Clube peruano presta apoio a profissional acusado de racismo preso no Brasil
Universitario, que enfrentou o Corinthians na terça-feira (11), pela Sul-Americana, estendeu faixa antes de jogo no país

O Universitario, do Peru, se manifestou institucionalmente prestando solidariedade ao preparador físico do time que foi preso no Brasil na última terça-feira (11) acusado de injúria racial contra torcedores do Corinthians. Os jogadores da equipe estenderam uma faixa em apoio ao profissional e o registro foi publicado nas redes sociais do clube.
Sebastian Avellino Vargas, preparador físico do Universitario, ainda está preso no Brasil. O jogo contra o Corinthians aconteceu na Neo Química Arena, em São Paulo, e foi válido pelos playoffs da Copa Sul-Americana. O time brasileiro venceu por 1 a 0.
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“Estamos contigo, Sebastian”
Antes da partida entre Universitario e Unión Comercio, pelo Campeonato Peruano, na sexta-feira (14), os jogadores posaram para foto com uma faixa em apoio ao profissional. A mensagem dizia “Estamos contigo, Sebastian A”. Na postagem do clube nas redes sociais os dizeres foram “força, professor”.
?Ⓤ????, ????? ?#ConLaUHastaElFinal pic.twitter.com/E4DQIk2kas
— Universitario (@Universitario) July 15, 2023
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Como foi o episódio de racismo
Tudo teria acontecido durante o aquecimento da equipe peruana, cerca de meia hora antes de o jogo começar. Vargas teria imitado um macaco na direção das arquibancadas, segundo torcedores que o denunciaram à polícia. Três testemunhas foram ouvidas em uma delegacia localizada dentro do estádio, e depois disso o suspeito foi detido.
A delegação do Universitario voltou ao Peru durante a madrugada de terça para quarta-feira, mas Sebastian Avellino Vargas passou a noite preso. Ele foi levado ao 65° Distrito Policial, nas imediações do estádio, e teve a companhia de representantes do Consulado do Peru em São Paulo. Durante a tarde, o suspeito passou por audiência no Fórum Criminal da Barra Funda, onde teve a prisão em flagrante convertida para preventiva. Ele pode recorrer para responder em liberdade.

Como a Conmebol vai tratar a denúncia
Já há uma investigação em curso na Unidade Disciplinar da Conmebol, de âmbito esportivo, que independe da investigação criminal da Polícia Civil de São Paulo. Neste primeiro momento há uma varredura de todo o material disponível sobre o suposto ato racista, desde vídeos publicados nas redes sociais até as imagens do circuito de segurança da Arena. É um procedimento padrão para denúncias de discriminação.
Esta investigação preliminar colhe os elementos iniciais, então a Conmebol decide ou não abrir um Expediente Disciplinar. Se aberto o expediente, o preparador físico e o Universitario (PER) terão prazo de cinco dias para se pronunciarem e pode haver uma audiência sobre o caso. É só ao final desta apuração mais cuidadosa que a entidade decide punir ou não o suspeito e o clube. Nos casos recentes na Libertadores e Sul-Americana, as punições costumam ser publicadas duas semanas após os fatos.
?Tremenda imagen: Sebastián Avellini, PF de Universitario de Perú, fue detenido y encapuchado en Brasil por supuestos gestos racistas contra la hinchada de Corinthians.
?Fabio Lazaro pic.twitter.com/mTJx2Jinv8
— El Gráfico (@elgraficoweb) July 12, 2023
Time peruano tem outros episódios racistas
Em nota oficial, o Universitario defendeu que “a honra de um profissional do clube foi manchada” e que a detenção do preparador físico suspeito de racismo foi algo “inadmissível, degradante e indignante”. Neste comunicado de sete parágrafos, o clube usou o adjetivo “denigrante”, que não tem tradução perfeita para a língua portuguesa mas que seria “o ato de denegrir”, um termo que por si só levanta discussões sobre o racismo.
A nota oficial não é assinada, mas a versão do clube peruano é a de que os corintianos xingavam jogadores e comissão técnica adversários.
“Torcedores eufóricos nos insultam, cospem e nos atacam, e o detido é um dos nossos. Incrível”, escreveu o principal dirigente do Universitario, Jean Ferrari, que está no Brasil e acompanha o suspeito. O próprio Ferrari é acusado de imitar um macaco em direção à torcida do Alianza Lima durante um jogo do ano 2000, quando era jogador do Sporting Cristal.
Em 2022, um jogo da liga peruana contra o Melgar foi interrompido após um torcedor do Universitario arremessar uma banana no atacante Kevin Quevedo. O clube foi punido no equivalente a R$ 60 mil e teve um setor fechado do estádio Monumental por um jogo. Além disso, a Comissão Disciplinar da Federação Peruana de Futebol obrigou o clube a “fazer campanha contra o racismo”.
Na noite de terça-feira (11), terminada a partida entre Corinthians e Universitario, o time peruano saiu de campo nervoso, tomou a detenção de Vargas como uma perseguição ao clube e prometeram algum tipo de vingança no jogo de volta, na terça-feira que vem (18). “Vocês vão ver no próximo, lá nós seremos locais”, teriam dito, segundo corintianos contaram à Trivela.