O Bayern é o melhor europeu da história do Mundial?
São recordes atrás de recordes, vitórias atrás de vitórias. O esquadrão do Bayern de Munique que devastou a Europa em 2012/13 é o mais vitorioso da história do clube – . Um nível altíssimo atingido com Jupp Heynckes e mantido sob as ordens de Pep Guardiola. O estilo de jogo dos bávaros mudou um pouco, mas o poder de fogo segue enorme. Tanto é que nenhum outro clube europeu possui desempenho tão bom nesta primeira metade de 2013/14.
Pelo legado que vai deixando, não há muitas dúvidas de que este Bayern se eternizará como um dos melhores times da história da Europa. Entre os recordes que ajudam a reforçar essa impressão, estão as maiores invencibilidades da história da Bundesliga e da Liga dos Campeões, marcas batidas em novembro. E, para reforçar essa hegemonia, nada melhor do que títulos. A festa na Alemanha já parece encaminhada, há grandes esperanças de que a Europa seja reconquistada. E, até lá, há ainda a tentativa inédita no Mundial de Clubes.
É preciso ter cautela, ainda mais com o Atlético Mineiro e Guangzhou Evergrande pelo caminho, mas o Bayern tem consciência de seu amplo favoritismo no Marrocos. A faixa de campeão costuma sobrecarregar os europeus de responsabilidades, o que não significa exatamente garantia de sucesso – Chelsea, Liverpool e o Barcelona de 2006 que o digam. No entanto, o que realmente reforça as chances de título dos bávaros é o momento maravilhoso. O Bayern é o melhor europeu da história do Mundial? A julgar pelo aproveitamento nos meses anteriores à disputa, não restam dúvidas disso.
Os números arrasadores do Bayern
O Bayern de Munique chega ao Mundial de Clubes com aproveitamento de 85,2% dos pontos disputados em 2013/14. Considerando todos os representantes europeus na ‘fase moderna’ do campeonato (a partir de 2005), nunca uma equipe chegou tão embalada ao torneio. Até então, considerando a primeira metade da temporada, só o Barcelona havia conquistado mais de 80% de seus pontos antes da estreia do Mundial – duas vezes, em 2009 e 2011, em ambas treinado por Pep Guardiola.
Ainda que não tenha sido o europeu que mais jogou antes de entrar em campo no torneio da Fifa, o Bayern foi o que mais venceu. São 22 triunfos dos bávaros, que chegaram a manter 23 jogos de invencibilidade entre a perda da Supercopa da Alemanha e a derrota para o Manchester City na última rodada da fase de grupos da Champions. Esses dois tropeços, aliás, foram os únicos ao longo da temporada, mais apenas que o Barça de 2009 e o de 2011.
Já considerando a sequência recente, também não há outro melhor do que o Bayern. Nos últimos dez jogos, são nove vitórias e uma derrota – de novo, o revés contra o City, que serviu um pouco para trazer os bávaros de volta à Terra. E, além dessas marcas todas, os alemães ainda contam com o segundo ataque mais arrasador entre os europeus no Mundial: são 2,74 gols por partida em 2013/14, inferior apenas aos três dos blaugranas em 2011.
No papel, só o Barcelona era tão bom
Uma análise mais subjetiva dos fatos diminui essa diferença do Bayern de Munique para os últimos europeus no Mundial. Realmente, os alemães estão entre os mais fortes. Mas será que Guardiola tem em mãos o time mais capaz de fazer mais estragos na competição?
Considerando os outros dois trabalhos do treinador no Mundial, fica a dúvida. Seu Barcelona conquistou todos os títulos possíveis em 2009. O problema é que deixou um pouco a desejar no Mundial, sofrendo para derrotar Atlante e Estudiantes. Mais consolidada, a equipe blaugrana de 2011 passou o carro sobre Al Sadd e Santos – ainda que a sequência da temporada não tenha sido muito feliz, conquistando mais apenas a Copa do Rei. Craque por craque, o Barça contava com uma equipe titular mais estrelada do que a do Bayern atual, com Messi, Xavi e Iniesta sobrando. No entanto, o elenco dos bávaros é bem mais completo do que aqueles dos catalães.
O Milan de 2007 não vinha em boa fase, mas conquistou o Mundial com certas sobras. Já o Manchester United de 2008 poderia ter feito mais, ainda que, mesmo tirando o pé do acelerador, tenha vencido com facilidade. Já a Internazionale de 2010 tinha o pior aproveitamento entre todos os europeus, só que fez valer sua camisa para bater o Mazembe – e, de qualquer forma, teve o técnico Rafa Benítez demitido na volta do Japão. Talvez a fase de Ribéry não se equipare à de Kaká ou à de Cristiano Ronaldo naqueles tempos, mas o coletividade do Bayern também é superior nestes casos.
As inspirações para o Atlético Mineiro – e, de certa forma, também para o Guangzhou Evergrande – são o Liverpool de 2005, o Barcelona de 2006 e o Chelsea de 2012. Os Reds até vinham em boa sequência antes de enfrentar o São Paulo, mas seu elenco era um dos piores de europeus no Mundial. O Barcelona tinha suas estrelas, mas vinha em declínio e não resistiu ao Internacional. E o Chelsea, além de viver péssimo momento, entre a saída de Roberto Di Matteo e a contestada contratação de Rafa Benítez, ainda tinha perdido jogadores importantes antes de caírem para o Corinthians.
Por tudo que se aponta, o Galo precisará se empenhar muito para não deixar que o Bayern faça valer seu favoritismo. Afinal, deve ter pela frente um rival em ótima fase, com um elenco completíssimo, uma defesa que sofre poucos gols e um ataque que marca muitos. Todo cuidado será pouco para evitar uma derrota contra os bávaros. No entanto, quem batê-los certamente registrará o maior feito do Mundial de Clubes.
O desempenho de todos os europeus às vésperas do Mundial, desde 2005:
Bayern de Munique 2013/14 – 85,2% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 27J 22V 3E 2D 74GP 20GC
Derrotas: duas (Borussia Dortmund 4×2; 2×3 Manchester City)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 9V 0E 1D
Posição no campeonato nacional: Primeiro colocado
Situação na Liga dos Campeões: Primeiro colocado
Contratações: € 62 milhões (Mario Götze, Thiago Alcântara, Jan Kirchhoff)
Vendas: € 39,5 milhões (Luiz Gustavo, Mario Gómez, Emre Can, Anatoliy Tymoshchuk)
Técnico: Pep Guardiola
Chelsea 2012/13 – 58,9% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 26J 13V 7E 6D 58GP 38GC
Derrotas: seis (Man City 3×2, Atlético de Madrid 4×1, 2×3 Man United, Shakhtar 2×1, West Brom 2×1, Juventus 3×0, West Ham 3×1)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 3V 4E 3D
Posição no campeonato nacional: Terceiro colocado
Situação na Liga dos Campeões: Terceiro colocado (eliminado na fase de grupos)
Contratações: € 101,3 milhões (Eden Hazard, Oscar, Cezar Azpilicueta, Victor Moses, Marko Marin)
Vendas: € 10,5 milhões (Didier Drogba, Raul Meirelles, Michael Essien, Salomon Kalou)
Técnico: Roberto Di Matteo, depois Rafa Benítez
Barcelona 2011/12 – 80,7% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 26J 19V 6E 1D 78GP 16GC
Derrotas: uma (Getafe 1×0)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 8V 1E 1D
Posição no campeonato nacional: Segundo colocado
Situação na Liga dos Campeões: Primeiro colocado (eliminado na semifinal)
Contratações: € 60 milhões (Cesc Fàbregas, Alexis Sánchez)
Vendas: € 43,5 milhões (Zlatan Ibrahimovic, Bojan, Jéffren, Gabriel Milito)
Técnico: Pep Guardiola
Internazionale 2010/11 – 52,1% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 23J 10V 6E 7D 34GP 28GC
Derrotas: sete (Atlético de Madrid 2×0, Roma 1×0, Tottenham 3×1, 0×1 Milan, Chievo 2×1, Werder Bremen 3×0, Lazio 3×1)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 3V 2E 5D
Posição no campeonato nacional: Quinto colocado
Situação na Liga dos Campeões: Segundo colocado (eliminado nas quartas)
Contratações: € 10,8 milhões (Jonathan Biabiany, Philippe Coutinho, Luca Castellazzi)
Vendas: € 54 milhões (Mario Balotelli, Nicolás Burdisso)
Técnico: Rafa Benítez
Barcelona 2009/10 – 83,3% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 26J 20V 5E 1D 56GP 12GC
Derrotas: uma (1×2 Rubin Kazan)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 8V 2E 0D
Posição no campeonato nacional: Primeiro colocado
Situação na Liga dos Campeões: Primeiro colocado (eliminado na semifinal)
Contratações: € 113 milhões (Zlatan Ibrahimovic, Dmytro Chygrynskiy, Maxwell)
Vendas: € 22,5 milhões (Samuel Eto’o, Aleksandr Hleb, Sylvinho, Martín Cáceres)
Técnico: Pep Guardiola
Manchester United 2008/09 – 67,8% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 28J 16V 9E 3D 52GP 19GC
Derrotas: três (Zenit 2×1, Liverpool 2×1, Arsenal 2×1)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 5V 4E 1D
Posição no campeonato nacional: Terceiro colocado
Situação na Liga dos Campeões: Primeiro colocado (vice-campeão)
Contratações: € 0
Vendas: € 7,5 milhões (Gerard Piqué, Mikaël Silvestre, Chris Eagles)
Técnico: Sir Alex Ferguson
Milan 2007/08 – 56,6% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 20J 9V 7E 4D 35GP 15GC
Derrotas: quatro (Palermo 2×1, Celtic 2×1, 0×1 Empoli, 0×1 Roma)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 5V 3E 2D
Posição no campeonato nacional: Oitavo colocado
Situação na Liga dos Campeões: Primeiro colocado (eliminado nas oitavas)
Contratações: € 27 milhões (Alexandre Pato, Emerson)
Vendas: € 11,6 milhões (Marco Borriello, Christian Abbiati, Ricardo Oliveira, Ignazio Abate)
Técnico: Carlo Ancelotti
Barcelona 2006/07 – 72,4% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 23J 15V 5E 3D 49GP 18GC
Derrotas: três (0×3 Sevilla, Chelsea 1×0, Real Madrid 2×0)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 7V 3E 0D
Posição no campeonato nacional: Primeiro colocado
Situação na Liga dos Campeões: Segundo colocado (eliminado nas oitavas)
Contratações: € 31 milhões (Gianluca Zambrotta, Lilian Thuram, Eidur Gudjohnsen)
Vendas: € 13 milhões (Mark van Bommel, Henrik Larsson)
Técnico: Frank Rijkaard
Liverpool 2005/06 – 70,1% de aproveitamento
Desempenho antes do Mundial: 29J 18V 7E 4D 44GP 14GC
Derrotas: três (0×1 CSKA Sofia, 1×4 Chelsea, Fulham 2×0, Crystal Palace 2×1)
Últimos dez jogos antes do Mundial: 8V 2E 0D
Posição no campeonato nacional: Terceiro colocado
Situação na Liga dos Campeões: Primeiro colocado (eliminado nas oitavas)
Contratações: € 32,8 milhões (Pepe Reina, Peter Crouch, Mohamed Sissoko, Boudewijn Zenden)
Vendas: € 18,9 milhões (Milan Baros, Vladimir Smicer, El Hadji Diouf)
Técnico: Rafa Benítez