Libertadores

As noites de Libertadores realmente são mais especiais, mas os dias também são um barato

36 anos depois, o torcedor do Bahia voltou a ver o seu time de volta à Libertadores em uma noite (e um dia) que vai marcar a história

As noites de Copa Libertadores realmente são mais especiais que as outras. Eu posso te garantir. Mas, antes de qualquer coisa, preciso confessar que eu achava isso um exagero tremendo.

Até ver pessoalmente, na vitória por 3 a 0 do Bahia pra cima do The Strongest, na Arena Fonte Nova, nessa terça-feira (25), que classificou o Tricolor à terceira fase da classificatória da Libertadores.

— Eu estou aqui há 1 ano e meio e vejo sempre o torcedor vindo ao estádio, mas de uma maneira diferente hoje. Noite de Libertadores é sempre especial. Que bom que o torcedor do Bahia hoje sai feliz — disse Rogério Ceni, em entrevista pós-jogo.

Mas há um ponto que vejo pouca gente comentando: toda noite especial tem um dia “comum” que lhe antecede. E eu vou pedir licença para falar do dia e não do clima noturno e seus agradáveis 27°C na Fonte Nova.

Não podemos esquecer o dia que antecede a noite

Quando desembarquei em Salvador, na madrugada de segunda para terça, não havia percebido nada diferente na cidade, até porque naquele momento eu estava tentando me equilibrar entre carregar malas e minha filha, que dormia no meu colo.

Poucas horas depois, quando acordei no início da manhã, confesso que, à primeira vista, também não vi nada de diferente.

O sol apareceu forte e brilhante como faz todas as manhãs na capital baiana, as pessoas já haviam acordado cedo e estavam tão sorridentes e carismáticas quanto todos dias. Alguns já ouviam músicas em volumes mais altos. Enfim, nada de novo em Salvador.

Entre uma pausa e outra no trabalho, aproveitei para ir tomar um ar fresco, encontrar alguns amigos que já não via há algum tempo, sentir o sol. Eu estava em Salvador, ora essa. Vamos aproveitar.

E, de novo, nada de diferente. Salvador me parecia a mesma de sempre. As horas iam passando e eu ia me convencendo cada vez mais que essa tal de “noite especial” de Libertadores era só um exagero mesmo. E esse exagero me parecia cada vez maior.

Mas dentro dessa normalidade com que a vida anda, é muito engraçado e interessante o exato momento em que você percebe que a rotina, por vezes, te tira a percepção básica daquilo que está diante dos seus olhos.

Não era um dia normal. Era dia de Libertadores em Salvador, na Fonte Nova, após 36 anos.

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Torcedor do Bahia fez a festa no retorno do time à Libertadores

No aeroporto e no avião, a caminho de Salvador, pessoas – não todas, é claro – usavam a camisa do Bahia, falavam da ansiedade para o jogo. Quem acordou cedo e foi trabalhar sorridente (ou não) falava sobre o jogo, arriscavam placares enquanto andavam rumo ao ponto de ônibus.

Bahia, Libertadores. Foto: Imago
Bahia venceu o The Strongest, na Fonte Nova, pela Libertadores. Ademir, duas vezes, e Lucho fizeram os gols. Foto: Imago

No som de volume mais alto na vizinhança, entre tantas músicas que tocavam – com os cantores garantindo que aquela era a “música do carnaval 2025” -, o hino do Bahia estava lá, repetidamente. Quase que como uma ordem pré-estabelecida: três ou quatro músicas carnavalescas, uma pausa para o hino seguido de um sonoro “Bora Bahêa” de alguém que passava na rua.

As pessoas que observei contavam os minutos para que a tal noite de Libertadores chegasse. “Chega amanhã, mas não chega 21h30”, ouvi alguns falando. “O Bahia vai brocar, ‘pô'. Tem como não, os caras são fracos”, outros diziam. “Também não é assim, não, se vacilar os caras brocam e aí dá ruim”, rebatiam. Camisas tricolores para todo o lado.

Eu vi e ouvi tudo aquilo durante horas e passou despercebido. Mas por sorte, antes de cair o dia, eu me dei conta que a tal noite especial de Libertadores estava lá. Ela existe. Às 9 horas da manhã, ao meio-dia, à tarde, no crepúsculo ao fim do dia. A cidade estava diferente. Os torcedores mais fanáticos não falavam de outra coisa, estavam apenas existindo, aguardando o horário de ir à Fonte Nova.

E foi aí que eu me convenci: sim, as noites de Copa Libertadores realmente são mais especiais que as outras.

Quando alguém te falar isso, por mais que você queira duvidar, acredite (e torço para que um dia você também viva isso). Mas, aqui vai um conselho: não esqueça de curtir os dias de Libertadores, eles também são um barato.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do meu empregador.

Foto de Márcio Júnior

Márcio JúniorRedator de esportes

Baiano formado pela Faculdade Regional da Bahia. Cobriu de carnaval a Copa do Mundo na TVE Bahia, onde venceu o prêmio de reportagem do mês. Passou pela ALBA, Rádio Educadora, Superesportes e Quinto Quarto antes de se tornar repórter na Trivela.
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