Exceto River e Boca, argentinos começam Libertadores cheios de problemas
O futebol argentino tem uma peculiaridade. Como seu principal campeonato nacional obedece ao calendário europeu, a maioria das vagas para a Libertadores são definidas muitos meses antes de a competição começar. E, no futebol, muita coisa acontece em muitos meses. Isso nunca ficou tão exposto quanto nesta temporada, em que, com exceção de River Plate e Boca Juniors, atuais finalistas sul-americanos, os outros clubes do país começam a fase de grupos cheios de problemas.
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O Talleres, por exemplo, nem conseguiu chegar aos grupos. Eliminou o problemático São Paulo na segunda fase preliminar e depois perdeu para o Palestino, do Chile. Rosario Central (campeão da Copa), Godoy Cruz (vice da Superliga), San Lorenzo (terceiro) e Huracán (quarto) iniciam o ano com sequências de partidas sem vitórias e trocas de treinadores. Por outro lado, essa dinâmica também permite que esses clubes, se conseguirem sobreviver às suas chaves, cheguem ao mata-mata completamente diferentes, depois da pré-temporada de fato do futebol argentino.
River Plate
Marcelo Gallardo começa mais um ano no comando do River Plate, com eternos créditos pela vitória na final das finais contra o Boca Juniors. E não estará no banco de reservas no começo da Libertadores porque ainda deve duas partidas de suspensão por ter desrespeitado a sanção na semifinal contra o Grêmio. O mercado passou sentimentos mistos. Gonzalo Martínez foi vendido para o Atlanta United, dos Estados Unidos, mas Juan Quintero renovou seu contrato até 2022. Jonathan Maidana também foi embora, para o Toluca, do México. Com a lesão de Milton Casco, o clube contratou Fabricio Angileri, do Godoy Cruz, mas ele pode atuar apenas na Libertadores e na Recopa no primeiro semestre porque já entrou em campo nas competições nacionais. O River é quinto colocado na Superliga, muito longe do líder (15 pontos), mas está em ascensão. Depois de perder as três primeiras partidas do ano, está há sete rodadas invicto, com cinco vitórias.
Boca Juniors
Quando o Boca Juniors perdeu do Atlético Tucumán, em meados de fevereiro, estava invicto no ano, com três vitórias e dois empates, todas sob o comando do novo treinador Gustavo Alfaro. Se somarmos a sequência do comandante pelo seu clube anterior, o Huracán, eram 11 jogos de invencibilidade para Alfaro. Apenas duas derrotas desde agosto. Dá para entender porque o Boca buscou-o para substituir Guillermo Schelotto. Ele foi atrás de Marcos Díaz, do seu ex-clube, para reforçar o gol e trouxe também o volante Iván Marcone, do Cruz Azul, por quase R$ 30 milhões. Novidades para o terceiro colocado do Campeonato Argentino renovar o ar na Bombonera, depois da pesada derrota para o River Plate na final da Libertadores.
San Lorenzo
Se tem um time em dificuldade na Argentina, é o San Lorenzo, lanterna da Superliga, com duas vitórias em 20 rodadas. O técnico Claudio Biaggio até que durou muito. Caiu apenas no começo de novembro. Para o seu lugar, veio Jorge Almirón, campeão argentino e finalista da Libertadores pelo Lanús. Ele estreou com um empate por 0 a 0 com o Vélez Sarsfield e, dez jogos depois, ainda não venceu, com sete igualdades, uma delas na última terça-feira, já pela Libertadores, contra o Melgar, e três derrotas. Muitos jogadores foram contratados para tentar reverter a sorte. Cinco com passagem pelo Atlético Nacional, que Almirón treinou em 2018: o goleiro Fernando Monetti, o meia Gonzalo Castellani, o volante Raúl Loaiza e os atacantes Gustavo Torres e Andrés Renteria, que teve rápida passagem pelo Cruz Azul. Ainda vieram Héctor Fértoli, do Newell’s, Juan Salazar, do Millonarios, e Gino Peruzzi, do Boca Juniors.
Rosario Central
Edgardo Bauza chegou no último mês de maio ao Rosario Central, com o sonho de entregar um título que a agremiação não conquistava desde 1995, quando venceu a Copa Conmebol. Precisou de seis meses. Em dezembro, levantava o troféu da Copa da Argentina, ao derrotar o Gimnasia La Plata na decisão. Valeu vaga na Libertadores E, no final de fevereiro, ele estava demitido. Pesaram os resultados na Superliga Argentina. Patón conseguiu apenas cinco vitórias em 21 rodadas e estava há sete jogos sem vencer, com quatro derrotas e três empates. Mas saiu atirando: “O clube errou e tomou uma decisão apressada. Para mim, não entendem de futebol. A maioria dos dirigentes do Rosario Central não sabe de futebol”. O substituto foi Paulo Ferrari, ex-lateral do time e coordenador das categorias de base. Ele não começou muito bem. Foi eliminado da Copa da Argentina pelo Sol de Mayo, da terceira divisão, e ficou no 0 a 0 com o Belgrano.
Huracán
A saída de Gustavo Alfaro para o Boca Juniors foi sentida. Ele havia classificado o Huracán à Libertadores, com o quarto lugar da Superliga Argentina, e começado muito bem a nova temporada, com apenas duas derrotas. O novo comandante é Antonio Mohamed, que tem um belo currículo: campeão da Copa Sul-Americana pelo Independiente, títulos mexicanos com América e Tijuana, com o qual quase eliminou o Atlético Mineiro na Libertadores de 2013, Copa do México com o Monterrey e uma passagem mediana pelo Celta de Vigo – três vitórias, seis empates e quatro derrotas. Chegaram os experientes Lucas Barrios e Anthony Silva na virada do ano, mas os resultados despencaram. Teve uma vitória, três empates e três derrotas este ano, caindo para o sétimo lugar da Superliga Argentina, a 19 pontos do líder.
Godoy Cruz
Lucas Bernardi foi demitido do Godoy Cruz, depois da derrota por 1 a 0 para o Grêmio, nas oitavas de final da Libertadores de 2017. Tinha divergências filosóficas com o presidente do clube, José Mansur, que “não gostava da maneira como a equipe jogava”. Homem do Newell’s Old Boys, Bernardi é aluno da escola Marcelo Bielsa. Gosta de ter a posse de bola, de pressionar os adversários e de muitas trocas de posição. Um ano e meio depois, ele está de volta. Muita coisa aconteceu desde então. O Godoy Cruz perdeu a volta para os gaúchos por 2 a 1 e foi eliminado. Mas, na sequência, deu início a uma grande campanha na Superliga Argentina de 2017/18, ficando a apenas três pontos de distância do seu primeiro título nacional. Garantiu vaga na Libertadores. O treinador Diego Dabove, porém, deixou o Godoy Cruz no fim do ano passado, citando o “fim de um ciclo”, para assumir o Argentino Juniors. Marcelo Gómez assumiu as rédeas e não foi nada bem. O clube tem cinco derrotas em seis jogos em 2019, nas quais levou 13 gols e não marcou nenhum. O único respiro foi a vitória por 3 a 2 sobre o San Martín. Não foi suficiente para mantê-lo no cargo e, apesar das divergências filosóficas, Bernardi foi chamado para conduzir o time na fase de grupos da Libertadores e na segunda metade da liga.