As distâncias (e não somente físicas) para as torcidas de Athletico e Red Bull Bragantino rumo à final da Sul-Americana
As torcidas marcam presença em Montevidéu às vésperas da decisão, mas os obstáculos são vários até as arquibancadas do Centenário

* Direto de Montevidéu
Quinhentos quilômetros separam Bragança Paulista de Curitiba. Já Montevidéu, capital do Uruguai e palco da final da Copa Sul-Americana, está a 2 mil km da cidade paulista e a 1,5 mil km da capital paranaense. No Campeonato Brasileiro, nove posições separam os finalistas da Grande Conquista, já que o Red Bull Bragantino tem 11 pontos de vantagem frente ao Athletico. Isso sem contar as diferenças históricas percorridas por ambos os clubes, com caminhos bem distintos, embora o fortalecimento recente os leve ao centro do gramado do Estádio Centenário.
Neste sábado, 20 de novembro, às 17h, essas diferenças não importarão. E as odds do jogo confirmam isso, com os números oferecidos pela KTO apontando um extremo equilíbrio entre os dois oponentes: 1.83 para cada. Numa final continental, tratando-se de jogo único e campo neutro, nada mais importa. Como dizem, “é um campeonato à parte” que definirá o dono do troféu – o primeiro do Braga ou o segundo do Furacão na competição.
Por falar em aposta, a torcida rubro-negra confia no bom desempenho dos comandados de Alberto Valentim e, consequentemente, acredita no bicampeonato. Estima-se que mais de 4 mil torcedores rubro-negros chegaram à capital uruguaia para este final de semana, sendo que ainda há excursões de torcedores se deslocando de ônibus pelo sul do Rio Grande do Sul para fazer o tradicional bate-e-volta, com mais de 3 mil km e 40 horas de estrada, entre Curitiba e Montevidéu.
Apoio rubro-negro
Na quinta-feira (18), em uma falha tentativa de pescar algo no treino fechado do Athletico Paranaense, encontrei torcedores do Furacão que alentavam, mesmo que do lado de fora do Estádio Luis Franzini, casa do Defensor e localizado nos arredores de um parque na zona costeira de Montevidéu. Cantavam músicas tradicionais da equipe paranaense, enquanto os jogadores realizavam os primeiros treinos no Uruguai.

Entre os torcedores que apoiavam o treino do Furacão sob um sol escaldante, estava Ricardo Crestani, que trabalha como assessor jurídico no estado do Paraná. Ele viajou ao lado de três amigos e contou que foi necessária muita organização para conseguir chegar a Montevidéu: “Assim que passamos pelo Peñarol, começamos a nos organizar. Todos trouxemos pastas de documentos, contendo toda a parte burocrática”.
Além dos documentos obrigatórios para ingressar no país vizinho (como o ciclo vacinal completo, o seguro viagem, o teste de RT-PCR negativado e a declaração juramentada), os viajantes ainda precisaram da habilitação verde, já que vieram de carro. “Por um lado, a final única é legal pelo clima e pela desculpa para viajar, mas foge da realidade do torcedor sul-americano, afastando torcedores que poderiam ir em dois jogos. Na Baixada, teríamos 40 mil torcedores”, enfatizou Ricardo.
Lucas Gomes, torcedor do Athletico Paranaense que não conseguiu ir a Montevidéu, ainda salientou em conversa por telefone: “Gostaria de estar presente num momento como esse, mas os custos da viagem e do ingresso são maiores que meu salário”. Além da alta do dólar e da instabilidade econômica vivida no Brasil, a final em jogo único, em Montevidéu, é considerada um luxo.
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Juntos pelo Braga
No dia 18, quando inaugurou a Embajada del Hincha (Embaixada do Torcedor, em português), um espaço no estilo “fan fest” organizado pela Conmebol, a presença de torcedores do Red Bull Bragantino era nitidamente baixíssima, já que se via apenas uma ou duas camisas do Massa Bruta circulando pelas atividades do evento, enquanto a torcida paranaense estava presente em bom número. No dia 19, pela manhã, um ônibus com cerca de 40 torcedores do Braga chegou a Montevidéu.
O bancário Arthur Baratella viajou junto do pai e do irmão. O deslocamento iniciou na terça-feira (16) à noite, em Bragança Paulista, e terminou na sexta-feira (19), já que pararam para dormir em Porto Alegre. Além da família Baratella, a excursão também contou com a presença de outros torcedores que acompanham o Bragantino há décadas, com um clima bem familiar – conforme as palavras do próprio Arthur.

Questionado sobre o projeto da Red Bull no Massa Bruta, ele não hesitou: “Estamos muito felizes, com oportunidades que talvez nunca aconteceriam.” Inclusive, o pai, que acompanhou os tempos áureos do clube de Bragança no início dos anos 1990, concorda que a parceria é relevante para o sucesso do clube paulista, embora defendam o uso do escudo e das cores do Bragantino, já que a Red Bull modificou a identidade visual do clube.
Ainda, ressaltam a importância de um Red Bull Bragantino forte para aproximar as crianças do clube, para que a próxima geração tenha o Massa Bruta como clube principal, diferentemente do que acontece atualmente, quando os pequenos acabam tendo um clube de coração da capital, que disputa títulos, e o clube da cidade, o Bragantino.
Ao todo, os torcedores do Red Bull Bragantino percorrerão, nos trajetos de ida e volta, mais de 50 horas de estrada, sem contar as paradas. Ou, ainda, mais de 4 mil km, distância que, aproximadamente, equivale à ida do Chuí, extremo Sul do país, até o Pará, quase atravessando o Brasil de uma ponta a outra.
Dos cerca de 20 mil ingressos colocados à venda, estima-se um público de apenas 10 mil torcedores, sendo, inclusive, parte composta por uruguaios. Mas isso não se deve à falta de fanatismo dos torcedores de Athletico Paranaense e de Red Bull Bragantino, mas, sim, do alto custo que acompanha o jogo decisivo. Não bastasse os gastos das longas viagens, hospedagem e alimentação, somam-se os custos de testes RT-PCR e o altíssimo valor dos ingressos: U$ 100, o mais barato – cerca de R$ 560, considerando o câmbio. Portanto, espera-se que muitos torcedores, tanto paranaenses quanto bragantinos, acompanhem o jogo do lado de fora do lendário Estádio Centenário e desfrutem das emoções pré e pós-jogo.