Tostão: Lembranças, Opiniões e Reflexões sobre Futebol
Existe uma máxima no futebol que é tão falsa quando arraigada. É a de que o ex-jogador tem uma compreensão maior do jogo, ´porque já esteve lá´. Tal mito dá abertura para que todos os ex-jogadores que se aventuram como comentaristas possam despejar bobagens, temperadas às vezes com erros de português, falta de informação e, em certos casos, um nítido rancor. Para ser mais preciso, não são todos. A gigantesca maioria, mas não todos.
Eduardo Gonçalves, o Tostão, é uma dessas raras exceções. Talvez por não ter levado sua carreira até o fim, talvez por ter uma formação mais sólida, talvez por ter uma vocação que seus ex-pares de campo não têm, Tostão é um comentarista diferenciado dentro do grupo dos ex-jogadores/jornalistas.
O degrau a mais que o craque tem é claríssimo nas linhas de seu livro. Não é uma autobiografia (embora contenha passagens em que fala de sua vida), não é um livro teórico, apesar de ter dissertações sobre tática, nem é uma análise profunda sobre futebol. ´´Tostão: Lembranças, Opiniões e Reflexões sobre Futebol´´ é quase um bate-papo. É agradável a ponto de praticamente pedir para ser lido de uma vez.
O segredo do livro é a falta de pretensão. Tostão certamente foi um dos maiores craques da história do futebol brasileiro, mas nem por isso perde tempo tentando se auto-afirmar. A sensação que fica é que o livro foi escrito mais como uma necessidade do autor de se ´confessar´ sobre sua vida. É natural, como todo livro deveria ser.
Além de passagens curiosas sobre sua vida profissional, Tostão também fala de seu credo futebolístico. Aqui também não tem nenhuma pretensão de fazer valer sua visão. Simplesmente diz o que pensa, por que razão discorda de Parreira, qual sua visão da evolução do jogo, por que Pelé era o melhor.
Você pode encontrar diversas passagens no livro em que discorda do craque-autor, e ainda bem. Mesmo tendo jeito para escrever, o mineiro não é a fonte de verdade absoluta (nem pretende tanto). E não é por isso que vai ficar irritado. Tostão consegue não cometer o erro que muitos jornalistas de renome cometem a cada vez que respiram: viver de ´achismos´. Goste ou não, as opiniões são sustentadas por argumentos menos vazios que ´tradição´, ´alegria´ e outras baboseiras etéreas.
Avaliando a qualidade dos ex-boleiros guindados à condição de jornalistas, é possível dizer que, em via de regra, seu desempenho como comentaristas é inversamente proporcional ao talento que tinham em campo. Até nisso Tostão se encaixa. Não na regra, mas na exceção. E prova que a regra que diz que ex-jogadores dão maus jornalistas é mesmo uma regra.