Sul-Americana

O Independiente del Valle sobrou em eficiência e, diante de um São Paulo decepcionante, é bicampeão da Sul-Americana

O Independiente del Valle teve méritos evidentes em Córdoba, ao aproveitar os momentos do jogo para marcar seus gols e controlar o São Paulo durante a maior parte do tempo, em tarde muito abaixo dos tricolores

O Independiente del Valle disputou a elite do Campeonato Equatoriano pela primeira vez em 2010, mas não precisou de muita rodagem para virar um clube conhecido além das fronteiras. Com um trabalho excepcional na revelação de jogadores e na escolha de seus treinadores, o IDV bate cartão nas competições continentais. Chegou surpreendentemente à final da Libertadores em 2016 e conquistou a Copa Sul-Americana em 2019. A terceira decisão da Conmebol em sete temporadas aconteceu neste sábado, no Estádio Mario Alberto Kempes, em Córdoba. Os negriazules buscaram o bicampeonato da Sula, numa atuação claramente superior contra o São Paulo. Os brasileiros tinham mais torcida e mais tradição, mas não apresentaram o melhor futebol, nem de longe. Com um gol logo de início e o golpe fatal no meio do segundo tempo, o Independiente del Valle sobrou em eficiência e se tornou o quarto time a erguer duas vezes o troféu da Copa Sul-Americana – ao lado de Boca Juniors, Independiente e Athletico Paranaense.

O São Paulo deixa Córdoba numa tarde frustrante. A torcida tricolor se mobilizou e tinha motivos para acreditar no sucesso, mesmo que não seja um momento de encher os olhos do clube. Porém, os são-paulinos fizeram uma atuação ruim. Foi um primeiro tempo fraco, em que o gol sofrido desestabilizou o time. Sobrava nervosismo e principalmente impedimentos. A melhora na segunda etapa não durou tanto e a equipe de Rogério Ceni demorou a reagir após sofrer o segundo tento. Quando surgiram algumas tentativas, já não havia mais tempo hábil para uma reviravolta e duas expulsões ocorreram nos acréscimos, com todo destempero. Para quem têm três Libertadores em sua estante, além de Supercopa, Copa Conmebol e a própria Sul-Americana, o resultado decepciona. O que não tira os méritos do Independiente del Valle.

Dentro de campo, o Independiente del Valle foi aquilo que se esperava: um time técnico, que sabe trabalhar a bola, mas que também se defende bem e aproveita os momentos da partida. A mescla entre veteranos e garotos dá bastante certo. Ídolos de outras conquistas tiveram boas atuações, como Richard Schunke na defesa e Cristian Pellerano na cabeça de área. O goleiro Moisés Ramírez também fez intervenções importantes, até quando os lances não valeram por impedimento. De qualquer maneira, a dupla que acabou com a partida foi composta por Lorenzo Faravelli e Lautaro Díaz, se combinando em ambos os gols. Já no banco, o técnico Martín Anselmi leva seu primeiro título no cargo, num trabalho que começou em maio, embora já fosse o assistente de Miguel Ángel Ramírez na campanha de 2019.

A falta de público no Estádio Mario Alberto Kempes era uma questão desde os dias anteriores, e o temor se cumpriu. A própria transmissão escancarava setores vazios. O São Paulo conseguiu colocar a maioria da torcida e se fazia bem mais audível, numa atmosfera razoável. Porém, os clarões nas tribunas eram lamentáveis, e com responsabilidade direta da Conmebol. Com os preços impraticáveis de ingressos e os custos também de transportes, pouca gente se viu atraída ao sacrifício financeiro. Também não foram muitos os cordobeses no evento, embora eles também se fizessem presentes. Mais uma vez, a final única tem sólidos argumentos contrários e que não indicam uma solução, diante do risco de também rolar uma decisão de Libertadores esvaziada em Guayaquil.

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Em campo, o São Paulo apresentou uma escalação sem grandes surpresas. Felipe Alves era o goleiro, na defesa com Igor Vinícius, Diego Costa, Léo Pelé e Reinaldo. O meio contava com Pablo Maia e Rodrigo Nestor, além de Alisson e Patrick mais abertos. Na frente, Luciano e Calleri se combinavam. Já o Independiente del Valle entrava com sua formação com três zagueiros, repetida nesta campanha. O goleiro Moisés Ramírez tinha logo à frente Mateo Carbajal, Richard Schunke e Luis Segovia. Matías Fernández e Jhoanner Chávez eram os alas. No meio, o veterano Cristian Pellerano ditava o ritmo, apoiado por Marco Angulo e Lorenzo Faravelli. Junior Sornoza e Lautaro Díaz ficavam mais soltos na frente.

O São Paulo tentou impor um ritmo mais forte durante os primeiros minutos. Adiantava a sua equipe e buscava abafar a saída de bola do Independiente del Valle. No entanto, os equatorianos não se desesperavam e saíam pelo chão. Um aviso de perigo veio num bom avanço pela direita dos negriazules anulado por impedimento. Sem que os tricolores aproveitassem esse ímpeto inicial, o IDV acalmou a partida e começou a avançar em campo. Tramava os passes com qualidade e não demorou a chegar. Aos 12, Lautaro Díaz saiu pelo lado direito da área e chutou para Felipe Alves salvar com o pé. O mapa da mina estava desenhado. Um minuto depois, surgiu o gol. Depois de um corte ruim de Diego Costa, Faravelli teve espaço para armar na intermediária e deu um passe na medida para a infiltração de Díaz, de novo pela direita. O atacante chutou cruzado e superou Felipe Alves.

O baque afetava o São Paulo, que via o Independiente del Valle mais seguro em campo. Logo Sornoza teria uma batida por cima. Quando os são-paulinos despertaram, passaram a contar com a participação de Calleri. O atacante recebeu de Luciano e testou a primeira vez, mas sem dificuldades para Moisés Ramírez. A resposta do IDV seria muito mais contundente, numa pancada de longe de Sornoza que Felipe Alves desviou levemente e ainda bateu na trave. Já aos 19, seria a vez de Calleri tentar driblar o goleiro Ramírez, mas perdeu a bola e estava impedido. Os negriazules dominavam o meio-campo, e isso facilitava o jogo.

Uma leve melhora do São Paulo ocorreu depois dos 20 minutos, com o time tentando ficar mais com a bola e ocupar o campo de ataque. Ainda faltava caprichar na conclusão das jogadas, com a linha de cinco defensores do Independiente del Valle segurando a pressão. Os melhores lances vinham com Calleri, geralmente aproveitando o lado esquerdo da zaga. O argentino teve outra escapada aos 29, em que chegou a driblar Moisés Ramírez, mas bateu para fora e também estava impedido. O IDV passava a ter mais dificuldades para construir e a partida se travava no meio. O Tricolor, mesmo assim, não apresentava tanto repertório. Patrick chegaria a reclamar de um pênalti aos 39, enquanto Luciano teve uma cabeçada fraca e impedido. O time parecia desconectado e nervoso.

(JUAN MABROMATA/AFP via Getty Images/One Football)

A melhora do São Paulo no segundo tempo foi gritante. Em cinco minutos o time já tinha feito bem mais que nos 45 iniciais. Néstor chutou firme para defesa de Moisés Ramírez, antes de duas boas chegadas pelo alto. Calleri teve uma cabeçada para fora e, logo depois, quando o argentino tentou passar para o meio da área, Léo chegou atrasado. A equipe estava mais acesa e encontrava soluções, só não precisava deixar o desespero bater. Enquanto isso, o Independiente del Valle não representava muito perigo, mas conseguiu sair para o ataque com o passar dos minutos e ganhou tempo com atendimentos médicos, incluindo um encontrão de Felipe Alves com Faravelli.

Enquanto o São Paulo esfriava, o Independiente del Valle começava a vislumbrar a chance de aumentar sua vantagem. O time apostava mais nas bolas longas. E essa foi a chave para o segundo gol, aos 22 minutos. Schunke deu um lançamento primoroso para a ponta esquerda, onde encontrou Sornoza. O meia aparou para Lautaro Díaz, que deu um sutil toque na área. Retribuiu a assistência e deixou Faravelli na cara do gol para definir nas redes. De novo, o Tricolor balançava. E quase deu para fazer o terceiro, num contra-ataque em que o IDV seria travado duas vezes dentro da área. Mais uma vez, quando os são-paulinos tiveram uma investida mais perigosa na área, foi com Calleri. Chegou a ficar no mano a mano com o goleiro Ramírez, que fez uma ótima defesa e depois sofreu falta. A torcida tricolor emudecia, enquanto os argentinos presentes cantavam “Décime que se siente”.

Lautaro Díaz saiu mancando e deu lugar a João Ortíz com 28 minutos. Com a demora de Rogério Ceni para mexer, o São Paulo realizou suas primeiras trocas aos 30, com Giuliano Galoppo, Igor Gomes e Éder nas vagas de Alisson, Patrick e Rodrigo Nestor. A equipe parecia perdida. Sob gritos de olé, o Independiente del Valle trocou passes e Ortiz arriscou de longe para defesa difícil de Felipe Alves. Somente depois dos 35 minutos é que o São Paulo se lembrou que dava para reagir. Moisés Ramírez fez grande defesa em cabeçada de Eder, em lance que não valeu, e depois o goleiro sofreu falta numa saída diante de Luciano. Galoppo teve um chute para fora, mas os são-paulinos não passavam de espasmos. Pior, o destempero pesou, com as expulsões de Calleri e Diego Costa – este, por uma agressão em Jaime Ayoví. Foi uma reta final melancólica, sem muito brio e nem bola – o que faltou em toda a tarde. Nas arquibancadas, gritos contra a presidência do São Paulo, além do olé dos argentinos. O Independiente del Valle esperava apenas o apito para ser campeão.

O Independiente del Valle se valeu do atalho da Libertadores para ser campeão. A equipe caiu na fase de grupos, em chave que tinha Atlético Mineiro e Tolima, mas cresceu nos mata-matas da Copa Sul-Americana após ser repescada. Somou seis vitórias em sete jogos contra Lanús, Deportivo Táchira, Melgar e São Paulo. Os tricolores foram as vítimas derradeiras de um time que esbanjou eficiência na campanha e também segurança. O bicampeonato é com méritos. Resta aos são-paulinos aceitarem o que não deu certo em Córdoba, num resultado inapelável.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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