgo. Aristizábal, por sua vez, seria um dos nomes mais frequentes no time, somando 36 atuações. Ofereceu também muitos gols, atrás apenas de Alex na artilharia celeste. Foram 21 tentos no total. Sua grande atuação foi um pouco mais “magra”, balançando as redes duas vezes diante do Santos, em confronto fundamental para que a Raposa se desgarrasse na ponta.

Tevez (Corinthians 2005)

Que muita gente torça o nariz para o quarto título do Corinthians, em 2005, a excelência do jogo de Tevez naquele campeonato é inquestionável. O atacante argentino só não fez chover, ao ritmo de cúmbia e de muitos gols. O negócio ousado (e um tanto quanto contestável, pela parceria com a MSI) rendeu demais no Brasileirão. O craque anotou 20 gols em 29 jogos, deslanchando principalmente na reta final da competição. Foram nove bolas nas redes nas últimas nove rodadas, incluindo no polêmico empate com o Internacional. Além disso, viveu seu dia mais inesquecível com uma tripleta no 7 a 1 sobre o Santos. Sebá e Mascherano (este, jogando pouco) também compunham o grupo.

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Petkovic (Flamengo 2009)

O retorno de Pet à Gávea soava como um negócio bastante duvidoso para o Flamengo. O meia não rendia em alto nível fazia um tempo, e chegou ao clube em acordo para o abatimento de uma dívida trabalhista. A gratidão ao craque era evidente, especialmente depois do gol do tri em 2001, mas muitos duvidavam que ele pudesse dar nova contribuição. Ledo engano. O camisa 43 se transformou no maestro da reconquista nacional após 17 anos. Teve atuações memoráveis e carregou o time em sua arrancada, ao lado de Adriano. Ganhou ainda mais espaço nos corações rubro-negros, somando oito gols em 23 partidas. Com o sérvio em campo, o Fla sofreu apenas uma derrota.

Conca (Fluminense 2010)

Carregará para sempre a gratidão dos tricolores, por mais que vista uma camisa rival hoje em dia. Afinal, o argentino jogou demais em suas duas passagens pelas Laranjeiras, sobretudo na primeira. Em 2009, foi um dos heróis na espetacular fuga do rebaixamento. Já na campanha seguinte, levou os tricolores para onde poucos poderiam imaginar meses antes: ao topo da tabela. Não se ausentou de um jogo sequer na conquista do título de 2010, anotando ainda nove gols. Orquestrou o time de Muricy Ramalho, encerrando o jejum do clube na competição que já durava 26 anos. Missão cumprida com grande êxito.

Marcelo Moreno (Cruzeiro 2014)

Após uma estadia um tanto quanto frustrada pelo Flamengo, Marcelo Moreno voltou ao Cruzeiro sob descrédito. Vinha para somar no time que conquistara o Campeonato Brasileiro do ano anterior, mas muita gente apostava que não daria certo. A resposta? Gols. O boliviano se transformou em uma das principais referências ofensivas das Raposas e, mesmo em um time bastante vertical, conseguiu se encaixar no esquema. Disputou 32 partidas e balançou as redes 15 vezes, dividindo a artilharia da equipe com Ricardo Goulart. A passagem por empréstimo, contudo, não se estenderia.

Yerry Mina (Palmeiras 2016)

O último estrangeiro a se destacar no Brasileirão nem jogou tantas partidas assim. O colombiano acumulou 15 jogos ao longo da campanha. Entretanto, ninguém nega a sua importância para o triunfo do Palmeiras. Primeiro, por sua contribuição defensiva, dando muita solidez ao miolo de zaga. Depois por seus gols. Mais do que decisivos, também carregados de consideração pela torcida, diante das circunstâncias. Foram quatro no total, sendo um contra o Santos, um contra o São Paulo e um contra o Corinthians.

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Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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