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Löw anuncia que Müller, Hummels e Boateng estão fora dos planos da seleção alemã

Renovar uma seleção campeã mundial, tantas vezes, depende de um processo árduo. É difícil se desapegar dos antigos jogadores, especialmente se o treinador continua no cargo. E a Alemanha possui uma missão delicada nos próximos meses, diante da pressão gerada pelo fracasso na Copa do Mundo de 2018 e pelo rebaixamento na Liga das Nações. Joachim Löw teve o seu contrato renovado antes mesmo do Mundial, por mais que sua falta de ideias prenunciasse a decepção na Rússia. E que ele ainda tenha se abraçado a alguns dos veteranos nos meses seguintes, o momento pede medidas mais drásticas. Nesta terça-feira, o técnico anunciou uma lista de medalhões que deixará os seus planos. Sabe que, se não se mexer, é o próprio emprego que está em risco.

A barca de Löw é encabeçada por Mats Hummels, Jérôme Boateng e Thomas Müller. Em comum, os três jogadores do Bayern de Munique possuem uma importância inegável na história da seleção e foram cruciais na conquista do tetra em 2014. Contudo, todos eles vêm em queda acentuada de rendimento. Os problemas físicos atravancam Hummels e Boateng. A lentidão do sistema defensivo desprotegido cobrou um preço caro demais na Copa de 2018. Enquanto isso, Müller parece ter perdido o fio da meada em seu estilo. Nunca foi o jogador mais técnico ou o mais veloz, mas compensava suas carências com inteligência e eficiência. Algo que raramente se vê em suas atuações nos últimos anos.

“O ano de 2019 representa um novo começo à seleção da Alemanha. Foi importante para mim explicar pessoalmente a decisão aos jogadores, bem como à direção do Bayern. Agora é hora de definir o caminho para o futuro. Queremos dar uma nova cara ao time. Estou convencido que este é o passo certo. Com a campanha à Euro 2020 próxima de seu início, queríamos deixar claro que é um novo começo. Os jovens em ascensão terão mais espaço para crescer. Agora cabe a eles assumir a responsabilidade”, declarou Löw.

Ainda não está claro se outros nomes serão incluídos na lista de dispensa e muito menos se a decisão de Löw representa a aposentadoria do trio no Nationalelf. Não será surpreendente se, em algum momento mais decisivo, eles voltem a ser chamados se recuperarem seu futebol. É um caso mais brando que o de Mesut Özil, em rota de colisão com a direção da federação, ao alegar preconceito em seu tratamento. Conforme suas palavras, desta vez o treinador se alinhou com os veteranos antes de fazer o anúncio. O tempo oferecido é benéfico e poderia se ampliar a mais atletas. Ausente das convocações desde a Copa, Sami Khedira é outro longe da melhor fase. Já no gol, Manuel Neuer poderia abrir espaço a Marc-André ter Stegen, em melhor nível há duas temporadas, até pela falta de sequência do tetracampeão.

A posição de Löw recebe apoio da DFB, a federação alemã. É o que endossa o presidente da entidade, Reinhard Grindel: “Eu aprecio que Joachim queira continuar as mudanças no elenco da seleção. O começo das eliminatórias da Eurocopa é o momento certo para fazer isso”. Algo referendado também por Oliver Bierhoff, coordenador da seleção: “Queremos deixar claro que é um novo momento. A missão é decidir o que é melhor ao time, para retornarmos ao topo do futebol mundial. Thomas, Mats e Jérôme conquistaram muito com a Alemanha e continuarão fazendo isso com seus clubes. Sigo me sentindo conectado a eles e sou grato pelo trabalho que fizeram com a equipe nacional”.

Um desafio à seleção alemã será estabelecer os líderes desta nova fase. Pelo futebol, o novo trio de ferro tende a ser encabeçado por Toni Kroos, Marco Reus e Neuer – ou Ter Stegen. E os dois últimos também veem a sua influência limitada pelas constantes lesões. Embora a Alemanha conte com bons jovens abaixo dos 25 anos, está longe de ser um time que encha os olhos. Além do mais, a pressão será considerável, mesmo que a classificação à Eurocopa deva ser conquistada sem maiores problemas. Cenas para os próximos capítulos, em que a desconfiança maior se concentra no próprio desgaste de Löw para conduzir o processo. O treinador precisará ser o primeiro a se reinventar. O próximo passo será a convocação para o amistoso contra a Sérvia, a ser anunciada nos próximos dias.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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