Argentina

Argentina jogou para Deus no fim, e não por coincidência foi Messi quem matou no peito

O camisa 10 abriu o placar novamente contra uma defesa fechada e, em minutos finais caóticos, liderou (sem sucesso) a busca pelo gol que daria tranquilidade à Argentina

A Argentina está disputando uma Copa do Mundo com os nervos à flor da pele. É sempre assim, eu sei, mas o nível no Catar está um pouco acima do normal. Perdeu a cabeça após levar a virada da Arábia Saudita e estava tão nervosa no primeiro tempo contra o México que se ouvisse alguém falar bom dia responderia “que que tem de bom?”. A vitória tranquila contra a Polônia parecia ter colocado as coisas no lugar, e foi o que se viu durante a maior parte das oitavas de final. No entanto, o gol da Austrália, aos 33 minutos do segundo tempo, gerou outra situação adversa, e a Argentina, novamente, jogou para Deus. Não por coincidência, foi Lionel Messi quem matou no peito e assumiu a responsabilidade na reta final da vitória por 2 a 1 que colocou a campeã sul-americana nas quartas de final.

Messi está no Catar para solidificar o seu legado com o título que até agora lhe escapou. Quebrou o jejum da Argentina, entregou um caneco e tudo indicava que estava mais leve. Os altos e baixos de uma Copa do Mundo completamente insana, porém, não estão dando folga para a Argentina e nem para o seu craque. Contra o México e no primeiro tempo diante da Austrália, jogou de chaveiro: abriu dois cadeados bem fechados para encaminhar a vitória. Neste sábado, porém, também teria que assumir outro papel nos minutos finais. O de assumir as rédeas da situação e tentar criar o terceiro gol porque estava bastante claro que, defensivamente, a Argentina havia desistido de qualquer organização. Esse terceiro gol quase saiu, mas não saiu. O segundo da Austrália, aliás, também.

O primeiro tempo foi normal. A Argentina exerceu pressão nos primeiros minutos, a Austrália resistiu e até começou a se aventurar um pouco mais ao ataque quando conseguiu desacelerar o jogo adversário. Aos 35 minutos, Messi cobrou falta da esquerda direto para a área, ficou com o rebote e tocou à entrada da área. Nicolás Otamendi dominou, mas desistiu na hora que percebeu que a bola havia procurado Messi. Diante de um muro com três australianos, o camisa 10 colocou a bola no único lugar pelo qual ela passaria para abrir o placar para a Argentina. No começo do segundo tempo, Mathew Ryan tentou driblar Rodrigo de Paul e entregou para Julián Álvarez marcar o segundo. Parecia que o jogo estava resolvido.

E sinceramente, meio que estava mesmo. Messi teve uma arrancada em que passou por três no meio-campo, perdeu o controle, recebeu de volta, entrou na área, deu uma caneta e tentou um último drible, mas foi finalmente neutralizado. A Austrália, porém, não pode reclamar da sorte nessa Copa do Mundo. Contra a Tunísia, o cruzamento de Craig Goodwin desviou no meio do caminho e caiu na cabeça de Mitchell Duke. Dessa vez, o chute de Goodwin, com destino a Melbourne, desviou em Enzo Fernández e matou Emiliano Martínez. De repente, a Austrália estava a apenas um gol de forçar a prorrogação.

Virou uma imensa pelada, o que acontece quando um time que tem preferência por se defender se empolga e parte para cima com tudo. Aziz Behich quase fez um golaço em arrancada, passando por quatro argentinos antes de ser bloqueado por Lisandro Martínez. Esse lance assustou de vez a Argentina que parece ter calculado que, se até o lateral esquerdo da Austrália consegue driblar toda sua defesa, era mais fácil fazer um gol do que não sofrer mais nenhum. E aí foi quando Messi realmente brilhou.

Aos 43 minutos, arrancou pela direita e carregou à entrada da área com a tranquilidade de quem vai ao supermercado comprar leite. Rolou mansinha para Lautaro Martínez bater colocado, e o atacante da Internazionale isolou. Aos 47, foi deixado novamente na cara do gol por Messi e carimbou Ryan. O próprio craque tentou resolver na sequência, com um chute colocado de fora, antes de entregar outra oportunidade para Lautaro, com um simples tapa na entrada da área. Ryan defendeu com os pés o chute desviado, e o rebote voltou para Messi, que pegou mal de perna esquerda e mandou para fora.

O cálculo da Argentina no fim estava correto porque esses dez minutos de puro caos e gritaria terminaram com o garoto Garang Kuol na cara de Martínez, que saiu para fazer a defesa da classificação. Em seu 1000º jogo com profissional, quando fez seu primeiro gol em mata-mata de Copa do Mundo e superou Maradona na artilharia da Argentina na competição, Messi fez tudo que podia para tranquilizar seus companheiros. Diferente da segunda rodada contra o México, dessa vez não conseguiu. Mas a Argentina avançou mesmo assim.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
Botão Voltar ao topo