Sul-Americana

Num ambiente pulsante, o Colón cresceu e arrancou a virada que complica a vida do Galo na Sul-Americana

Poucos estádios no mundo possuem apelidos tão intimidadores quanto o Cemitério de Elefantes. A alcunha surgiu na década de 1960, quando o Colón se gabou de vencer uma série de adversários gigantes, mesmo figurando na segunda divisão local. Do Santos de Pelé à própria seleção da Argentina, passando pelos cinco grandes do país, o clube de Santa Fe tombou elefantes. E a mística do estádio ressurgiu nesta quinta-feira, no jogo mais importante da história internacional do Colón. Os sabaleros receberam o Atlético Mineiro e superaram os antigos campeões continentais, no primeiro duelo pelas semifinais da Copa Sul-Americana. Liderados por Pulga Rodríguez, que entrou em campo mesmo depois de perder seu pai no início da semana, os santafesinos buscaram a vitória por 2 a 1, de virada.

A derrota do Corinthians para o Independiente del Valle nesta quarta-feira já deixava o Atlético Mineiro em estado de alerta. Não dava para menosprezar os oponentes, sobretudo diante da sequência ruim que o Galo sustenta no Brasileirão. O Colón conta com uma equipe experiente, com jogadores rodados em competições internacionais, a exemplo de Pulga Rodríguez, Wilson Morelo, Marcelo Estigarribia e Fernando Zuqui. Protagonista de uma grande campanha continental com o Atlético Tucumán, o técnico Pablo Lavallén é outro ponto de equilíbrio dos santafesinos. E o ambiente no Cemitério de Elefantes era intenso. As arquibancadas, abarrotadas por 40 mil torcedores, pareciam em transe para empurrar os sabaleros.

A atmosfera pulsante em Santa Fe, entretanto, não impediu que o Atlético fizesse o seu jogo durante o primeiro tempo. O Galo conseguiu administrar bem a situação e a equilibrar as ações, contra um Colón mais contido. Não havia uma pressão dos anfitriões dentro de campo. Em meio a um duelo truncado, de poucas emoções, a primeira chance foi dos atleticanos, em tabela entre Cazares e Di Santo, à qual o goleiro Leonardo Burián se antecipou. Entre os muitos erros de passes, nenhum dos times conseguia se impor. Os mineiros podiam se defender com segurança, à espreita de uma chance no ataque.

Diante da falta de finalizações, o gol do Atlético Mineiro saiu num lance ao acaso – e de pura sorte. O Galo trocou passes pelo meio, mas parecia não ter vez contra a defesa do Colón, já bem posicionada. O problema veio no momento em que os santafesinos tentaram afastar o perigo. Elias errou o passe de calcanhar e, na intenção de rifar a bola, Guillermo Ortíz chutou bem em cima de Chará. A bola bateu no colombiano e pegou o goleiro Burián desprevenido. Morreu direto nas redes, premiando a atuação confortável dos atleticanos. O Atlético ainda teve uma boa chegada com Di Santo, que não aproveitou. Somente nos acréscimos é que os sabaleros realmente incomodaram, mas sem fazer Cleiton trabalhar.

O Colón acordou logo no início do segundo tempo. Os santafesinos apostavam no jogo aéreo e nas bolas paradas, que logo deram frutos. Um cruzamento de Alex Vigo resvalou no travessão e Pulga Rodríguez cobrou falta para defesa de Cleiton. Já aos seis minutos, aconteceu o empate. Após cobrança de escanteio, Gonzalo Escobar teve liberdade para desviar de cabeça. A bola ia entrando, mas o instinto de artilheiro falou mais alto e Morelo completou quase em cima da linha. O tento foi a deixa para que o Cemitério de Elefantes se incendiasse de vez e os sabaleros imprimissem um ritmo mais intenso.

Em meio à pressão do Colón, o Atlético ia se segurando. Os argentinos não criavam oportunidades claras, mas eram bem mais insistentes no segundo tempo. Enquanto isso, restava ao Galo apostar nos contragolpes. Burián também seria exigido aos 20 minutos, num chute de Vinícius que deu trabalho ao goleiro adversário. Ainda assim, a iniciativa era dos santafesinos. Os atleticanos seriam limitados apenas a uma cobrança de escanteio fechada de Otero, que quase terminou em gol.

A partir dos 35 minutos, o Colón passou a encontrar mais espaços para finalizar. Rodrigo Aliendro pararia em Cleiton, antes de mandar para fora. Já aos 41, aconteceu a prenunciada virada. Morelo inverteu a bola dentro da área para Zuqui, que bateu rasteiro. Então, livre, Pulga Rodríguez fez sua estrela brilhar. O camisa 10 só precisou emendar para dentro e pôde realizar sua homenagem ao pai. O armador seria substituído logo depois, sob muitos aplausos no Cemitério de Elefantes. Apesar da desvantagem, o Atlético não deu qualquer sinal de reação. Foi o Colón quem seguiu em cima e, ao apito final, experimentou a exultante festa de sua torcida. Havia um terremoto nas arquibancadas.

A derrota não impõe uma situação tão complicada ao Atlético Mineiro, especialmente pelo gol fora de casa, que concede o direito à vitória simples em Belo Horizonte. Ainda assim, foi uma atuação insuficiente do Galo. Que a equipe tenha conseguido controlar os oponentes durante o primeiro tempo, ficou devendo no ataque e permaneceu no fio da navalha ao jogar pelo empate. Na volta, os alvinegros dependerão da pressão de sua massa no Mineirão para crescer e buscar a final da Sul-Americana. E que tenha suas deficiências, o Colón já deixou bem claro que também conhece os atalhos ao que seria um momento inigualável à sua apaixonada torcida. O Cemitério de Elefantes viveu esta noite ao máximo sentimento.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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