Brasileirão Série A

Atlético-MG x Cruzeiro foi histórico dentro de campo, mas pequeno fora dele

Primeiro clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro na Arena MRV foi marcado por batalha nos bastidores, depredação e desrespeito com os torcedores

O clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro, vencido pelo time celeste por 1 a 0, com gol contra do zagueiro Jemerson, foi histórico. Primeiro confronto entre os dois grandes rivais mineiros na Arena MRV, a partida teve toda a cara de um clássico onde ninguém queria perder, já que se tratava de um momento único na enciclopédia do confronto.

Quando a bola rolou, as atuações não empolgaram. De um lado um Atlético-MG pouco inspirado não passava perto de fazer jus a expectativa colocada pela torcida nos dias anteriores ao clássico. O Cruzeiro, por sua vez, demonstrava mais entrega e dedicação, mas tropeçava em defeitos técnicos. Ainda assim, foi o time celeste que criou mais durante o jogo, conquistando uma vitória merecida, mesmo que tenha sido um atleticano o responsável por balançar a rede.

Mas, se dentro de campo sobrou tensão, provocações e nervosismo, características comuns de um dérbi da magnitude de um Atlético-MG x Cruzeiro, fora dele, pode-se dizer que o confronto foi minúsculo.

Guerra nos bastidores

Cruzeiro e Atlético-MG começaram a travar uma guerra nos bastidores bem antes da partida. O alvinegro entendia que a Arena MRV não poderia receber os 10% de cruzeirenses, carga estipulada para visitantes no estatuto do Campeonato Brasileiro. O time celeste, por sua vez, pediu 15% dos ingressos, alegando reciprocidade, já que essa foi a carga destinada aos atleticanos no clássico do primeiro turno.

No fim, ficou definido que o Cruzeiro teria os 10% dos ingressos estipulados. Mas a briga não parou por aí. O Atlético-MG, alegando questões de segurança, solicitou que a torcida cruzeirense não pudesse levar faixas, bandeiras e instrumentos musicais. O clube celeste chegou a buscar meios de liberar, mas, somente algumas faixas torcidas de organizadas foram penduradas na Arena MRV. Além disso, uma tela foi instalada no setor destinado à torcida estrelada. Um tapume que impedia parte da visão do campo também foi colocado no local.

Revolta da torcida do Cruzeiro

No domingo (22), dia da partida, o pré-jogo pouco passou pelas formações dos times e expectativa para quando a bola rolasse. Nas redes sociais e cobertura esportiva, pipocaram reclamações da torcida do Cruzeiro com as condições encontradas na Arena MRV. A Máfia Azul, maior torcida organizada do clube celeste, emitiu nota de repúdio em relação ao tratamento dado aos torcedores da Raposa. Segundo os cruzeirenses:

  • As portas das cabines dos banheiros masculinos e femininos foram retiradas;
  • Não havia papel higiênico ou sabonete nos banheiros;
  • Não foram vendidas bebidas alcoólicas; a cerveja era sem álcool;
  • Não havia bebedouros na arena e a água estava sendo vendida completamente congelada;
  • A água vendida nos bares acabou durante o jogo;
  • A presença de muitos seguranças de frente a torcida encobria a visão de parte do campo;
  • A instalação da tela de proteção e de um tapume prejudicou a visão da partida.

Cruzeiro se manifesta

O Cruzeiro, em publicação em suas redes sociais, que irá notificar “oficialmente todas as esferas e órgãos públicos para que tomem ciência dos fatos ocorridos”. O clube mineiro incentivou, ainda, que os “torcedores, ora consumidores na Arena MRV, e que se sentiram lesados na forma do Código de Defesa do Consumidor, procurarem os seus direitos junto ao Poder Judiciário e ao Procon-MG”.

Veja a nota na íntegra:

“DESRESPEITO COM O NOSSO TORCEDOR! O Cruzeiro condena veementemente a atitude do Clube Atlético Mineiro e Arena MRV na partida deste domingo. Foram identificadas diversas atitudes que além de descumprir o Lei Geral do Esporte e incitarem a violência, ferem a boa-fé e o espetáculo do futebol. Notificaremos oficialmente todas as esferas e órgãos públicos para que tomem ciência dos fatos ocorridos, bem como recomendamos que os nossos torcedores, ora consumidores na Arena MRV e que se sentiram lesados na forma do Código de Defesa do Consumidor, procurarem os seus direitos junto ao Poder Judiciário e ao Procon-MG.”

Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, apareceu revoltado ao final do jogo. Apesar de não citar nomes, deu a entender que estava se referindo a dirigentes atleticanos. André Lamounier, diretor de Comunicação do Atlético-MG, havia dado declaração na nos dias que antecederam a partida chamando o clube celeste de “ex-rival”.

— Falaram muita m… antes do jogo. Tem que respeitar. Querem profissionalismo? Mas não estão preparados — Gabriel Lima, na zona mista, após o final da partida.

Atlético relata destruição do setor visitante

Apesar das medidas adotadas pelo Atlético com a intenção de evitar “possíveis atos de vandalismo e depredação do patrimônio”, o setor visitante da Arena MRV foi bastante depredado pela torcida do Cruzeiro. Começando pela parte em que os torcedores entram e saem, no caso, no portão 20 do estádio, todas as catracas foram quebradas, principalmente a parte de reconhecimento facial, tecnologia que vem sendo adotada aos poucos. No portão 19, outro usado pelos visitantes, uma câmera de segurança, que fica presa no teto, foi arrancada.

Dentro da Arena MRV, a falta de papéis nos banheiros não impediu os cruzeirenses de entupirem vários vasos no local, que ficou alagado. Os torcedores usaram de tudo para tampar a saída dos sanitários, desde copos de água até alarmes de emergência, que foram arrancados das paredes dos banheiros de PCDs. Além disso, tampas de alguns vasos foram arrancadas.

Nas arquibancadas, um prejuízo e uma depredação ainda maior. Até o momento da postagem desta reportagem, a Arena MRV tinha identificado mais de 150 cadeiras destruídas pelos cruzeirenses. O Atlético ainda relatou que funcionários de limpeza do estádio sofreram “ameaças de forma covarde” de alguns torcedores.

Nesta segunda, acontecerá uma vistoria completa no estádio para formular um laudo com todos os prejuízos encontrados. Uma vistoria prévia ocorreu na sexta (20), conforme consta na ata da reunião na FMF. A intenção do Galo é acionar o Cruzeiro para que paguem o prejuízo. O laudo será lavrado em cartório.

Sobre a questão da falta de portas e itens de higiene nos banheiros, a Arena MRV informou que os itens, tanto papéis quanto sabonetes, foram colocados à disposição minutos antes da bola rolar para o clássico. No entanto, não foi possível repor os estoques pelas ameaças sofridas pelos funcionários da limpeza.

Torcida do Atlético também não se comportou

Não foi só a torcida do Cruzeiro que teve comportamento ruim na Arena MRV. Os atleticanos também fizeram feio em várias situações. Após o gol cruzeirense, que aconteceu no lado onde ficam as principais organizadas do clube, começou uma chuva de copos nos funcionários da Raposa que estavam atrás da meta e comemoraram. Os cruzeirenses tiveram que deixar o local sendo atacados por muitos objetos de atleticanos.

A fúria dos alvinegros foi tanta que alguns entraram em conflito também com os seguranças que ficam na beira do campo. A reportagem da Trivela conseguiu filmar o momento que alguns copos foram arremessados no campo e que um torcedor tentou invadir, mas rapidamente foi contido.

Na súmula da partida, o árbitro Ramon Abatti Abel relatou o arremesso de 10 copos em direção ao gramado. Dois deles foram jogados aos 21 minutos do segundo tempo, antes de uma cobrança de escanteio do Cruzeiro no lado já citado das organizadas do Atlético. Outros oito foram arremessados aos 44 minutos da etapa final e foram em direção a área técnica cruzeirense, que já vencia o jogo no momento.

Confusão na saída de campo

Para fechar as questões extra campo no primeiro clássico da Arena MRV, houve ainda uma confusão entre jogadores na saída do campo para os vestiários. O goleiro do Atlético, Matheus Mendes, não gostou da forma como o volante Filipe Machado e o atacante Paulo Vitor, do Cruzeiro, saíram comemorando e zoando e foi tirar satisfações. A discussão dele com o atacante foi mais calorosa e ambos tiveram que ser contidos pelos seguranças e as assessorias. Formado no Galo e hoje na Raposa, o meia Nikão tentou acalmar os ânimos dos dois lados.

Ainda do lado atleticano, o ge registrou uma discussão calorosa entre os atacantes Paulinho e Pavón com torcedores na escadaria de saída do campo. No vídeo, Paulinho está no fim da escada, mas volta, olha para cima, onde está a torcida, e xinga: “Vai tomar no c*. Vai se f*der”. Já Pavón, que vem depois, sai discutindo e olhando para cima. Quando tenta voltar, ele é contido por um segurança do Atlético e posteriormente por Patrick, que o encaminha para o vestiário.

Atlético-MG “boicota” coletiva

Os problemas envolvendo Atlético-MG e Cruzeiro não ficaram somente no pré-jogo e nas arquibancadas, mas se estenderam até após o fim da partida. E isso acabou respingando na imprensa. A equipe de comunicação da Raposa pendurou uma bandeira do clube na bancada que receberia Zé Ricardo, técnico celeste, para a coletiva de imprensa. A ideia era cobrir a logomarca do “Tour Arena MRV”, para que as imagens fossem transmitidas no canal do clube estrelado no YouTube.

A atitude da equipe celeste irritou a comunicação atleticana, que pediu a retirada da bandeira. O Cruzeiro negou e, por isso, o Atlético-MG desligou o sistema de som da coletiva. Com isso, os jornalistas precisaram se amontoar ao redor da mesa para pegar as falas de Zé Ricardo, já que não havia microfone funcionando para o treinador.

O sistema de som voltou a ser ligado somente na entrevista coletiva de Felipão. A atitude atleticana incomodou os jornalistas e o treinador Zé Ricardo, que apontou a necessidade de uma regulamentação que impeça esse tipo de atitude.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
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