É criminoso que o ônibus do Bahia tenha sido atacado por torcedores com uma bomba
Ônibus da delegação ia em direção à Fonte Nova para jogo pela Copa do Nordeste contra o Sampaio Corrêa; goleiro Danilo Fernandes sofreu cortes e foi ao hospital
O Bahia foi vítima de um atentado contra o seu ônibus, que levava a delegação do time para a Fonte Nova para o jogo contra o Sampaio Corrêa, na noite desta quinta-feira em Salvador. Uma bomba foi atirada em direção ao veículo e explodiu, quebrando janelas e ferindo alguns jogadores do clube, além de um carro que estava ao lado. A suspeita é que o ataque tenha sido feito por torcedores do próprio clube e mostra até onde os torcedores vão sabendo que há pouca punição parta quem comete atentados como esse.
Segundo informou o ge.globo, jogadores do Bahia dentro do ônibus passaram mal pelo susto do incidente e ao menos dois jogadores tiveram cortes: o goleiro Danilo Fernandes, que foi atingido no rosto, perto do olho, e foi levado a um hospital, e o lateral esquerdo Matheus Bahia, que teve cortes nos braços.
O atentado criminoso foi confirmado pelo próprio clube em seu Twitter. “O Esporte Clube Bahia informa que uma bomba explodiu dentro do ônibus da equipe na chegada à Fonte Nova e atletas ficaram feridos. O caso mais preocupante é do goleiro Danilo Fernandes, atingido por estilhaços no rosto e já encaminhado a um hospital. Grupo discute se terá jogo”, escreveu o clube.
Após discutirem a questão, o técnico do Bahia, Guto Ferreira, disse em entrevista ao Nordeste FC que o grupo decidiu jogar, mesmo diante de um ataque covarde e criminoso como esse. É um episódio similar ao que já foi vivido pelo São Paulo, em janeiro de 2021, antes de um jogo contra o Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro 2020 (o campeonato daquele ano foi atrasado por causa da pandemia de Covid-19). Os jogadores também decidiram jogar, mesmo com o atentado. No fim, 14 pessoas foram presas, mas acabaram liberados.
O atentado acontece em um momento de muita pressão no Bahia. O clube foi rebaixado no Campeonato Brasileiro de 2021, depois de uma queda de desempenho que se mostrou desastrosa para o clube. A pressão no clube continua com um início de 2022 ainda instável. Nos últimos seis jogos, venceu apenas um. Na Copa do Nordeste, foram cinco jogos, com duas vitórias, um empate e duas derrotas. Os quatro primeiros colocados de cada grupo avançam à próxima fase.
A torcida tem protestado contra o presidente, Guilherme Bellintani, que já viveu protestos de torcida organizada em frente à sua casa – mais um episódio inaceitável, mas que passou em brancas nuvens sem qualquer punição.
Protestar no estádio ou no clube, pacificamente, vá lá. Na casa do profissional, seja presidente, jogador ou técnico, passa do limite do razoável e trata-se de intimidação. Não pode acontecer. Mas tratamos como se isso fosse normal e aceitável, quando não é.
É preciso que esse tipo de crime receba atenção a apuração devida e que os clubes, jogadores e técnicos reajam de maneira mais enérgica contra isso. O jogo não deveria acontecer diante de uma tentativa de assassinato como foi essa e é preciso que as autoridades não deixem que mais esse episódio passe sem qualquer punição.
No Brasil, normalizamos um comportamento criminoso de torcedores contra seu próprio time e contra adversários, como se fosse um mundo à parte onde isso não seja crime. O que será preciso acontecer para que o jogo não aconteça? Que um jogador seja morto? A cobrança tem que ser maior, porque o futebol por vezes é tratado como um mundo à parte, em que esse comportamento violento e criminoso é tido como normal, como se fosse uma pressão que os jogadores e pessoas do futebol tivessem que aceitar como parte do trabalho. Não é. É crime. Precisa ser tratado como tal.