Sul-Americana

Recepção e parceria: A longa ‘amizade sem fronteiras’ entre Lanús e Flamengo

Torcedores argentinos terão apoio dos rubro-negros durante passagem pelo Rio de Janeiro

Que o flamenguista vai torcer para o Lanús no jogo contra o Vasco, nesta terça-feira (22), é meio fácil de imaginar, mas você sabia que a torcida rubro-negra criou forte ligação com os hinchas do clube argentino? A Trivela se debruçou nessa irmandade sul-americana e conta a história dessa aliança, que promete se fazer presente na arquibancada visitante de São Januário.

Criada em 1995, ano de comemoração do centenário do Flamengo, a Fla Manguaça surgiu de um grupo de amigos apaixonados pelo clube. Desde então, esses amigos passaram a frequentar os estádios juntos, conciliando o amor pelo clube da Gávea e a cerveja.

Considerada uma das torcidas organizadas mais influentes da arquibancada rubro-negra hoje, a Fla Manguaça se orgulha de ser reconhecida por sua linha de conduta. Os manguaceiros, como os adeptos do movimento gostam de ser chamados, repudiam todo e qualquer tipo de violência e prezam pela irreverência, bom humor e confraternização com os seus.

Integrantes da Fla Manguaça e da Barra 14 no Estádio do Lanús
Integrantes da Fla Manguaça e da Barra 14 no Estádio do Lanús (Foto: Divulgação/Fla Manguaça)

Quando se trata de confraternização, é aí que entra o Lanús nessa história. Desde 2012, a Manguaça nutre aquilo que chama de “amizade sem fronteiras” com a La Barra 14, principal barra brava do time grená. Em entrevista à Trivela, Felipe Amorim, presidente da organizada flamenguista, revelou que um amigo argentino fez a “ponte” entre as torcidas e foi o responsável pelo início da parceria.

Quando jogamos com eles lá na Argentina, na Libertadores de 2012, um amigo nosso argentino, que morou por muitos anos aqui no Rio e é de Lanús, fez uma recepção para a gente lá e nos aproximou — disse Felipe.

O jogo citado por Felipe aconteceu no dia 15 de fevereiro de 2012. Na ocasião, Flamengo e Lanús empataram por 1 a 1 em La Fortaleza, como é conhecido o Estádio Ciudad de Lanús Néstor Díaz Pérez, em jogo válido pela fase de grupos da Libertadores. A recepção dos granates (apelido dos torcedores do Lanús) na Argentina foi tão calorosa, que a Manguaça se sentiu na obrigação de fazer o mesmo pelos hermanos.

Dito e feito. Na partida do returno, realizada no Estádio Nilton Santos, os rubro-negros receberam os argentinos com o mesmo entusiasmo e prestatividade no Rio de Janeiro. Em campo, o Flamengo venceu por 3 a 0, mas ficou fora das oitavas de final, já que terminou na terceira colocação do Grupo 2. Líder da chave, o Lanús avançou.

Churrasco, apoio na logística e bandeira da união

Naquela mesma Libertadores de 2012, Vasco e Lanús se enfrentaram nas oitavas de final. No dia 2 de maio, o Cruzmaltino bateu o Granate por 2 a 1 em São Januário e largou na frente no mata-mata. Apesar do revés, a data simbolizou a consolidação da união Fla Manguaça e Barra 14. Os rubro-negros recepcionaram os torcedores argentinos no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e deram suporte durante aos hermanos a estadia na cidade.

Desde então, quando o Flamengo joga em Buenos Aires ou o Lanús joga no Rio, o roteiro é sempre o mesmo: carne na brasa, cerveja gelada, apoio mútuo e confraternização entre rubro-negros e granates. Uma irmandade que ambos os lados têm muito orgulho de demonstrar.

— Sempre que vamos à Argentina, temos o apoio deles em tudo que precisamos por lá. Sempre nos reunimos com toda torcida para um churrasco para confraternizar. Quando eles vêm aqui (ao Rio de Janeiro), ajudamos em tudo que é possível e fazemos uma recepção em nossa sede. Nesse jogo contra o Vasco não será diferente — garantiu Felipe.

E não é só nos pré-jogos que essa amizade se faz presente. Nas arquibancadas, seja do Maracanã ou de La Fortaleza, bandeiras simbolizando a união são expostas durante algumas partidas. A primeira confecção, segundo Felipe, partiu dos argentinos. Pouco depois, a Fla Manguaça retribuiu: escudo da torcida manguaceira e emblema do Lanús lado a lado.

— Depois de uns anos de amizade, eles fizeram uma bandeira com os símbolos (das duas torcidas) para colocar em alguns jogos deles lá em Lanús. E nós fizemos a bandeira com o escudo do Lanús, para usarmos em alguns jogos no Maracanã.

Bandeiras da união entre Fla Manguaça e Barra 14
Bandeiras da união entre Fla Manguaça e Barra 14 (Fotos: Divulgação)

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Argentino carioca? O torcedor do Lanús mais fanático pelo Flamengo

Nascido em Lanús, Fernando Servian é um verdadeiro apaixonado pelo clube granate e… pelo Flamengo. Residente de Pipa, no Rio Grande do Norte, o professor de educação física teve papel fundamental na construção da amizade entre as duas torcidas. Em contato com a reportagem da Trivela, ele conta como se desdobrou para fortalecer a união, atualmente uma das mais reconhecidas no futebol sul-americano.

Eu sempre recebi a torcida do Flamengo em Buenos Aires. Para nós, era muito importante. Ficávamos na expectativa, com objetivo de seguir crescendo nessa amizade. Então, esperávamos eles no aeroporto, levávamos para o hotel e depois fazíamos um churrasco com todo o pessoal da torcida (La Barra 14). Fizemos muitos encontros para fortalecer essa amizade — explicou o argentino.

E Fernando talvez seja a maior prova de que a união não só deu certo, bem como extrapolou a arquibancada e os encontros antes dos jogos. O professor argentino fez amizades para vida e é muito grato por isso. Convidado por Felipe e sua esposa, o hermano granate passou a Copa do Mundo de 2014 inteira no Rio de Janeiro, hospedado na casa do amigo rubro-negro.

— Já fui muitas vezes ao Rio de Janeiro. A convite do Bolota (apelido de Felipe Amorim), fiquei a Copa do Mundo de 2014 inteira com a Fla Manguaça no Rio. Morei na casa dele e passei os melhores dias da minha vida. Sou muito grato a ele e sua esposa. Estão para sempre no meu coração, porque fizeram muita coisa por mim sem nenhum tipo de interesse.

O contato com os flamenguistas fez Fernando se apaixonar pelo clube carioca e por sua gente. E não há coisa no mundo que o deixe mais animado do que a festa protagonizada pelas duas torcidas que ele tanto ama. Festa essa, inclusive, apreciada por pessoas importantes de dentro do Lanús.

— A gente fica muito feliz quando chega no Rio e é recebido pela Fla Manguaça. Para mim, a união faz as pessoas. Todo mundo sabe quando a Fla Manguaça chega no estádio, todos querem ficar com o bonde e cantar as canções da Manguaça e da Barra 14. Fica uma loucura, cara. O torcedor do Lanús simpatiza muito com a Manguaça, e os diretivos do Lanús simpatizam com essa amizade.

Eu sou Flamengo, cara. Tenho livros do Flamengo, tenho mais camisas do Flamengo que do Lanús. Sou o argentino mais carioca que você vai conhecer!

A missão agora é São Januário

Para Fernando, todos os caminhos levam a São Januário nesta terça-feira (22). Ele estará presente e quer o apoio dos rubro-negros na casa cruzmaltina. A ideia é fazer um grande churrasco de recepção aos argentinos na sede da Fla Manguaça e, depois, partir para o estádio.

— Eu não sou da Barra 14, mas conheço tudo, porque desde pequeno fico com a barra nos jogos do Lanús. Os chefes da torcida são meus amigos, e estamos preparando um grande recebimento para todos os caras que virão da Argentina para o Rio. Faremos um grande churrasco na sede da Fla Manguaça. Quero que todo mundo fique em São Januário, contra o Vasco.

— Meu propósito, meu objetivo, é que a torcida do Flamengo fique conosco lá. Arrumo ingresso para todos, para invadirmos São Januário.

“Maior clube de bairro do mundo”, como gosta de se gabar, o Lanús lidera o Grupo G da Copa Sul-Americana, com quatro pontos e um saldo de gols superior ao do Vasco. Um empate no Rio de Janeiro é visto como bom resultado pelo time argentino, já que “seguraria” o Cruzmaltino na segunda colocação e se manteria na ponta independente do resultado de Melgar x Puerto Cabello.

Foto de Guilherme Calvano

Guilherme CalvanoRedator

Jornalista pela UNESA, nascido e criado no Rio de Janeiro. Cobriu o Flamengo no Coluna do Fla e o Chelsea no Blues of Stamford. Na Trivela, é redator e escreve sobre futebol brasileiro e internacional.
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