Tévez se preocupa com baixo nível de escolaridade de jogadores: “Não sabiam nem somar”
Hoje técnico do Independiente, Tévez quer proporcionar aulas particulares para os jogadores de seu elenco
Atual técnico do Independiente, da Argentina, Carlos Tévez mostrou preocupação com o baixo nível intelectual de seus jogadores em entrevista ao canal “El Nueve”, de Buenos Aires. No último sábado (7), o ex-atacante comentou um episódio que aconteceu durante um de seus treinos.
– Três rapazes que temos na equipe, não vou citar nomes, me disseram que não sabiam nem somar, nem subtrair. Jogando na primeira divisão. Aí está a pobreza – revelou Tévez.
– Para que se tenha uma ideia, eu faço um exercício no campo de velocidade. E nessa velocidade trago o tema da neurociência para que os jogadores possam acionar a velocidade. Faço o exercício físico no campo e chego com uma prancheta e peço para solucionarem o problema, “2 + 2 =”, e muitos deles não sabem – lamentou.
Apesar de ser uma questão que acompanha o futebol ao longo do tempo, Tévez entende o estudo como um ponto fundamental para o desenvolvimento dos atletas. Inclusive, está nos planos dele proporcionar aulas com professores particulares para os jogadores após os treinos.
– É horrível a diferença que temos, culpados somos todos por essa situação, não apenas um, ou dois, ou três, somos todos. Podemos ajudar com comida, com a fundação, com muitas coisas, mas o estudo é importante. O estudo é para que ele saiba se defender, que saiba o que está falando. Se você não compreende o que está assinando em um contrato, é extremamente difícil proteger sua família no futuro – completou.
Tévez foi contratado pelo Independiente em agosto deste ano. Até o momento, ele só comandou a equipe em três partidas – uma vitória e dois empates.
Tévez e a infância difícil em Forte Apache
A preocupação do ex-jogador com a nova geração de atletas no futebol tem muito a ver com a sua infância em Forte Apache, bairro de Ciudadela, na região metropolitana de Buenos Aires. A área é uma espécie de favela da Argentina, conhecida por suas altas taxas de criminalidade e uso indiscriminado de drogas – além do tráfico.
Em “Apache: A Vida de Carlos Tévez”, série da Netflix, de 2019, é possível entender como o futebol transformou a vida do craque argentino que, em tese, teria tudo para se tornar mais um no mundo do crime. No entanto, por ter convivido com os problemas sociais de uma região marginalizada até os 18 anos, inclusive com a falta de acesso à educação, Carlitos usa sua experiência para jogar luz sobre o assunto.
Em 2015, Tévez concedeu entrevista ao site oficial da Fifa e contou algumas histórias da juventude, inclusive sobre a morte de seu melhor amigo, Darío, que se suicidou antes de completar a maioridade por medo de ser capturado pelas autoridades. O jovem também era jogador, mas se envolveu com uma gangue de Forte Apache.
– Ele tinha todas as condições de chegar a ser um grande jogador também, mas tomou outro caminho: da delinquência, da droga, e isso o levou a não estar mais aqui – contou Tévez.
– Toda a minha infância foi forte. Não é apenas uma coisa. Cresci em um lugar onde coisas como drogas e assassinatos eram comuns. Vivi coisas pesadas desde muito pequeno. Isso depois te faz um grande homem. Creio que as pessoas tomam o caminho que querem, ninguém lhes impõe algo. E eu tomei esse caminho. Nunca gostei dessas coisas e por sorte pude escolher.