Quase quarentão, Guerrero tem um só jogo por clube peruano, mas ainda é referência de uma nação
Aos 39 anos, Paolo Guerrero ainda é o grande referencial da seleção peruana dentro e fora de campo
O pequeno José Paolo tinha menos de um par de anos de idade. Recém dava os primeiros passos com os próprios pés. E já vestia a camisa do Alianza Lima para pisar o gramado do Estádio Alejandro Villanueva. O já veterano (e interminável) Paolo Guerrero hoje tem quase 40 anos de idade. Fez tanto com os pés, que virou o maior artilheiro da história da seleção peruana, levou o Peru a uma Copa do Mundo após mais de três décadas e segue como referência máxima de toda uma nação. E ainda assim, depois de tudo e de tanto, só tem lembranças de garoto dos campos de futebol peruanos e do clube do coração.
É que Guerrero deixou o Alianza Lima para ganhar o mundo antes mesmo de chegar à maioridade. E nunca mais voltou. Nestes 20 e tamos anos de distância, o retorno para enfim estrear como profissional (em jogos oficiais) no futebol peruano e para enfim vestir a camisa do time de garoto já foi ensaiado inúmeras vezes. Um roteiro que parece destinado a um Grand Finale com as cores aliancistas. Mas que até agora nunca saiu do papel.
Desde que rescindiu o contrato com Inter, em 2021, Guerrero teve ao menos duas chances de voltar ao Alianza Lima. Nunca deu certo, e o que a reportagem da Trivela ouviu pelas ruas de Lima é um sem fim de versões diferentes para os desacertos entre ídolo e clube do coração.
A primeira tentativa de retorno foi em 2022, antes de o atacante fechar com o Avaí. A Trivela apurou que o Alianza chegou a oferecer mais dinheiro do que o clube catarinense, mas Guerrero recusou. A sensação entre os aliancistas é de que o centroavante disse “não” por medo de não conseguir corresponder à altura. Especialmente porque Hernán Barcos é o titular e “dono” do time atual bicampeão peruano.
Depois, em 2023, o desacerto ocorreu por parte do clube. O relato é de que houve uma nova aproximação, mas o Alianza não levou fé no estado físico de Guerrero e optou por não fazer um investimento para contratar o centroavante. Ele foi parar na LDU, do Equador. Mas a certeza de que o ídolo voltará ainda reina entre os peruanos.
– Até hoje, Guerrero segue sendo o principal jogador da seleção peruana. Muitos pensavam que ele já tinha acabado seu ciclo na seleção por sua idade. Mas ele recuperou seu nível de jogo em 2023. Ele tem razões de sobra para voltar à seleção. Ainda é líder e capitão. Acredito que ele, quando decidir se aposentar, vai voltar a La Victoria (bairro do Alianza Lima) para encerrar a carreira. Pode ser em um ano ou dois, mas tenho certeza – afirma o jornalista Renzo Galiano, do jornal AS, de Lima.
Guerrero já jogou, sim, pelo Alianza
O que pouca gente sabe é que Paolo Guerrro já jogou, sim, pelo Alianza Lima. Mas para contar esta história, é preciso voltar às origens do filho de Doña Peta pelas ruas sinuosas do bairro de Chorrillos. O ídolo de uma nação esteve sempre com a bolas nos pés, influenciado por uma família que respira o futebol.
O tio de Guerrero é José Gonzales Caíco Ganoza, goleiro do Alianza nos anos 80. Ele e os companheiros morreram na tragédia do Fokker-100, um acidente aéreo que vitimou toda uma geração vitoriosa do clube, em 1987. Ele costumava entrar em campo de mãos dadas com o sobrinho.
O irmão mais velho de Guerrero também jogou bola. Júlio “Coyote” Rivero tem 16 anos a mais do que o centroavante. E é responsável direto por ele (quase) nunca ter atuado pelo Alianza Lima.
Deu tempo apenas de o camisa 9 prodígio fazer um jogo pelo clube do coração. Foi um amistoso em 2002, pela Copa El Gráfico. Então recém-promovido ao time principal, Guerrero atuou alguns minutos na derrota por 2 a 1 para o Peñarol. E nada mais.
O atacante estava em tratativas para renovar o contrato com o Alianza Lima. Mas os valores foram considerados baixos. Coyote aconselhou a mãe, dona Peta, a não aceitar a proposta. Semanas mais tarde, Guerrero seria aprovado em testes no Bayern de Munique. O resto é história.
À beira dos 40 e protagonista
Guerrero está prestes a fazer 40 anos, em 1º de janeiro de 1984. Soma algumas lesões de joelho, além da longa parada na carreira devido ao caso de doping, às vésperas e depois da Copa do Mundo de 2018. E mesmo com tudo isso, ele segue como a referência da seleção peruana. Ou melhor: como grande referência na nação.
Basta falar o nome “Paolo Guerrero” nas ruas de Lima e ficar calado. Os peruanos logo desatam a falar e destilar toda a idolatria que têm pelo camisa 9. Até mesmo os aliancistas, que nunca o viram jogar pelo clube, nutrem paixão por “El Depredador”.
A ras de cancha: Lo que pudo ser una victoria peruana gracias a Paolo Guerrero 🇵🇪⚽️.
Como no entró 😪pic.twitter.com/2mmQHaoYQ9
— Gian Franco Zelaya (@gianfzelaya) September 8, 2023
Aos 39 anos, sua presença na seleção local desperta algumas dúvidas e questionamentos. Mas sem poder contar com Gianluca Lapadula, lesionado, o técnico Juan Reynoso escalou Guerrero como titular da equipe no empate em 0 a 0 com o Paraguai.
Mesmo com um a menos, o centroavante atuou os 90 minutos e quase marcou o gol do que seria uma vitória histórica no final da partida. A avaliação da imprensa peruana é de que a seleção local ainda depende de Guerrero, especialmente diante da ausência de Lapadula. E a prova disso pode vir justamente das palavras dos rivais. Nas entrevistas coletivas de véspera de partida, todos os brasileiros falaram – e muito – sobre as qualidades de Guerrero.
– Guerrero é um atacante que conheço muito bem, desde a época do Corinthians. É um atacante de muita qualidade, apesar da idade. A gente vê jogadores de idade jogando muito. Jogadores podem melhorar com o passar da idade. A gente sabe o quanto é difícil jogar contar o Peru aqui. A gente sabe da rivalidade. A gente vai se preparar da melhor forma. Não só pensando no Guerrero, mas na seleção peruana – afirma Marquinhos.
“Eu sou particularmente um fã do Guerrero, há vários jogadores que passaram pelo Brasil, que conhecemos e fizeram história. O Guerrero na Bundesliga, por exemplo, é alguém que sempre vai ser conhecido e lembrado”. (Matheus Cunha)
A seleção brasileira tenta parar Guerrero e a paixão dos torcedores peruanos nesta terça-feira (12). A partir das 21h30 (horário de Brasília), o Brasil enfrenta o Peru no Estádio Nacional, pela segunda rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.