Copa da Alemanha

O Gladbach surrou o Bayern de forma implacável e inimaginável: 5 a 0, na maior derrota sofrida pelos bávaros em 43 anos

O Gladbach fez um jogo fulminante no Borussia Park e humilhou o Bayern, mesmo com os titulares em campo

O Borussia Mönchengladbach é um raríssimo clube da Alemanha que não costuma temer o Bayern de Munique. Nas dez temporadas anteriores, os Potros conquistaram oito vitórias e sofreram nove derrotas em 20 confrontos com os bávaros pela Bundesliga. Já na abertura do atual campeonato, até mereciam melhor sorte no empate por 1 a 1 da primeira rodada. O retrospecto positivo do Gladbach, ainda assim, não indicava o vareio que a equipe de Adi Hütter conseguiu aplicar nos 16-avos de final da Copa da Alemanha. Os anfitriões foram implacáveis no Borussia Park e surraram o Bayern como pouquíssima gente imaginava, até pelo momento do time de Julian Nagelsmann. Mesmo com os titulares alvirrubros do outro lado, o Gladbach aplicou uma histórica goleada por 5 a 0, com os três primeiros gols anotados em 21 minutos. E dá até para dizer que o placar poderia ter sido pior, com algumas boas defesas de Neuer. O Bayern sofreu com a desorganização e não teve forças para reagir.

Se a Copa da Alemanha vê os clubes geralmente usarem os titulares, o peso do confronto mandou times completos a campo. E o baque provocado pelo Borussia Mönchengladbach começou logo aos dois minutos. Um avanço rápido dos Potros pegou a defesa do Bayern bagunçada. Os bávaros até rebateram a bola, mas os adversários recuperaram na intermediária. Então, Kouadio Koné tabelou com Breel Embolo e mandou o chute rasteiro para vencer Manuel Neuer. Nem o gol precoce acordou os bávaros, atropelados por um Gladbach a mil por hora. Os alvinegros aceleravam em cada avanço e Neuer tentava evitar o pior. Jonas Hofmann perdeu no mano a mano com o goleiro, que ainda fez uma defesaça com uma só mão contra Embolo, até ser vencido novamente aos 15. A tabela aproveitou a avenida nas costas de Alphonso Davies, com Hofmann cruzando para Ramy Bensebaini chutar no canto.

O Bayern sequer teve tempo de respirar. A superioridade do Gladbach ainda rendeu o terceiro gol aos 21 minutos, num pênalti sofrido por Breel Embolo em falta boba de Lucas Hernández. Bensebaini cobrou com muita categoria e deixou Neuer plantado no meio do gol. Somente na metade final do primeiro tempo é que os bávaros se colocaram um pouco mais no campo de ataque. Contudo, pesava o desacerto da equipe e também a tranquilidade do Gladbach com a vantagem. Os Potros eram ótimos em cada combate e seguiam incomodando nos contragolpes. Aos 35, quando Yann Sommer precisou aparecer, pegou arremate de Serge Gnabry. Os alvirrubros rondaram um pouco mais pouco antes do intervalo, mas sem sucesso para reagir. A defesa alvinegra se mantinha atenta.

O Bayern não realizou alterações para o segundo tempo, mas até dava para esperar uma mudança de postura. De fato, os bávaros tentaram pressionar um pouco mais e arriscavam finalizações. O problema era a forma como o time seguia exposto na defesa – mesmo contra um adversário com dez homens, por conta de um atendimento médico. Embolo, então, deitou e rolou. O suíço marcou o quarto gol aos sete minutos, roubando a bola numa bobeira de Upamecano e chutando por baixo de Neuer. O goleiro teria que fazer outra defesaça pouco depois, contra Denis Zakaria. Mas, em cinco minutos, Embolo também se encarregou do quinto. Numa bola roubada por Luca Netz, o atacante recebeu em velocidade no meio da defesa aberta e bateu no contrapé de Neuer, em tiro indefensável que tocou a trave antes de entrar.

O Bayern parecia entregue, diante de uma reviravolta que já estava difícil e se tornava impossível. As primeiras mudanças aconteceram neste momento e os bávaros rondavam a área adversária, com o Gladbach mais contido na marcação. Mas nem quando o time acertava o pé, conseguia descontar, porque Sommer também fazia partida inspirada para manter sua meta invicta. O goleiro realizou outras boas defesas contra Thomas Müller e Corentin Tolisso, enquanto Josip Stanisic bateu com perigo para fora. Robert Lewandowski, enquanto isso, estava sumido em campo. Na reta final, Adi Hütter acionou alguns destaques que hoje são reservas. De qualquer forma, com a parada resolvida, o relógio se arrastou até o apito final. O sorteio do adversário nas oitavas acontecerá no domingo.

A goleada na Copa da Alemanha iguala o maior placar aplicado pelo Borussia Mönchengladbach no confronto com o Bayern. Foi na última rodada da Bundesliga 1973/74, quando as duas equipes formavam a base da seleção da Alemanha Ocidental que seria campeã mundial semanas depois. Porém, os 5 a 0 dos Potros em Bölkelberg não mudaram os rumos de um título que já havia sido conquistado pelos bávaros. De certa maneira, o que os comandados de Adi Hütter fizeram nesta quarta é mais importante que um atropelamento imposto pelo maior esquadrão da história do Gladbach. Não é pouco. Esta ainda é a maior derrota do Bayern na história da Copa da Alemanha e a maior derrota por todas as competições desde 1978 – apesar de um 5 a 1 relativamente recente, contra o Eintracht Frankfurt do mesmo Adi Hütter em 2019.

Leverkusen é outro a naufragar, para um adversário da segundona

Outra decepção enorme nesta quarta foi o Bayer Leverkusen. Os Aspirinas jogavam na BayArena e sucumbiram diante do Karlsruher, atualmente no meio da tabela da segundona, com a vitória por 2 a 1. Os alviazuis saíram em vantagem logo aos quatro minutos, com Lucas Cueto aproveitando um rebote. O Leverkusen pressionou bastante pelo empate, mas estava descalibrado nas finalizações e só no início do segundo tempo conseguiu seu gol, com Jeremie Frimpong aproveitando uma boa tabela pela direita. Entretanto, o Karlsruher ainda teve momentos de domínio e marcou o gol da vitória aos 18 da segunda etapa, num erro de Lukas Hradecky. O goleiro entregou a bola no pé de Choi Kyoung-rok, que não perdoou. Na reta final, os visitantes sentiram o cansaço e os Aspirinas seguiram seu bombardeio, mas os desperdícios custaram a eliminação.

Mais um jogo de peso aconteceu na Mercedes-Benz Arena, onde o Colônia conseguiu derrotar o Stuttgart por 2 a 0. Depois de um primeiro tempo equilibrado, os Bodes cresceram no segundo tempo e fizeram por merecer o resultado fora de casa. Anthony Modeste recupera a fome de gols e marcou os dois, num intervalo de cinco minutos. O primeiro veio num rebote, aos 27, antes que o francês completasse livre um cruzamento no segundo pau para fechar a conta aos 32.

Num outro duelo entre clubes da primeira divisão, o Bochum ganhou do Augsburg apenas nos pênaltis, após o empate por 2 a 2 nos 120 minutos. Os alviazuis abriram dois gols de vantagem no início do segundo tempo, com ambos os tentos anotados por Milos Pantovic. Entretanto, a reação dos bávaros foi imediata, com Reece Oxford e Rubén Vargas balançando as redes num intervalo de quatro minutos. Já nos pênaltis, Arne Maier errou o alvo justo no último tiro do Augsburg, com o triunfo do Bochum por 5 a 4 concluído na última batida convertida pelo goleiro Manuel Riemann.

No Estádio Rudolf Harbig, o St. Pauli conseguiu eliminar o Dynamo Dresden com o triunfo por 3 a 2 na prorrogação, em duelo que costuma ser quente. Os Piratas dominaram o primeiro tempo, mas só abriram o placar na segunda etapa, com Leart Paqarada. Logo na sequência, o Dynamo empatou com Christoph Daferner num bonito chute. O St. Pauli também faria o segundo antes, com Maximilian Dittgen, até a nova igualdade garantida por um gol contra. No primeiro tempo da prorrogação, enfim, Christopher Buchtmann seria o herói no triunfo dos hamburgueses, aproveitando um apagão da defesa adversária.

Outra equipe a avançar na prorrogação foi o Union Berlim, que teve dificuldades para bater por 3 a 1 o Waldhof Mannheim, da terceira divisão. Os anfitriões abriram o placar logo aos quatro minutos, com Alexander Rossipal, enquanto o empate dos berlinenses saiu aos 18, em tiro de Kevin Behrens. Somente no tempo extra é que os Eisernen definiram a parada, com os novos gols saindo em chute cruzado de Taiwo Awoniyi e outra vez com Behrens punindo um vacilo dos adversários.

Mesmo em situação ruim na segundona, o Hannover 96 se impôs contra o Fortuna Düsseldorf, seu companheiro de divisão. A vitória por 3 a 0, todavia, dependeu de dois gols nos acréscimos do segundo tempo. Maximilian Beier deu a assistência para Sebastian Kerk abrir o placar, além de marcar os outros dois gols dos anfitriões no apagar das luzes dentro da HDI Arena.

Por fim, o Hansa Rostock foi o último time a se garantir nas oitavas, em emocionante classificação fora de casa contra o Jahn Regensburg, vice-líder da segundona. Os hanseáticos estão em situação pior na tabela da segunda divisão, mas buscaram um cardíaco empate por 3 a 3 na prorrogação e avançaram nos pênaltis. Mesmo como visitante, o Hansa abriu dois gols da vantagem, com Julian Riedel e Streli Mamba. O Jahn Regensburg pressionava muito e mandou duas bolas na trave, mas só reagiu nos 20 minutos finais, com Sarpreet Singh descontando e Joel Zwarts empatando nos acréscimos da segunda etapa. No primeiro tempo da prorrogação, Steve Breitkreuz deu a virada para os alvirrubros. Contudo, os hanseáticos forçaram os pênaltis com um gol de Pascal Breier nos acréscimos do segundo tempo extra. Já na marca da cal, o goleiro Markus Kolke pegou uma das cobranças e permitiu a vitória do Hansa por 4 a 2.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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