Brasileirão Série A

Atlético-MG assume que errou com o Cruzeiro na Arena MRV, mas prejuízo institucional já está feito

Atlético-MG faz o mínimo ao assumir erro no clássico da Arena MRV, mas prejuízo moral é quase irreparável

O Atlético-MG tomou algumas atitudes no setor visitante no clássico contra o Cruzeiro, onde saiu derrotado por 1 a 0 no último domingo (22), no primeiro clássico da Arena MRV, que causaram revolta. A falta de produtos de higiene e até de portas nos banheiros foi o ponto de maior crítica, que surgiu até dos próprios atleticanos. O CEO do clube assumiu o erro nessa questão, mas, agora, o prejuízo institucional que essas atitudes renderam para a imagem do clube, já está feito.

A torcida do Cruzeiro já esperava uma recepção diferente na Arena MRV. A começar pela tela de proteção instalada na frente do setor, para evitar arremesso de objetos nos atleticanos que estavam no setor abaixo. Mas os cruzeirenses foram surpreendidos ao chegarem no estádio e não encontrarem venda de bebidas alcoólicas e, pior, falta de itens nos banheiros, de papéis e sabão até portas retiradas. Antes do jogo no dia, o Atlético emitiu nota explicando o ocorrido:

As medidas de proibição de venda de bebida alcoólica e retirada de itens dos banheiros foram adotadas com base no monitoramento das forças de inteligência, que apontaram possíveis riscos de atos de vandalismo e depredação do patrimônio.

As informações sobre a falta de itens básicos de higiene e portas nos banheiros se espalhou rapidamente e causou revolta não só na torcida cruzeirense, mas em todas as torcidas do Brasil impactadas pela notícia, até os atleticanos. Em contato com a Trivela, o CEO do Atlético, Bruno Muzzi, assumiu o erro ao retirar os itens citados.

– Infelizmente tomamos muitas decisões com as informações que temos no momento e, às vezes, isso acontece muito rapidamente e nem sempre é a mais acertada! Pecamos em pensar somente na agressividade da torcida organizada do Cruzeiro e não no torcedor comum e de bem.

As denúncias contra o Atlético e a Arena MRV por parte dos cruzeirenses são muitas e o próprio Cruzeiro orientou seus torcedores a buscarem seus direitos na justiça. O que será feito por um grupo de torcedores, como a Trivela informou, que estiveram no estádio atleticano.

Atlético tem imagem manchada

As atitudes tomadas pelo Atlético se espalharam pelo Brasil, que viu as ações do clube e criticou ferrenhamente, entendendo como atos mesquinhos e pequenos para uma instituição tão importante.

O Galo até “acertou” ao prever que haveria quebradeira no setor visitante de seu estádio, foram mais de 280 cadeiras quebradas, quase todas as catracas destruídas, banheiros entupidos e muitos outros itens que geraram prejuízo financeiro para o clube e para a Arena. Mas o prejuízo maior fica para a imagem do Atlético. Os itens são fáceis de substituir, é “só” pagar e trocar, e, segundo o próprio clube alvinegro, a conta vai para o Cruzeiro, ou seja, nem vai sair do bolso atleticano. Agora, a imagem de um clube elitista e que não preza pelo mínimo que um cidadão merece, essa fica e vai ser difícil mudar.

Toda vez que o Atlético fizer algo no bom sentido, sempre vai ter um adversário para lembrar das atitudes do clube na sua própria casa, de como eles recepcionaram os visitantes. Toda vez que o Galo tiver razão ao reclamar de algo contra a sua torcida, esse episódio será lembrado. E o próprio clube pediu isso. Com a justificativa de “medidas preventivas”, o Alvinegro acabou dando um tiro no próprio pé.

Se o Atlético mantivesse o setor visitante como estava nos outros jogos, ele teria hoje “apenas” o prejuízo financeiro e material, e as críticas seriam direcionadas só para os cruzeirenses que quebraram tudo. Ao invés disso, o alvo é o Galo, que ainda vai ter que responder diversos processos na justiça. Ou seja, tentando prevenir prejuízos financeiros, o clube se prejudicou moralmente.

Lado financeiro é prioridade para a diretoria do Atlético

As atitudes tomadas no clássico não são as primeiras do Atlético com o exclusivo pensamento nas finanças, de poupar ou ganhar dinheiro. A atual diretoria tem esse pensamento com ela, principalmente em 2023. Com a justificativa de tentar salvar o clube de uma das maiores dívidas do Brasil, o Galo negociou jogadores e encurtou seu elenco para a temporada. Nas arquibancadas, o preço alto dos ingressos não mudou nem com um pedido da própria torcida nas redes sociais. Os torcedores de classes mais baixas da sociedade não estão tendo oportunidade de conhecer a Arena MRV por conta do alto preço dos ingressos, que ficou ainda maior no clássico.

No fim, o recado que quem cuida do Atlético hoje passa, é que as finanças são mais importantes que tudo, acima até da imagem do próprio clube e de seu torcedor. Ganhar dinheiro, ou poupar para tentar sair das dívidas (muitas delas construídas pelos atuais gestores) é o que importa. Reflexo disso estava na renda do clássico, que superou os R$ 3 milhões e rendeu um ticket médio de mais de R$ 70 por pessoa.

Os atleticanos também não se comportaram

É claro que é extremamente condenável as atitudes dos torcedores do Cruzeiro que depredaram boa parte do setor visitante da Arena MRV. Mas, do outro lado, a torcida do Atlético também não foi exemplo de comportamento. Como Muzzi disse, não pensar no “torcedor comum e de bem” é errado, até porque são a maioria. No entanto, uma minoria também chamou atenção ao fazer feio durante o clássico.

A arbitragem da partida registrou na súmula 10 copos arremessados em campo por torcedores atleticanos. Pior que isso, a Trivela registrou, após o gol do Cruzeiro, torcedores atleticanos tacando objetos em funcionários do clube celeste e da segurança, que estavam atrás do gol onde a rede balançou. Os cruzeirenses tiveram que deixar o local correndo. Além disso, um torcedor tentou invadir o campo, mas foi contido rapidamente.

Como se não pudesse piorar a situação, nesta terça-feira (24), a esposa de Guilherme Arana revelou que ela, seus filhos e outras famílias de jogadores foram hostilizados por alguns torcedores atleticanos na Arena MRV. Copos, latas, cuspes, xingamentos e até ameaças foram feitas em direção aos familiares dos jogadores. Gabriela Melchior disse ter deixado o estádio “tremendo e com uma sensação profunda de tristeza e indignação”, mas que entende que esses atos não representam toda a torcida do Atlético.

Leia o desabafo de Gabriela Melchior na íntegra:

“Nas últimas horas, venho recebendo muitas mensagens de apoio e carinho e resolvi pronunciar. Infelizmente, no domingo, eu, meus filhos e diversas outras famílias passamos por momentos lamentáveis e de muito pânico, dentro de nossa própria casa, na nossa Arena. Algumas pessoas arremessaram copos e latas, além de nos desferirem cusparadas, xingamentos e inúmeras ameaças totalmente agressivas. Foram minutos angustiantes e de muito terror. Para proteger meus pequenos, que estavam em pânico também e excedi e, graças a Deus, nada de mais grave aconteceu. Saí do estádio tremendo e com uma sensação profunda de tristeza e indignação. Mas eu sei que aquele grupo não representa a torcida do Galo, que sempre foi tão amorosa conosco. E esse fato absurdo não muda o enorme carinho e gratidão que eu, o Guilherme e nossa família sentimos pelo Galo e pelos milhares de torcedores que nos tratam com a amor e respeito.”

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander Heinrick

Alecsander Heinrick se formou em Jornalismo na PUC Minas em 2021. Antes da Trivela, passou por Esporte News Mundo, EstrelaBet e Hoje em Dia.
Botão Voltar ao topo