Copa América 2024

Após os absurdos da Copa América, é necessário um elogio à loucura de Bielsa

Argentino que treina o Uruguai colocou o dedo em diversas feridas do futebol sul-americano

Marcelo Bielsa é chamado de Louco por sua obsessão na busca pela excelência no futebol. Inclusive fora do campo de jogo. Por isso, Bielsa merece todos os elogios em virtude de sua explosão de loucura contra os absurdos ocorridos na Copa América de 2024.

Um dos pontos destacados pelo argentino que dirige o Uruguai foi a péssima condição dos gramados, além da dimensão reduzida (porque a maioria dos estádios é de futebol americano e o campo do nosso futebol é maior). Como boa parte dos campos de futebol americano é de grama sintética, os gramados naturais são instalados de forma provisória. A técnica é espalhar rolos de grama de forma paralela às linhas de fundo de campo e depois compactá-los com máquinas. 

Tive a oportunidade de ver de perto esse processo em 2013, quando o Brasil fez um amistoso com o Chile em Toronto, no Canadá. O Rogers Centre é um estádio com teto retrátil em Toronto, mais utilizado para jogos de Beisebol do Toronto Blue Jays. Percorri o gramado, que tinha sido instalado três dias antes do jogo, com o administrador do estádio. É basicamente a instalação de rolos de tapetes de grama natural sobre um piso duro, mas sem fixação de raízes. Em muitos lances, os jogadores escorregavam nos tapetes e alguns deles chegavam a soltar.

Na Copa América de 2024 os gramados foram instalados com espaço maior de tempo, mas através do mesmo processo. Bielsa alertou para os defeitos nas uniões entre os tapetes e o que se via pelas imagens de TV era muito diferente do que os jogadores enfrentavam em campo. Bola quicando, areia subindo e velocidade do jogo prejudicada.

Antes de caos na final, Bielsa havia alertado para falta de segurança

Bielsa também alertou para a questão da segurança nos estádios, devido à confusão envolvendo torcedores colombianos e familiares dos jogadores e os próprios atletas uruguaios. O treinador relatou os problemas que enfrentam aqueles que posicionam contra atitudes da Confederação Sul-americana de Futebol.

Infelizmente, poucos treinadores e atletas têm a coragem de Bielsa, de dar o rosto a tapa em prol do bem coletivo do futebol. Ele está pregando pela qualidade do jogo, pela segurança dos jogadores e pelas melhores condições. Revelou em seu desabafo que a seleção da Bolívia não pôde treinar em algumas ocasiões e destacou que, por ser uma seleção de menor expressão, ninguém deu muita bola (verdade).

O que está embutido no protesto de Bielsa é a priorização do negócio em detrimento do esporte. Levar a Copa América para os Estados Unidos e injetar a participação de equipes das Américas Central e do Norte é um movimento justificável do ponto de vista comercial. Mas isso não pode fazer com que a competição seja prejudicada. As partidas são realizadas em campos sem o tamanho ideal e a melhor qualidade.

Alguns problemas extracampo foram verificados, como tentativas de invasão que atrasaram o início da final, invasões de campo e a falha de segurança na pancadaria entre colombianos e uruguaios.

Bielsa fico louco com tudo isso e teve a coragem de expor sua ira porque pensa mais no futebol do que os que comandam o esporte.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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