Sul-Americana

Após a absurda mudança da semifinal para Assunção, Coquimbo Unido protesta: “Jogaremos no Chile sim ou sim”

Pela primeira vez, a Conmebol adiou um jogo das competições continentais por causa do surto de COVID-19. Coquimbo Unido e Defensa y Justicia deveriam se enfrentar pela ida das semifinais da Copa Sul-Americana nesta quinta-feira, no Chile. Todavia, três jogadores argentinos testaram positivo para o coronavírus. Em conformidade com as recomendações sanitárias, as autoridades chilenas determinaram o isolamento de toda a delegação argentina, já que seus demais membros tiveram contato com pessoas contaminadas. Assim, o duelo acabou remarcado para 12 de janeiro e ocorrerá em Assunção – numa mudança absurda de local até agora sem explicação oficial da confederação, mas com entrelinhas explícitas.

Diferentemente do que aconteceu ao longo da temporada, a Conmebol se viu obrigada a remarcar um jogo por conta da situação sanitária. Mesmo com surtos de coronavírus em diferentes clubes, a suspensão não havia acontecido. O caso mais emblemático ocorreu durante a viagem do Flamengo ao Equador, para enfrentar Barcelona e Independiente del Valle pela Libertadores. Diante do alto número de casos na delegação rubro-negra, as autoridades equatorianas esboçaram a proibição da partida contra o Barcelona. Todavia, a Conmebol usou sua força política e, através de seus dirigentes, conseguiu se articular com as autoridades locais para realizar o duelo.

Desta vez, as autoridades chilenas não foram submissas à Conmebol. A partida entre Coquimbo Unido e Defensa y Justicia já tinha sido transferida de Coquimbo a Santiago, por conta dos requisitos de segurança e das condições sanitárias para abrigar a delegação argentina – com mais estrutura à disposição na capital. E, diante dos infectados, o governo chileno não permitiu concessões para que o jogo fosse realizado. Inicialmente, todos os 56 membros da delegação visitante testaram negativo. Contudo, uma segunda bateria de exames exigida pelo novo protocolo chileno (em determinação instituída a partir desta semana, para conter a mutação recente do vírus) apontou os três jogadores positivos. Um dos casos seria de reinfecção, o que levou o Defensa y Justicia a pedir uma reavaliação.

“Em função da decisão das autoridades chilenas de declarar todos os passageiros do voo charter da delegação do Defensa y Justicia como contatos estreitos de positivo, e que portanto devem cumprir as medidas de isolamento, a partida agendada para hoje entre Coquimbo Unido e Defensa y Justicia, pelas semifinais da Copa Sul-Americana, está suspensa”, escreveu a Conmebol, em sua nota oficial.

O que mais chama atenção, de qualquer maneira, é a remarcação do duelo para Assunção. Mesmo sem justificativa, fica aparente a manobra da Conmebol para evitar uma espera e forçar o cumprimento do calendário. Conforme as autoridades chilenas, o Defensa y Justicia precisaria cumprir 11 dias de isolamento no hotel, o que atrapalharia as datas da Copa Sul-Americana. Outra alternativa é que a delegação saia do país com medidas especiais de proteção, numa bolha sanitária. A Conmebol apelará a esta opção e levará o clube ao Paraguai, onde o protocolo é menos rígido que o do Chile. Além disso, com a relação íntima entre a Conmebol e as autoridades paraguaias, fica mais fácil qualquer manobra de bastidores que evite novos entraves aos interesses da entidade.

O Coquimbo Unido será prejudicado ao sequer fazer valer seu mando de campo, submetido a uma viagem ao Paraguai que não estava em seus planos. Como não tem apelo político e é um clube modesto mesmo em seu país, muito provavelmente terá que acatar a imposição. Apesar disso, a insatisfação se faz evidente. Os aurinegros resolveram entrar em campo no Estádio Nacional de Santiago nesta quinta-feira, mostrando que estavam prontos ao jogo, e enviarão uma reclamação formal à Conmebol por se sentirem lesados. A ação contará com o apoio da federação chilena.

“A partida precisa ser disputada no Chile sim ou sim. O Coquimbo é do Chile. Temos feito tudo certo. Aceitamos de maneira digna todas as decisões, mesmo não estando de acordo com a suspensão. Porém, a mudança do local passa dos níveis da lógica esportiva. Faremos valer nossos direitos e esperamos que a federação esteja com a gente”, afirmou Jorge Contador, presidente dos aurinegros, ao jornal La Tercera. O Coquimbo Unido também reclama que o adiamento não estava previsto pelo protocolo sanitário da Conmebol e aponta que não foi consultado sobre os apontamentos.

Outro problema é a falta de descanso aos times. Se a ida acontecerá em 12 de janeiro, a volta estava previamente marcada para dia 14, em Buenos Aires. A Conmebol deverá alterar também a data do reencontro. Neste sentido, a confederação deveria ao menos cogitar a semifinal em jogo único e campo neutro. Mas, diante dos acordos comerciais, a entidade deve preferir mesmo o prejuízo aos times – além, é claro, de ignorar sumariamente a precaução sanitária. A decisão da Sul-Americana está marcada para 23 de janeiro, em Córdoba, o que explica a pressa.

Na outra semifinal, o Lanús saiu em vantagem contra o Vélez Sarsfield, ao vencer o duelo dentro do Estádio José Amalfitani por 1 a 0. O goleiro Lautaro Morales defendeu um pênalti para os grenás no primeiro tempo, pegando o chute de Cristian Tarragona. Antes do intervalo, o gol da vitória foi anotado pelo veterano José Sand, chutando à meta vazia após o passe de Nicolás Orsini. No segundo tempo, apesar da pressão dos velezanos, o Lanús segurou a diferença. A volta acontece no dia 13, em La Fortaleza.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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