Seis gols para justificar tudo aquilo que faz a Argentina temível: os craques

Piaba, vareio, massacre, atropelo, chocolate. Pode usar o termo que quiser para definir a vitória da Argentina sobre o Paraguai na semifinal da Copa América. A Albirroja viveu seus minutos de lucidez em Concepción, até ameaçando um novo 2 a 2. Mas desta vez a Albiceleste não se permitiu dar bobeira. É jogo de mata-mata e a postura do time de Tata Martino tem sido outra, muito mais agressivo. Não por mudanças táticas, e sim pelo próprio ímpeto de seus craques. Quando não é só Messi inspirado, mas também Pastore e Di María, fica difícil de segurar. O placar de 6 a 1 traduz a forma como os argentinos colocaram os rivais na rodada e partem com tudo para a conquista do torneio continental após 22 anos.
Diante de sua proposta de jogo de dar o mínimo de brechas ao adversário e atacar com rapidez, o Paraguai até equilibrou o jogo no início – e desperdiçou boa chance com Santa Cruz. No entanto, Messi e companhia não esperaram tanto para mostrar que queriam jogo. Logo aos 15 minutos, o primeiro gol. Em uma falta cobrada pelo camisa 10, Marcos Rojo aproveitou o desleixo da zaga para abrir o marcador. E o segundo parecia só questão de tempo, diante da forma como a Argentina conseguia abrir rombos na defesa. Aos 27, Messi fez ótima jogada e passou para Pastore bater rasteiro, sem chances para Justo Villar.
Se a vida do Paraguai já parecia difícil, ficou muito pior quando Ramón Díaz precisou queimar duas substituições em sequência, por culpa de lesões. Roque Santa Cruz e Derlis González saíram, para as entradas de Raul Bobadilla e Lucas Barrios. Mas a dupla proporcionou o momento de maior vigor à Albirroja, quando realmente ameaçaram buscar o empate. Bobadilla fez grande jogada e perdeu uma boa oportunidade, enquanto Barrios não perdoou o erro de Pastore para diminuir aos 43. O jogo seguiu para o intervalo com os paraguaios vivos.
Só que a Argentina não quis ver o filme da primeira fase se repetir. Se criticaram a Albiceleste por tirar o pé naquela oportunidade, desta vez eles aceleraram ao máximo. Diante de um Paraguai inerte, a goleada se construiu. Pastore deu um passe magistral para Di María anotar o terceiro, aos dois minutos. Pouco depois, Messi protagonizou uma jogadaça, com direito a caneta e trombada dos defensores. Entregou a bola para Pastore, que não fez, mas no rebote Di María balançou as redes outra vez.
E o placar até era barato, por tudo o que a Argentina criava. Em sua noite mais inspirada na Copa América, Messi infernizava pela faixa central. Faltou apenas marcar o seu gol, parado por Villar na melhor oportunidade. Mesmo assim, o camisa 10 teve participação em cinco tentos de sua equipe, completando o hat-trick de assistências. Aos 35, iniciou o lance em que Di María cruzou na cabeça de Agüero, desviando para a meta paraguaia. Três minutos depois, deitado ele deu o passe para Higuaín, que acabara de sair do banco, fuzilar o goleiro. Só então os argentinos desistiram de fazer um novo 7 a 1.
Foi o Messi que muito se exige na seleção, mesmo sem marcar gols, e que se viu apenas no primeiro tempo contra o Paraguai na primeira fase e contra a Colômbia. Mas a Argentina foi muito além do camisa 10 enfileirando os adversários e chamando a responsabilidade. A participação de Pastore na armação é fundamental, talvez o melhor da Albiceleste na competição. E nesta terça Di María recuperou o seu futebol brilhante que andava sumido há tempos, com muita velocidade pelos flancos e ótimos passes. Agüero nem precisou aparecer tanto, enquanto Zabaleta ajudou pela direita e Biglia distribuiu muito bem no meio de campo. Que o coletivo de Tata Martino esteja longe da perfeição, as individualidades em conjunto fazem o time jogar por música. O Paraguai, lanterna nas últimas Eliminatórias, pode até não ser muito parâmetro, por mais que tenha feito uma campanha elogiosa até este jogo. Só que os seis gols da Argentina, em uma partida na qual seus homens de defesa mal suaram, não deixam muitas margens para questionamento.
Esta é a Argentina que se esperava tanto na Copa América. A Argentina que intimida o Chile, o time que vinha apresentando o melhor futebol até o momento e vive o sonho de conquistar o título dentro de casa, mas que precisará de cuidado redobrado na decisão em Santiago, no próximo sábado. A Argentina que também faz pensar como seria o embate contra o Brasil nas semifinais. Seria outro jogo, e é difícil imaginar que o time de Dunga levasse um vareio tão grande em seu campo de defesa. Mas a exibição foi o suficiente para muita gente até preferir a queda nos pênaltis do que uma possível humilhação para os argentinos.
O que esperar da final? O melhor jogo desta Copa América. Porque as duas seleções têm condições de fazer isso. O Chile é um time que expõe sua garganta, mas parte para cima e joga a maior parte do tempo no campo de ataque, seja trabalhando a bola no ataque ou tentando forçar o erro do adversário. Só que a Argentina é bem mais talentosa, mesmo sem um coletivo tão afinado. E se Messi estiver em um dia daqueles, ou Agüero, ou Pastore, ou Di María, talvez já seja suficiente para o título. Com todos eles assim, valeu a histórica goleada nas semifinais.