Libertadores

Montevidéu se une pelo Peñarol em nome da glória do futebol uruguaio

Clima de Libertadores já atingiu a capital do Uruguai, que está praticamente inteira unida pela classificação dos Carboneros

Flamengo e Peñarol promete entregar muitas emoções. Os rubro-negros já chegaram a Montevidéu para acompanhar a partida, que define o último classificado para a semifinal da Libertadores. Depois da ida no Maracanã, é a vez do Campeón Del Siglo receber o duelo.

As primeiras horas na cidade foram reveladoras para a reportagem da Trivela. Quem esperava uma capital dividida por conta da rivalidade entre Peñarol e Nacional viu uma grande união em prol do futebol uruguaio.

Os relatos colhidos pela reportagem

O desembarque foi pela manhã e não houve perda de tempo antes de ganhar a rua e entender o clima na cidade.

A reportagem esteve em quatro pontos diferentes da capital uruguaia e ouviu oito locais — cinco torcedores do Peñarol, um do Nacional e um do Defensor Sporting.

Jorge Díaz, motorista de aplicativo e torcedor fanático do Carbonero, se disse extremamente confiante para a partida. Na opinião dele, a vitória no Maracanã credencia o Peñarol como favorito ao título. Sérgio Luz, que exerce a mesma função, não vê os uruguaios como excelentes, mas confia na mística.

“Como não somos favoritos?”, questionou Jorge, antes de concluir: “Estamos a um passo de uma semifinal importantíssima, jogando bem, com segurança. Queremos esse título para o futebol uruguaio”.

“A diferença entre os elencos é muito grande, mas temos a vantagem. Temos que ter sabedoria e confiar na nossa camisa”, explicou Sérgio.

Quem surpreendeu mesmo foi Pedro Abel, que atuou como jornalista por um tempo em Montevidéu. Se os outros estão em clima de confiança, para o companheiro o buraco é mais em baixo.

A análise passou pelo poderio financeiro e técnico do Flamengo, as limitações no Peñarol. Segundo ele, se o clube se classificar, vai ser no campo do metafísico.

“Se tirarem as camisas, a importância do jogo e colocarem Flamengo e Peñarol para jogarem em campo neutro, sem pressão, o Flamengo ganha 99 partidas de 100. A diferença é muito grande. O problema é que a única vitória nossa já aconteceu, foi no Maracanã. O poder da nossa torcida vai ser fundamental”, finalizou.

Entre os rivais, uma unanimidade: todos preferem ver o Flamengo na semifinal. É algo natural da rivalidade aflorada dos campeonatos sul-americanos. Uma opinião, contudo, chamou atenção.

Ao conversar com torcedores do Nacional em um restaurante, a reportagem ouviu de Daniel (que não nos deu o sobrenome) que o Peñarol pode atuar como um símbolo de reconstrução para o futebol local. E isso faz todo o sentindo.

“É bom para nós, bom para o Uruguai. Brasileiros e argentinos, mais os brasileiros, claro, estão dominando a Libertadores. Estamos precisando nos reiventar”, brincou.

Para ter uma ideia de como o Uruguai está dividido, a Trivela reuniu levantamento do portal estatístico Cifra, do Uruguai. Publicado há menos de cinco anos, o estudo aponta que o Peñarol é o time mais popular do país, com 46% dos torcedores, seguido pelo Nacional, que tem 35%. Apenas 6% dos entrevistados disse torcer por outra equipe, enquanto os 13% restantes afirmaram não ligarem para futebol.

Um feito importantíssimo para o futebol uruguaio

Desde que o Defensor Sporting, comandado por Arrascaeta e Felipe Gedóz, chegou na semifinal da Libertadores em 2014, o futebol uruguaio vive uma crise. De lá para cá, nenhuma equipe conseguiu repetir o feito do modesto clube da capital, nem mesmo os gigantes Nacional e Peñarol.

O Bolso foi quem chegou mais perto, com duas eliminações nas quartas de final, mas foi só. Para ter uma ideia da falta de protagonismo dos uruguaios, o país não teve nenhum representante no mata-mata em um terço das edições do recorte.

  • 2015 – Montevideo Wanderes (eliminado nas oitavas de final)
  • 2016 – Nacional (eliminado nas quartas de final)
  • 2017 – Nacional (eliminado nas oitavas de final)
  • 2018 – Sem representantes no mata-mata
  • 2019 – Nacional (eliminado nas oitavas de final)
  • 2020 – Nacional (eliminado nas quartas de final)
  • 2021 – Sem representantes no mata-mata
  • 2022 – Sem representantes no mata-mata
  • 2023 – Nacional (eliminado nas oitavas de final)

A Libertadores 2024, contudo, já se tornou um ponto de virada para o Uruguai. O futebol local conseguiu emplacar dois times nas oitavas de final pela primeira vez desde 2009, quando Nacional e Defensor fizeram campanhas interessantes.

O Bolso, inclusive, chegou na semifinal, sendo eliminado pelo eventual campeão, Estudiantes de La Plata. 

Em busca da sexta?

Esse é o objetivo para o Peñarol. Um dos maiores campeões da história da Libertadores, com cinco títulos, o Carbonero empataria com o Boca se voltasse ao topo da América. Seria o primeiro título uruguaio do torneio mais importante do continente desde 1988.

Também é a primeira vez que o Peñarol pode voltar a semifinal da Libertadores desde 2011, quando perdeu a final para o Santos de Neymar.

De lá para cá, diversas eliminações traumáticas, especialmente na fase de grupos, assombram a equipe. Por isso os residentes de Montevidéu estão animados com o Peñarol.

O time joga um futebol interessante, diante do investimento realizado, e pode quebrar escritas importantes. Para uma seleção que vai bem nas Eliminatórias, é fundamental que o futebol local esteja fortalecido.

Foto de Guilherme Xavier

Guilherme XavierSetorista

Jornalista formado pela PUC-Rio. Da final da Libertadores a Série A2 do Carioca. Copa do Mundo e Olimpíada na bagagem. Passou por Coluna do Fla e Lance antes de chegar à Trivela, onde apura e escreve sobre o Flamengo desde 2023.
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