Brasileirão Série A

Caíque já foi um ‘novo Dida’ e agora tem a chance de provar seu potencial no Grêmio

Com suspensão de Gabriel Grando, goleiro Caíque terá primeira oportunidade para comprovar no Grêmio potencial que um dia empolgou torcida do Vitória

Caíque terá oportunidade de ouro neste domingo domingo (3), às 11h, na Arena. Diante do Cuiabá, pelo Campeonato Brasileiro, o goleiro de 26 anos será o substituto de Gabriel Grando, que está suspenso, e fará sua estreia pelo time principal do Grêmio.

Depois de não confirmar a expectativa criada no Vitória, rodar por outros países e se destacar no Ypiranga, ele tem a chance de comprovar no mais alto nível do futebol brasileiro o potencial que lá atrás o fez ser comparado a Dida.

‘Novo Dida'

Caíque surgiu precocemente no Vitória. Em 2016, com apenas 18 anos, estreou pelo profissional simplesmente em um clássico Ba-Vi. Em grande atuação, ajudou a garantir o triunfo por 2 a 0 pelo Campeonato Baiano. O suficiente para empolgar a torcida rubro-negra, que tem Dida como um dos maiores ídolos de sua história.

Negro, quase dois metros de altura, canhoto e formado no Vitória. Por esses aspectos, fazia sentido a comparação com o lendário goleiro do Milan e da Seleção Brasileira, em cujas categorias de base Caíque figurava. No entanto, prejudicou o jovem goleiro, segundo o próprio.

— Na minha vida foi tudo muito rápido, a chegada no profissional. As pessoas confiaram muito no meu trabalho, e pude mostrar dentro de campo. Só que esse peso de ser o novo Dida acabou me atrapalhando no início — reconhece.

Entre 2016 e 2018, Caíque teve oportunidade de disputar a Série A do Campeonato Brasileiro pelo Vitória. Porém, oscilou muito e não conseguiu se firmar como titular, tendo média de 15 jogos por temporada.

— Era promissor, mas nunca teve grande sequência. Muito por conta de quem eram os titulares [Fernando Miguel, depois Ronaldo]. Ele entrou mais por causa das lesões desses titulares. Mas também falhou em alguns momentos cruciais — relembra Elton Serra, comentarista da ESPN. O jornalista ainda cita o comportamento temperamental como outro aspecto que prejudicou o goleiro em sua caminhada no rubro-negro baiano.

Caíque viveu altos e baixos no Vitória. Foto: Maurícia da Matta/EC Vitória

Sem espaço, Caíque jogou no time sub-23 do Vitória, e a partir de 2020 passou a rodar em outros clubes por empréstimo. Esteve no CSA, no Ermis Aradippou, do Chipre, e no Rochester New York, dos Estados Unidos. Mas a reviravolta na carreira aconteceria no Rio Grande do Sul.

Destaque no Ypiranga

Farnei Coelho, executivo de futebol do Ypiranga, colocou Caíque em seu banco de dados em 2019, após acompanhar in loco uma grande atuação do goleiro. Foi na semifinal do Campeonato Brasileiro de Aspirantes daquele ano, em derrota por 3 a 0 do Vitória justamente para o Grêmio, no CT Hélio Dourado, em Eldorado do Sul.

Na preparação para o Campeonato Gaúcho de 2023, Farnei viu oportunidade de negócio após Edson, então goleiro titular do Ypiranga, fraturar a tíbia em jogo-treino contra o Concórdia.

— O Edson tinha sido o melhor goleiro do Gauchão em 2022, então não estávamos nem procurando goleiro. Mas aí se machucou, e fomos atrás do Caíque. Ele estava em litígio, terminando contrato com o Vitória. Conseguimos trazer em um valor bem acessível para o Ypiranga — conta o executivo à Trivela.

O grande Gauchão rendeu a Caíque a visibilidade perdida nos últimos anos. O goleiro foi um dos destaques da competição. No jogo de ida da semifinal, contra o Grêmio, em Erechim, defendeu pênalti cobrado por Luis Suárez. Também dificultou a vida do Tricolor na partida de volta, na Arena, que foi decidida nos pênaltis.

Pelo Ypiranga, Caíque se destacou contra o Grêmio no Campeonato Gaúcho. Foto: Luiz Erbes/IconSport

As atuações chamaram atenção de Renato, para quem Caíque externou o sonho de trabalhar junto, e da direção gremista. A manutenção do alto nível na Série C do Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, em que o Ypiranga eliminou o Bragantino e caiu para o Botafogo, referendou a contratação do Grêmio.

Chegada teve situação inusitada

Um episódio inusitado marcou a ida do goleiro para o Tricolor Gaúcho. Caíque mandou mensagem pelo Instagram para o vice-presidente de futebol Antônio Brum, em que pediu uma oportunidade e manifestou o desejo de jogar no Grêmio. O dirigente elogiou a postura, mas garantiu que não foi esse o aspecto principal levado em conta para a contratação, realizada para suprir a saída de Brenno para o Bari, da Itália.

— Ninguém contrataria um jogador porque ele mandou uma mensagem no Instagram para o dirigente. Conheço o trabalho do Caíque há muito tempo. Até me chamou atenção ele estar no Ypiranga no Campeonato Gaúcho deste ano pelo potencial que vejo. Não desmerecendo o Ypiranga de maneira alguma, mas é um jogador que teve uma projeção enorme na sua carreira. Acho que foi uma iniciativa bem bacana do atleta. A gente tem que valorizar a coragem dele e a vontade de jogar do Grêmio. Mas ele veio por causa do movimento do Brenno e porque já monitorávamos ele há algum tempo — explicou Brum após o anúncio de Caíque, no início deste mês.

O goleiro entende que os dois pontos foram determinantes para sua contratação: o trabalho e a ousadia.

— Na minha cabeça, jamais sabia que o Grêmio estava me monitorando. Quando recebi o direcionamento de Deus, fui e mandei mensagem para o Brum. Falei ‘desculpa pela ousadia', mas expressei meu sentimento para ele. E acho que juntou tudo: meu trabalho e a vontade de estar aqui — disse em sua entrevista coletiva de apresentação, na qual não escondeu a felicidade por estar no Grêmio.

Potência é principal característica

Caíque garantiu estar mais maduro depois dos altos e baixos na carreira. Cinco anos após disputar sua última Série A, pelo Vitória, pretende demonstrar na elite do futebol brasileiro os predicados que um dia empolgaram a torcida do rubro-negro baiano, e que voltaram a ser vistos no Ypiranga.

— O Caíque tem muita potência. Ele busca algumas bolas que outros goleiros não buscam, na asa, no ângulo. A reposição de bola dele é muito boa. Inclusive deu assistências, participou diretamente de gols nossos, tanto com os pés quanto com as mãos. Ele arremessa [a bola] passando o meio-campo com a mão — exalta Farnei.

Essa última característica já foi vista no domingo passado (27), em vitória do time B do Grêmio por 3 a 1 sobre o Pelotas, pela Copa FGF. Caíque atuou para adquirir ritmo de jogo. O mesmo aconteceu em jogo-treino na quarta-feira (30), contra o Monsoon, vencida pelos reservas gremistas por 2 a 1. Foram testes para o goleiro baiano antes de uma chance que não pode ser desperdiçada.

Foto de Nícolas Wagner

Nícolas WagnerSetorista

Gaúcho, formado em jornalismo pela PUC-RS e especializado em análise de desempenho e mercado pelo Futebol Interativo. Antes da Trivela, passou pela Rádio Grenal e pela RDC TV. Também é coordenador de conteúdo da Rádio Índio Capilé.
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