Alemanha

Mertesacker detalha a pressão de ser jogador de futebol: “Tenho vontade de vomitar”

Ser jogador de futebol é o sonho de muita gente. O dinheiro e a fama envolvidos na profissão são muito atraentes, e Per Mertesacker é o primeiro a admitir que faz parte de um grupo de privilegiados. Mas, por trás de todo o glamour, existe uma exigência emocional monumental, que cobrou o corpo do zagueiro do Arsenal. Em entrevista ao Der Spiegel, Mertesacker afirmou que teve vontade de vomitar antes de todas as partidas que disputou. E ainda tem.

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Ele afirma que a tensão é quase insuportável. O estômago dá sinais de vida e a vontade de vomitar é tão grande que Mertesacker engasga a ponto de chorar. Sempre tenta esconder este momento para não ser mal visto por companheiros, torcedores e imprensa, como se não fosse capaz de aturar a pressão. Nem pela sua família.

“Você pensa: merda, espero que ninguém tenha visto. O que diabos foi aquilo? Por outro lado, eu estava totalmente presente logo em seguida. Totalmente presente. Eu nunca quis ser dramático sobre isso porque nunca teve efeito no meu desempenho. É a primeira vez que eu falo sobre o meu problema com náuseas”, disse.

E há outro: diarreias na manhã das partidas. Mertesacker pode comer no máximo quatro horas antes do pontapé inicial. “Eu tenho que ir ao banheiro assim que eu acordo, logo depois do café da manhã, novamente depois do almoço e novamente no estádio”, explica. “É como se tudo que acontecesse, simbolicamente falando, me dava vontade de vomitar”.

Mertesacker contou que ficou aliviado quando a Alemanha foi derrotada pela Itália na semifinal da Copa do Mundo. Isso mesmo: aliviado. O medo de cometer um erro que levasse a um gol do adversário, no torneio mais importante do futebol, em casa, com uma camisa pesada como a alemã, estava deixando-o maluco.

“Claro que fiquei decepcionado quando perdemos da Itália, mas, mais do que tudo, eu fiquei aliviado. Eu ainda me lembro como se fosse ontem. Tudo que pensei foi: acabou, acabou, finalmente acabou. Eu fui engolido pela pressão. O constante cenário de horror de cometer um erro que levasse a um gol. Você também tem medo em outros jogos, você está constantemente olhando para o placar e contando os minutos. Mas, na Copa do Mundo, era desumano. Mas eu poderia ter dito isso? Que eu estava feliz por ter sido eliminado?”, disse.

Se este é o caso, por que Mertesacker ainda está jogando, aos 33 anos? Porque, quando os torcedores estão de bem com você, o sentimento é indescritível. “Minha carreira é única, eu tive muita sorte na minha vida, não poderia abrir mão disso facilmente. É difícil explicar, mas é um vórtex do qual você não consegue escapar. Embora eu nunca vá dizer que me pagaram mais do que eu merecia, porque eu sei o que eu fiz por isso, o fardo que carreguei”, disse, citando do que precisou abrir mão: juventude, privacidade, liberdade. “Mas, novamente: estou apenas dizendo isso. Eu escolhi essa profissão, ninguém me forçou”.

Mertesacker está na sua última temporada pelo Arsenal. Depois dela, será treinador das categorias de base. Logo, deve estar pronto para aproveitar cada momento dos últimos jogos que disputar, certo? “Eu gostaria mais de sentar no banco, ou, ainda melhor, nas arquibancadas”, contou. “E, então, eu vou, com mais de 30 anos, finalmente ser livre pela primeira vez na minha vida”.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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