Brasileirão Série A

Tite precisa ter mais autocrítica, ainda que calendário seja problema para o Flamengo

Treinador não explicou as escolhas nas substituições que desmontaram o bom primeiro tempo do Rubro-Negro diante do Botafogo

Com o atraso habitual, Tite chegou à sala de coletiva do Nilton Santos para falar sobre o jogo, mas, novamente, focou estritamente no calendário corrido do Flamengo. Por mais que ele seja, sim, um problema para a equipe, que sofre muito com lesões, a quantidade de compromissos não é a maior das mazelas. Faltou autocrítica ao treinador.

O comandante não explicou as escolhas pelas alterações que transformaram um primeiro tempo equilibrado em goleada do Botafogo. Mesmo com os desfalques, o momento é de entender os erros para não minar a temporada do Flamengo.

O que Tite disse durante a coletiva?

  • Se esquivou sobre as escolhas que o tornaram vilão no clássico;
  • Culpou o calendário para o aspecto físico ruim do Flamengo;
  • Negou que a equipe esteja priorizando as Copas

Roteiro repetido

— Discernimento para que se tenha compreensão. Se não fica “ganhou, que beleza”. O futebol não é assim. E há sim a relação de saúde. (…) Quando nós vencemos quarta coloquei isso, então não é oportunista porque não perdemos. Ouçam e vejam a entrevista do Carlo Ancelotti. Ele diz que está programando férias para os atletas no meio da temporada porque o calendário é impossível. Não é só a gente, e não é desculpa. Estamos chateados, perdemos, não queríamos tomar quatro, é um clássico, dói, estamos tristes… Tudo verdade, mas um pouco de bom senso.

O comandante ainda falhou ao se esquivar de novas perguntas. Tem sido marca registrada de Tite nas últimas coletivas do Flamengo. A ideia por trás das substituições ficou no ar.

— Quando pega situações específicas é muito pontual, não é do meu perfil. Quando a equipe perde, ela perde no seu contexto, perde no seu conjunto. Se tivesse entrado bem (Victor Hugo), com bons resultados, a pergunta seria inversa. O conjunto todo nosso não teve, e principalmente quando foi no segundo tempo que a equipe foi se desmanchando em termos físicos. Foi caindo, caindo, caindo, e a gente olhava e percebia isso. E a intensidade do Botafogo permaneceu porque tem qualidade, verticalidade, e um time de estrutura física e com um dia a mais de recuperação — disse, antes de concluir:

— Nós tínhamos que jogar dois jogos em um só, esse e o de quinta. Se eu deixo o Gerson e estoura o Gerson, foi porque nós planejamos isso. Se estoura o Gerson, já está com o Arrascaeta, fica com outro jogador. E precisava (tirar) ou não teria o Gerson na quinta — finalizou.

Tite, treinador do Flamengo, durante o duelo contra o Palmeiras pela Copa do Brasil (foto: Iconsport)

O próximo desafio do Flamengo será pela Libertadores, na quinta-feira (22), quando Tite e companhia visitam o Bolívar. A bola rola a partir das 21h30 (de Brasília), no Hernando Siles.

Veja outros pontos abordados na coletiva

Parabéns ao Botafogo

— Parabenizar o Botafogo pelo grande jogo que fez, manteve o nível muito regular no primeiro e segundo tempo, sempre em alto nível. Futebol tem que saber olhar para o outro lado e reconhecer, mesmo tendo toda dor da derrota. Flamengo não pode perder de 4 a 1, não pode tomar quatro gols, temos consciência disso. Mas tem ao mesmo lado considerar fatores importantes.

Aspecto físico

— Os aspectos físicos são levados em consideração, mas é o conjunto todo, inclusive o tático de ter que mudar e estruturar a equipe. É do conjunto da obra, sim, do que precisa melhorar e recuperar. (…) Sabe o que o Nico (De la Cruz) falou para mim: “Professor, desculpa, eu não tinha condições”. Não tem que pedir desculpa. Se não tem condição, não vai. E vou repetir todas as situações que foram passadas antes de vir para esse jogo, quando nós vencemos. Quantas pessoas já colocaram do calendário? Eu entendo a colocação, o torcedor, que está tão chateado quanto eu.

— O Botafogo jogou quarta a noite e nós na quinta. Então quando a gente fala de cuidar da saúde dos atletas, a gente perdeu cinco jogadores nos últimos dois jogos. É muito fácil falar que o Botafogo correu mais hoje, mas tem que olhar o todo. (Matheus Bachi)

Léo Ortiz como volante

— Ela teve tanto no primeiro tempo quanto no segundo. E foi a mesma mudança que fez com que nós vencemos o Palmeiras por 2 a 1 no jogo conjugado de 200 minutos. Você começa a utilizar na necessidade de dar saúde. Não é poupar ninguém, é de dar saúde, ter o mínimo de saúde mesmo correndo o risco de o desempenho cair. Não queria tirar o Gerson. Assim como o Ayrton e o Fabricio. As quatro substituições foram planejadas. Estamos tristes, mas estou reconhecendo o grande jogo do Botafogo, senão parece que futebol só joga de um lado.

Jogada de bola aérea

— Foi desde o início da jogada, não foi só o problema do cruzamento. Ele desencadeou quando teve um salto de pressão, encontraram um passe por dentro, e aí desencadeou. É uma jogada que a gente já sabia que eles tinham, e por isso do ajuste que fizemos na sequência do primeiro tempo e depois no intervalo, para ter um homem a mais na área e liberar os nossos alas para pegar a amplitude dos laterais deles. E ter os dois homens no eixo central para já não ter esse cruzamento. Só que aí, quando não acontece o resultado, fica mais fácil. Mas esse lance começou antes, na pressão alta.

Prioridades da temporada

— O fato, sim. Mas da importância às Copas, não. Porque foi inevitável. Contra o São Paulo, era inevitável para ter na sequência uma equipe que preservasse a saúde e performance. Hoje não dava, não tinha condição.

Foto de Guilherme Xavier

Guilherme XavierSetorista

Jornalista formado pela PUC-Rio. Da final da Libertadores a Série A2 do Carioca. Copa do Mundo e Olimpíada na bagagem. Passou por Coluna do Fla e Lance antes de chegar à Trivela, onde apura e escreve sobre o Flamengo desde 2023.
Botão Voltar ao topo