O Independiente vive crise severa e um influencer lança campanha para torcida saldar dívidas
O Independiente se afunda em vários âmbitos e, com uma dívida na casa de US$20 milhões neste ano, o clube tenta arrecadar o montante entre seus torcedores

O Independiente atravessa aquela que é a maior crise de sua história – algo dito pelo seu próprio ex-presidente. Nem mesmo o rebaixamento do Rojo em 2013 viu o clube afundado num caos como o atual. A crise institucional se mistura com a financeira e se reflete em fracos resultados esportivos. O time é o penúltimo colocado do Campeonato Argentino, com apenas dez pontos em 13 rodadas. Numa edição da liga na qual, além do promédio, o lanterna será rebaixado, o risco é bastante real. E, sem alternativas para solucionar uma dívida urgente, o Independiente recorreu à sua torcida. Através de um influencer, o clube lançou uma campanha para arrecadar US$20 milhões. Ao menos, os torcedores não deixam o Rojo na mão, com uma grande mobilização que vem garantindo expressivo montante.
As disputas internas no Independiente não vêm de hoje. O clube foi presidido durante anos por Hugo Moyano, figura poderosa no país por chefiar o sindicato dos caminhoneiros e também sogro de Chiqui Tapia, presidente da AFA. O dirigente depenou a instituição, ao mesmo tempo em que o Rojo se viu entregue à influência de uma das barras bravas mais violentas da Argentina. Moyano até deixou a presidência no último ano, mas o rombo causado pelo cartola não seria resolvido tão cedo. Fabián Doman assumiu o comando, mas renunciou depois de seis meses no posto, ao avaliar que não havia solução financeira. Néstor Grindetti atualmente está como presidente interino, por 90 dias, e não tem muitas margens para manobra.
A bagunça política atrapalhou até a escolha do novo técnico, após a saída de Leandro Stillitano. Pablo Repetto estava acertado com o Independiente e desistiu na hora de assumir, por causa da renúncia do presidente Doman. Pablo Guede também foi sondado. Quem assumiu o posto foi Ricardo Zielinski, que não conseguiu dar um jeito nos problemas neste primeiro momento. O treinador assumiu um time que vinha de dez rodadas sem vitórias. Estreou com empate no clássico contra o Racing, mas logo perdeu na visita ao líder River Plate. As ameaças de morte feitas pelos barras contra jogadores, presentes em outros momentos tensos do Independiente, se repetem. O temor é genuíno, até porque o futuro não se promete melhor.
Quem apareceu para salvar o Independiente neste momento, então, foi Santiago Maratea. O influencer é torcedor do clube e possui um histórico de campanhas solidárias bem sucedidas na internet. Chegou a garantir medicamentos à população de Corrientes e bancou até o voo a uma delegação de atletas argentinos para uma competição no Equador. De qualquer maneira, nada comparado ao tamanho desafio do Rojo. Diante dos US$20 milhões de dívidas, sobretudo em transferências que não foram pagas, Maratea convocou outros torcedores para ajudar. O clube possui estimados 6 milhões de adeptos. O influencer pediria para que 2 milhões desses tentassem doar 4 mil pesos (cerca de US$18), valor pago mensalmente por quem é sócio.
A questão é que não só o Independiente passa por uma grave crise, mas a própria economia argentina. Há também muitos torcedores em condições limitadas para ajudar neste nível. Para tentar mobilizar mais gente, Maratea lançou sua campanha ao lado de Miguel Ángel Santoro, goleiro lendário do Independiente e campeão em quatro edições da Copa Libertadores. O clube também age nos bastidores, orientando a arrecadação que o salvaria para bancar suas dívidas até o final do ano. De certa maneira, Maratea é um escudo para a imagem pouco confiável dos dirigentes.
Nem todos dentro do Independiente gostaram da ideia, mas acreditam que esse dinheiro pode ser uma solução rápida, mesmo com um intrincado processo burocrático para viabilizar o montante. Enquanto isso, a torcida se manifestou positivamente – apesar da natural gozação dos rivais. Os números superlativos das primeiras horas de campanha indicam a mobilização: até o fim da tarde, as doações atingiram US$1,3 milhões. Ainda é apenas uma fração do total planejado, mas que indica como há gente disposta a ajudar – por mais que o Rojo tenha sido submetido a personagens nefasta nos últimos anos.
Entre aqueles que se dispuseram a ajudar, o escritor Eduardo Sacheri representou bem o sentimento em suas redes sociais: “Creio que há poucas coisas que importam realmente na vida. Cuida e ajudar a quem amamos é uma dessas coisas. Se minha família precisa de mim, tenho que fazer o possível para estar presente. E meu clube é, também, minha família. Sempre com você, Independiente. Sempre com você. E ponto”. Alguns ex-jogadores também se dispuseram, incluindo Luis Islas, Alejandro Mancuso, Germán Denis e Federico Mancuello. Já outro célebre apoiador é Marcos Galperín, dono do Mercado Livre e torcedor do Rojo. Tentam encabeçar uma massa que, mais do que nunca, será necessária.