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As muitas feridas criaram uma Alemanha pronta para cicatrizar seus traumas

Eram oito anos de times espetaculares. Oito anos de quedas. A Alemanha virou seu jogo a partir de uma grande humilhação. A eliminação ainda na fase de grupos da Euro 2000 foi o ponto de partida. Uma reestruturação que não tem muito a ver com o vice na Copa de 2002, mas que começou a render frutos a partir do Mundial que os alemães realizaram em casa. Serviu para revelar talentos, tornar a liga nacional ainda melhor e montar uma seleção fortíssima. Que, depois de tantas derrotas sentidas, chegou ao seu melhor momento agora. Ganhando ou perdendo a Copa de 2014, o 7 a 1 no Brasil é um marco para o Nationalelf.

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Afinal, as semifinais pareciam uma barreira psicológica para a Alemanha. Começou em 2006, quando o ótimo time de Jürgen Klinsmann se esforçou muito, mas não foi capaz de vencer a Itália. Repetiu-se quatro anos depois, em uma impotência inegável diante da Espanha, a mesma algoz na decisão da Euro anterior. E ainda veio em mais uma frustração continental, com a imposição de Balotelli e da Itália em 2012. As derrotas doeram, deixaram feridas. Que tornaram a seleção alemã muito mais cascuda para o Mundial de 2014.

Nunca na história das Copas houve um time mais rodado do que este alemão. Contra o Brasil, os 11 titulares somavam 131 partidas no torneio, um recorde absoluto. Só dois estão em seu primeiro Mundial, e não sentiram tanto a exigência. O Nationalelf sabia muito bem tratar a ocasião, porque já tinha sofrido com os mais variados níveis de temperatura e pressão. No Brasil, vieram para trabalhar, é claro. Treinamento que foi notável pela recuperação de tantos jogadores longe da melhor forma física e pela forma como o time evoluiu dentro do torneio. Mas que teve muitos momentos de tranquilidade.

O elenco alemão sabe perfeitamente o peso de uma Copa do Mundo. Sua representação. O peso de uma vitória retumbante e de uma derrota amarga, como foi contra Argentina e Espanha em 2010. Por isso mesmo, pareceu conciliar muito bem o esforço e a tranquilidade em seu ambiente. Isso se refletiu dentro de campo. Por mais que muitos vissem a obrigação de uma geração fadada ao fracasso até agora, o Nationalelf soube lidar com esse fardo. Como? Deixando isso de lado e aproveitando a oportunidade no Brasil. E isso se refletiu em campo.

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Porque o mesmo Klose que dançou com os pataxós, partiu para a sua quarta semifinal de Copa e sua 16ª vitória, justo no jogo em que tomou para si o recorde de gols. Ao seu lado, Schweinsteiger e Lahm também caíram em casa para a Itália, em um Mundial que também serviu para resgatar o orgulho alemão. Que, de certa forma, impulsionou tantos garotos em 2010, que poderiam ter ido além na África do Sul. E que chegaram ao ponto alto da maturidade agora, também graças a um processo do qual participaram o Bayern de Munique e o Borussia Dortmund, se tornando dois dos clubes mais temidos da Europa.

A Alemanha não foi perfeita em toda a Copa, longe disso. Mostrou fraqueza em vários momentos da primeira fase e sofreu demais contra a Argélia. Um susto que serviu para Joachim Löw acordar. Mudou o time contra a França, que jogou melhor no Maracanã. Quem venceu, graças a Neuer e Hummels, foi o Nationalelf. Um adversário que parecia até mais concebível para a seleção brasileira, pelas características de seus jogadores. Mas que promoveu um massacre.

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A goleada da Alemanha foi tática. Foi técnica. Mas, sobretudo, foi mental. O time tinha um objetivo na cabeça e jogou para isso. Sabia do favoritismo que tinha naquele momento e como isso não foi tão favorável assim nos últimos anos. Mas também não tinha tanta responsabilidade, tanto por encararem os anfitriões quanto por já saberem lidar com os traumas. O trauma, aliás, ficou para o outro lado. Ainda que, se quisessem, os alemães poderiam marcar muito mais gols, torná-lo ainda pior.

Mais do que nunca, a Alemanha beira o tetracampeonato mundial. Para coroar uma geração que, mesmo sem o seu jogador em melhor fase, Marco Reus, não perdeu qualidade. Talvez não consiga levantar a taça novamente, seja contra a Holanda de Robben ou a Argentina de Messi – em uma Copa tão surpreendente, não dá para duvidar de mais nada. A única certeza é que, internamente, os alemães estão preparados para tudo. E já estão na história. Porque vencer o Brasil por 7 a 1 dentro de casa (pela representatividade do feito, não propriamente pela qualidade do adversário, que fique claro) pode ser tão marcante quanto derrotar em uma final os Mágicos Magiares, a Laranja Mecânica ou a Argentina de Maradona.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.

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