Para chegar à final da Sul-Americana, Corinthians precisará de muito mais do que ‘jogar como Corinthians’
Timão vai precisar contar menos com a 'mística' e com a 'sorte' para encerrar a temporada com dignidade
A partida da última quinta-feira (14), contra o Fortaleza, foi mais uma que entrou para a vasta lista de jogos que o torcedor corintiano quer esquecer. Foram 90 minutos constrangedores para um elenco que teve quase 12 dias para treinar, estudar o adversário, tentar recuperar a confiança e, principalmente, evitar erros.
A realidade foi bem diferente da expectativa. A quantidade de erros cometidos pelo elenco resultou diretamente na vitória do Fortaleza por 2 a 1, que poderia ter sido ainda maior se o Marinho não tivesse desperdiçado o pênalti cometido pelo lateral Matheus Bidu.
Ausências pesaram
O Corinthians entrou em campo sem seis dos seus principais jogadores, que sequer viajaram à capital cearense. Para explicar a ausência de Renato Augusto e companhia na coletiva pós-jogo, Luxemburgo disse que tudo fez parte de um planejamento discutido entre todos os departamentos do clube – mas parece que o planejamento não levou em conta a situação da equipe no Campeonato Brasileiro, que está longe de ser confortável. Já são quatro jogos seguidos sem conseguir a vitória.
O esquema de poupar os atletas pode ter sido pensado com base nos próximos jogos, entre ele os dois contra o próprio Fortaleza. Apesar da derrota, Luxemburgo tentou tranquilizar a torcida, que já está há tempos sem paciência, de que nos momentos decisivos a chave dos jogadores mudaria.
– São jogos diferentes, jogos decisivos têm características totalmente distintas. Hoje foi um jogo importante para nós, o Fortaleza é uma grande equipe. Temos que entender que para conquistar algo, você tem que se sacrificar, trabalhar por isso, e é isso que vamos fazer. Vamos ser um time diferente, seis jogadores fazem uma grande diferença para a equipe. Não tenho dúvidas de que vamos entrar para brigar, jogar como o Corinthians sabe. Não tenho dúvidas de que será assim com o Corinthians – garantiu Luxemburgo.
O “jeito Corinthians” de jogar não é suficiente
Há muito tempo o Timão vem se segurando nas competições decisivas com o “jeito Corinthians de jogar”, confiando em uma mística, na raça, na sorte e muitas vezes na crença de que o Cássio estará lá para pegar pênaltis caso seja preciso.
Nos jogos decisivos das principais competições do ano foi assim. Na Copa do Brasil, saiu perdendo para Remo, Atlético-MG e América-MG, buscou e resultado e avançou nos pênaltis. Já na Sul-Americana, por incrível que pareça, apenas um jogo foi decidido nas penalidades, contra o Estudiantes, nas quartas de final.
A confiança em cima de Cássio se dá pelos números e atuações do goleiro. Desde que chegou ao clube e assumiu a titularidade, soma 32 pênaltis defendidos.
Além das penalidades, o “jeito Corinthians” que faz do torcedor o sofredor também vale para 90 minutos do tempo normal, já que o time tem frequentemente levado um gol, e aí se movimentado para buscar o resultado, muitos deles foram conseguidos nos acréscimos.
Voltando no tempo, em 2018, o Corinthians enfrentou o São Paulo na semifinal do Campeonato Paulista. Na primeira partida no Morumbi, o Timão saiu com a derrota por 1 a 0, e precisou buscar o resultado em casa – e ele veio. Rodriguinho balançou a rede no último lance dos acréscimos e o jogo foi para os pênaltis, classificando o time para a final contra o rival Palmeiras.
Na época, o time apresentava um bom posicionamento tático. Não se tratava de um elenco milionário, mas que conseguia entregar os resultados necessários, diferente do atual, refém das atuações de Renato Augusto, que quando joga, é inquestionavelmente o melhor que o time tem.
Por isso, jogar “como Corinthians” não é suficiente, não é tudo e, principalmente, não é solução. O que precisa ficar claro é que independente dos resultados, a temporada é espelho de um trabalho péssimo do treinador e da diretoria, que não vem apenas de agora, mas dos últimos dois anos, pelo menos.
Contra o Fortaleza, ficou muito claro que o Corinthians precisará jogar futebol de forma efetiva e eficiente, contando com seus principais jogadores, ser cirúrgico nos momentos certos, e evitar ao máximo todo e qualquer erro que possa dar a bola ao adversário. Antes disso, Luxemburgo precisa pensar em como fazer tudo isso acontecer em meio à pressão da reta final da temporada.