Alemanha

O Eintracht Frankfurt ganha motivos para acreditar na volta à Champions após 61 anos, mesmo calejado pelas decepções

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Se apenas os jogos em 2021 fossem considerados, a Bundesliga teria um líder diferente. O Bayern de Munique não é o clube que mais somou pontos no ano, e nem mesmo o RB Leipzig, seu principal perseguidor. O momento favorece o Eintracht Frankfurt, quarto colocado e equipe mais quente neste inverno alemão. O sucesso das Águias não é recente, com o título na Copa da Alemanha e também a campanha até as semifinais da Liga Europa. Porém, o time de Adi Hütter voltou a pegar no tranco durante as últimas semanas e, com muito poderio ofensivo, se aproveita da instabilidade dos concorrentes. O retorno à Champions League após 61 anos volta a ser um objetivo real no Deutsche Bank Park – apesar das decepções recentes nesta empreitada.

O Frankfurt frequenta as cabeças da Bundesliga faz um tempo. Desde que as Águias precisaram disputar os playoffs de rebaixamento em 2016, dão passos firmes para se estabelecer na parte de cima da tabela. Um dos grandes responsáveis por essa ascensão é Fredi Bobic. O antigo atacante da seleção alemã assumiu o cargo de diretor esportivo após as Águias se safarem do descenso. Desde então, monta equipes competitivas sem gastar muito e conseguiu fazer o sistema se renovar mesmo com perdas importantes neste ciclo.

O primeiro sinal do crescimento do Eintracht Frankfurt aconteceu em 2016/17. A equipe alcançou a final da Copa da Alemanha, mas deixou o troféu escapar na decisão contra o Borussia Dortmund. O time também abriu o segundo turno na zona de classificação à Champions, mas despencou a partir de fevereiro e terminou a Bundesliga no 11° lugar. Niko Kovac daria a volta por cima com as Águias em 2017/18. De novo a equipe perdeu fôlego na reta final do Campeonato Alemão e deixou o G-4, que ocupava até meados de março. Compensou na nova decisão da Pokal, agora para tirar a taça do Bayern de Munique.

Kovac havia assinado com o próprio Bayern e logo ficou claro que seu substituto, o suíço Adi Hütter, era mais treinador que o antecessor. O antigo comandante do Young Boys não começou bem, mas logo azeitou o Frankfurt em 2018/19. Notou-se uma equipe mais agressiva e capaz de manter a intensidade. Chegaria às semifinais da Liga Europa, eliminando Shakhtar Donetsk, Internazionale e Benfica, até a derrota para o Chelsea. Também ambicionaria a vaga na Champions outra vez, mas uma péssima sequência final tirou a classificação nas duas últimas rodadas.

Hütter seguiu bem cotado no cargo, mas precisou comandar um processo de transição na temporada passada. O Eintracht Frankfurt fez muito dinheiro com as vendas de Luka Jovic e Sébastien Haller, mas perdeu seus dois grandes protagonistas. O ataque não seria tão inferior assim, mas a equipe se tornou menos confiável em alguns confrontos diretos – apesar dos 5 a 1 que derrubaram Kovac na Baviera. O clube passou a Bundesliga na zona intermediária da tabela, caiu nas semifinais da Pokal e não seria páreo ao Basel nas oitavas de final da Liga Europa. Faltava recobrar uma boa sequência.

E até pareceu que a magia do Frankfurt tinha acabado na atual campanha, mesmo sem dividir atenções com a Liga Europa. O time virou um grande coadjuvante no primeiro turno da Bundesliga, incapaz de transformar partidas apertadas em vitórias. Em seus 12 primeiros compromissos pelo campeonato, as Águias empataram incríveis oito vezes, com apenas duas vitórias e duas derrotas. Adi Hütter mantinha seu sistema no 3-4-1-2 e dirigia um elenco com bom entrosamento, sem grandes reforços ou perdas. Todavia, entre um ataque não tão efetivo quanto antes e uma defesa igualmente permissiva, a balança sempre pendia à igualdade no placar.

Depois de nove rodadas sem uma vitória sequer, o Frankfurt fechou 2020 com o triunfo por 2 a 0 sobre o Augsburg. Pela primeira vez em 13 rodadas, o time acabava uma partida com a meta invicta. A partir de então, a transformação ocorreu com as Águias. O time de Adi Hütter recobrou sua consistência em janeiro. A defesa passou a dar conta do recado com frequência e o ataque se viu insaciável. O 3-4-2-1 se tornou mais funcional, aproveitando a qualidade na armação dos pontas e também a inspiração de André Silva, abaixo apenas de Robert Lewandowski em gols anotados neste campeonato.

A partir daquele triunfo contra o Augsburg, o Eintracht Frankfurt ganhou sete jogos e empatou apenas um. A defesa dificilmente termina os 90 minutos sem ser vazada, mas o ataque produz uma média próxima a três tentos por compromisso. Assim, fica bem mais fácil vencer. André Silva acumula 17 gols na competição, oito deles anotados apenas em 2021. Filip Kostic voltou a voar baixo pelo lado esquerdo, recobrando sua melhor fase, com cinco assistências em suas últimas cinco aparições. Além disso, Daichi Kamada e Amin Younes tem feito ótimo papel no apoio, atuando logo atrás de André Silva.

Se André Silva retoma o prestígio na carreira, o mesmo tentará fazer Luka Jovic. O atacante voltou à sua antiga casa por empréstimo em janeiro e precisou de um jogo para fazer mais do que em toda a sua estadia no Real Madrid. Neste momento, é um reserva de luxo, porque anda até difícil de mexer no encaixe ofensivo que dá certo nas Águias. De qualquer maneira, será também uma arma a mais para a metade final da temporada e que pode garantir variações na montagem do time, para surpreender os adversários.

É curioso que, a despeito da volta de Jovic, a janela de inverno serviu para o Eintracht Frankfurt se desfazer de vários jogadores. Bas Dost nunca emplacou de verdade nas Águias e acabou vendido ao Club Brugge. Dominik Kohr e Danny da Costa também saíram por empréstimo, para lutar contra o rebaixamento pelo Mainz 05. E o elenco ainda perdeu seu capitão, David Abraham, um atleta bastante identificado com os sucessos recentes desde sua contratação em 2015. Aos 34 anos, o argentino ainda era titular na zaga, mas preferiu retornar à sua cidade natal. Defenderá o pequenino Huracán de Chabás nas divisões de acesso, enquanto poderá acompanhar de perto o crescimento do filho de quatro anos, num projeto de vida motivado pelos receios gerados durante a pandemia.

Sem Abraham, o comando da defesa recai sobre os ombros de Martin Hinteregger. O zagueiro foi um dos melhores negócios da Bundesliga nas últimas temporadas. A qualidade do austríaco era óbvia desde os tempos de Augsburg, mas um conflito interno facilitou sua saída. Por €9 milhões, soa hoje como uma pechincha das Águias, até pela diferença que faz no jogo aéreo e por suas chegadas ao ataque. Lidera os jovens Evan N'Dicka e Tuta. O brasileiro de 21 anos, aliás, ocupa a lacuna deixada pelo ex-capitão e tende a ficar em definitivo, emprestado pelo KV Kortrijk, da Bélgica.

No meio, vale ainda destacar a capacidade de recuperação do Eintracht Frankfurt. O setor conta com a regularidade de Makoto Hasebe, novo capitão e um dos mais antigos do elenco. Mas também é importante a volta por cima de nomes como Erik Durm e Sebastian Rode. De jogadores descartados por Borussia Dortmund e Bayern de Munique, reencontraram o caminho no Deutsche Bank Park. Também aparece bem na cabeça de área o suíço Djibril Sow, antigo pupilo de Hütter no Young Boys.

A tabela pode ter ajudado o Eintracht Frankfurt na sequência recente. Exceção feita ao Bayer Leverkusen, todos os outros adversários apareciam da nona colocação para baixo. O caldo engrossa um pouco mais em março, com confrontos diretos diante de outros times que lutam por Champions League. De qualquer maneira, o momento positivo serve para inspirar confiança e para permitir que as Águias cresçam na hora de decisão. E até pela reta final novamente mais tranquila, com embates diante dos ameaçadíssimos Schalke 04 e Mainz 05, será possível não repetir as decepções de outras temporadas. A torcida está remediada quanto as quedas de desempenho que sempre tiram o Frankfurt do G-4 no fim. Mas, numa edição mais equilibrada da liga e com concorrentes oscilando demais, a Champions parece mesmo palpável.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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