Brasileirão Série A

Elenco do Bahia se reuniu com torcedor suspeito de atacar ônibus do próprio clube em 2022

Episódio no ano passado feriu gravemente Danilo Fernandes, que quase ficou cego, e estava na reunião com membros da organizada no último sábado; Bahia informou que não sabia da presença do torcedor acusado do atentado

Integrantes da torcida organizada Bamor se reuniram, no último sábado (11), com membros da comissão técnica do Bahia, diretoria e os jogadores Danilo Fernandes, Marcos Felipe, Gilberto, Kanu, Vitor Hugo, Ratão, Ademir, Rezende, Thaciano e Biel, para cobrarem o clube pela situação difícil que vivem no Campeonato Brasileiro. No vídeo do encontro, uma presença inusitada chamou atenção. Jaderson Santana Bispo, conhecido como Jau, membro da organizada e acusado de atirar uma bomba no ônibus do Tricolor de Aço em 24 de fevereiro de 2022, antes do jogo contra o Sampaio Corrêa, pela Copa do Nordeste, participou da conversa.

A reunião do último final de semana, com Jau tendo espaço para criticar os dirigentes e jogadores, o colocou frente a frente com Danilo Fernandes, que quase ficou cego no episódio da bomba (atirada, segundo a Polícia, por Jau e com participação de outros três integrantes da Bamor). Na ocasião, por centímetros, um estilhaço não atingiu o olho do goleiro do Bahia – ele sofreu 20 pontos entre orelha, rosto e perna. O lateral-esquerdo Matheus Bahia também sofreu leves ferimentos no atentado.

Os quatro integrantes da Bamor, incluindo Jau, foram denunciados pelo Ministério Público da Bahia por tentativa de homicídio em março de 2022, mas, quatro meses depois, a Polícia Civil concluiu a investigação e indiciou os acusados por lesão corporal leve e crime contra a incolumidade pública (expor alguém a perigo a vida, a integridade física ou dano ao patrimônio), na modalidade explosão.

Em contato com a reportagem da Trivela, o advogado Otto Lopes, que representa a Bamor e os integrantes, disse que apresentou a defesa de alguns dos acusados e outros aguardam a citação no processo para apresentação da defesa. Eles também aguardam a marcação da audiência pela Justiça. Segundo a defesa, no dia do ataque ao ônibus, os integrantes da Bamor indiciados pelo crime estavam soltando fogos para incentivar o time.

À época, ainda presidido pelo clube associativo, o Bahia repudiou a decisão da Polícia Civil baiana de indiciar os acusados por lesão corporal ao invés de tentativa de homicídio, como havia apontado o MP.

Atenção, Brasil: sabe o atentado ao nosso ônibus, que quase cegou o Danilo Fernandes e poderia ter matado pessoas? Após 4 meses de inquérito e promessa de rigor das autoridades, a Polícia da Bahia encerrou o caso como LESÃO CORPORAL LEVE. Quando morrer alguém, não adiantará lamentar – escreveu o clube baiano em julho do ano passado.

Vale destacar que pouco mais de um mês antes do ataque ao ônibus, em janeiro do ano passado, Jau integrou o grupo da Bamor que invadiu o Centro de Treinamento Cidade Tricolor e ameaçou jogadores.

O que Jau disse aos jogadores no encontro do último sábado?

No vídeo de 14 minutos divulgado pela Bamor, diversos membros da organizada cobram os integrantes do clube pela má fase. Na vez de Jau, ele criticou o alto investimento do clube para 2023 – trazendo pouco resultado – e fala em campeonato “pífio e de merda” do Bahia.

– Esse ano investimos para car*** e onde estamos? Má gestão de quem contrata! Deixar bem claro isso. De quem está na frente contratando. É inadmissível o clube, com o aporte financeira desse, fazer um campeonato pífio, de merda, brigando o tempo todo para não cair. No Nordestão a gente saiu, Copa do Brasil foi aquele empata e empata. Tá errado, velho! Quem vem contratando para o time está errado, velho. Não desmerecendo o conjunto de atletas, mas não pode, velho. O Bahia investiu o dinheiro que investiu e está na mesma merda de tempos passados, sempre brigando para não cair. Quando o clube caiu, várias famílias ficaram sem emprego porque caiu o aporte financeiro da TV. Sofre a família, sofre a gente. A gente [organizada] não quer ajuda [financeira] de ninguém e só queremos que vocês se doem e não deixem o Bahia cair mais.

O que diz o Bahia sobre o encontro com os membros da Bamor

À Trivela, o Bahia informou que solicitou uma lista dos torcedores que iriam ao CT antes da reunião, mas não foi atendido pela Bamor. O clube ainda reiterou que, à época do atentado, colaborou com as investigações e aguarda punição aos envolvidos.

Vale frisar, no entanto, que nem mesmo o Bahia os puniu, visto que os indiciados pelo crime ainda frequentam os jogos do Tricolor de Aço na Arena Fonte Nova ou em outros estádios normalmente.

O posicionamento da Bamor sobre a cobrança para o elenco do Bahia

Na tarde deste sábado, estivemos no CT Evaristo de Macedo para uma conversa com a diretoria, comissão técnica e alguns jogadores do Esporte Clube Bahia. Nos direcionamos com a intenção de COBRAR, repassar toda a INDIGNAÇÃO da torcida tricolor com o elenco e buscar ESCLARECIMENTOS sobre o mau desempenho do time.

Questionamos tudo que está ocorrendo nos últimos meses e deixamos claro que a instituição Bamor jamais terá intenção de causar qualquer problema no ambiente do clube. Demonstramos nossas insatisfações com a atual situação do time, expressamos nossas revoltas com atuações fracas e covardes, deixamos claro que não podemos mais desperdiçar pontos, principalmente jogando em casa. Salientamos também que não iremos deixar o Bahia cair, e que essa situação de brigar contra o rebaixamento com o financeiro que temos não deve ser planejamento para um clube do tamanho do nosso em hipótese alguma.

Assim sendo, teremos uma partida importante amanhã, e como torcida, iremos cumprir o nosso papel com apoio e com confiança, nos faremos presentes nas arquibancadas e jogaremos juntos durante toda a partida. Mas, exigimos resultados IMEDIATOS.

A situação preocupante do Bahia no Brasileirão

O Bahia não está dentro da zona de rebaixamento, mas vive situação complicada no Brasileirão, com apenas 37 pontos somados e na 16ª colocação. O Tricolor de Aço é o quarto clube com a maior chance de ser rebaixado (51%) porque tem apenas um de pontuação a mais que o Cruzeiro, primeiro time do Z4 que ainda tem duas partidas a menos a serem disputadas.

Por isso, a equipe treinada por Rogério Ceni não depende apenas de si para fugir do que seria o quarto rebaixado da história do clube. Os quatro jogos restantes do Bahia são contra Corinthians (fora), São Paulo (casa), América (f) e Atlético-MG (c).

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius é nascido e criado em São Paulo e jornalista formado pela Universidade Paulista (UNIP). Escreveu sobre futebol nacional e internacional no Yahoo e na Premier League Brasil, além de esports no The Clutch. Como assessor de imprensa, atuou no setor público e privado.
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