Torneio maldito

Calendário lotado, jogadores aos cacos e partidas sem apelo competitivo. Eis que começa mais uma espetacular Copa das Confederações – a sexta da história – torneio criado apenas para fazer peso na queda-de-braço entre FIFA e clubes. Verdade seja dita, não interessa a ninguém disputar competição tão malograda como essa, realizada pela primeira vez em 1992. Talvez só mesmo à Alemanha, que a usará como ensaio geral para a Copa do Mundo, que começa em pouco menos de um ano, e à Austrália, que raramente enfrenta adversários de nível em partidas oficiais.
Historicamente, esse torneio está repleto de pequenas maldições que atormentam seus participantes, um prato cheio para os ‘caçadores de tabus’. A mais notável delas afeta os campeões em anos pré-Copa. Em 1997, o Brasil conquistou seu único título. No ano seguinte, perdeu a final do Mundial para a França após a até hoje nebulosa convulsão de Ronaldo. Em 2001, os mesmos franceses venceram o torneio e voltaram confiantes para a Ásia em busca do bicampeonato. Fizeram feio, eliminados na primeira fase sem marcar um gol sequer.
Isso sem falar em incidentes isolados, como a brincadeira besta dos cabelos raspados na Seleção que disputou a edição de 1997, que dividiu o elenco dali em diante. Ou então o calor infernal sob o qual os participantes foram obrigados a jogar em 1999. Que dizer da demissão de Leão no aeroporto no Japão após o fiasco em 2001 com um ‘time Z’? Pior ainda foi a chocante morte de Marc-Vivien Foé no jogo entre Camarões e Colômbia, nas semifinais de 2003.
A essa altura dos acontecimentos, o jeito é torcer para que tantas semelhanças sejam apenas coincidências infelizes e para que os jogadores que participarem desta edição consigam voltar à Alemanha em 2006 sem nenhuma maldição.
Mini-Copa?
Tabus à parte, a edição 2005 da Copa das Confederações, chamada por alguns de ‘mini-Mundial’, colocará em campo pelo menos cinco equipes que voltarão à Alemanha no ano que vem. Além dos anfitriões, claro, Argentina e Japão já garantiram suas vagas, enquanto. Brasil e México só não se classificam se acontecer alguma hecatombe. Austrália, Tunísia e Grécia estão em situação mais delicada, apesar de dependerem apenas de si para classificarem-se para a Copa.
Dado o panorama de todas as seleções, compostas por jogadores que em sua maioria atuam no futebol europeu – ou seja: mortos de cansaço –, não dá para esperar nenhum grande show nas partidas a serem disputadas a partir de 15 de junho.
Os únicos grandes atrativos que podem ser pinçados desta Copa das Confederações são o confronto entre Alemanha e Argentina na última rodada da primeira fase no grupo A e os prováveis cruzamentos de brasileiros e argentinos ou uma reedição da última decisão de Mundial nas fases finais.
De resto, a única vantagem é ver futebol à tarde em vez de reprise de alguma novela ou de filmes cujas falas todos já sabem de cor e salteado.
Grupo A
Alemanha
De todas as oito seleções participantes da sétima edição do torneio, a anfitriã é a única que tem, de fato, a obrigação de mostrar serviço. Sem disputar eliminatórias por ser também o país sede do próximo Mundial, a Alemanha vê na Copa das Confederações a última oportunidade de manter a base junta por mais de uma semana até a concentração a iniciar-se ao final da próxima temporada. No mesmo grupo da Argentina e com a possibilidade real de enfrentar o Brasil nas semifinais – duas equipes desde já consideradas favoritas para os dois títulos –, Klinsmann vê uma oportunidade única de testar o real poderio que tem em mãos.
Elenco:
Goleiros: Oliver Kahn (1), Jens Lehmann (12) e Timo Hildebrand (23)
Defensores: Andreas Hinkel (2), Arne Friedrich (3), Robert Huth (4), Patrick Owomoyela (5), Per Mertesacker (17) e Christian Schulz (21)
Meias: Marco Engerlhardt (6), Bastian Schweinsteiger (7), Torsten Frings (8), Sebastian Deisler (10), Michael Ballack (13), Fabian Ernst (15), Thomas Hitzlsperger (16), Tim Borowski (18) e Bernd Schneider (19)
Atacantes: Mike Hanke (9), Thomas Brdaric (11), Gerald Asamoah (14), Lukas Podolski (20) e Kevin Kuranyi (22)
Estrela: Michael Ballack
Fique de olho: Lukas Podolski
Técnico: Jürgen Klinsmann
Posição no ranking da FIFA: 19°
Argentina
Enquanto Alemanha e Brasil entram com força quase total na Copa das Confederações, a Argentina, já tranqüila após a classificação para o Mundial, usará a competição apenas como oportunidade para experimentar algumas alternativas. O técnico José Pekerman abriu mão dos jogadores de River Plate e Boca Juniors, envolvidos com a Libertadores, e também dos esgotados Fabián Ayala e Hérnan Crespo, baleados depois da pesada temporada européia de Valencia e Milan. Ainda sim, o elenco continua forte, e os argentinos devem ser tratados como favoritos ao título.
Elenco:
Goleiros: Leonardo Franco (1), Germán Lux (12) e Wilfredo Caballero (23)
Defensores: Walter Samuel (2), Juan Sorín (3), Javier Zanetti (4), Gabriel Heinze (6), Gonzalo Rodriguez (13), Gabriel Milito (14), Diego Placente (15), Fabricio Coloccini (20) e Martín Demichelis (20)
Meias: Esteban Cambiasso (5), Juan Román Riquelme (8), Pablo Aimar (10), Lucas Bernardi (17) e Mario Santana (18)
Atacantes: Carlos Tevez (7), Javier Saviola (9), Cesar Delgado (11), Maximiliano Rodríguez (19), Luciano Figueroa (21) e Luciano Galletti (22)
Estrela: Juan Román Riquelme
Fique de olho: Mario Santana
Técnico: José Pekerman
Posição no ranking da FIFA: 3°
Austrália
Muito próximos de disputar sua primeira Copa do Mundo, os Socceroos, como são conhecidos os australianos, esperam usar a Copa das Confederações como preparação para o confronto com as Ilhas Salomão na grande final das eliminatórias na Oceania e, posteriormente, para o encontro com o quinto colocado do setor sul-americano. Nada melhor para Frank Farina, o técnico, que terá força quase total para tentar repetir o feito da última edição, quando chegou a bater a campeã França na primeira fase e o Brasil na decisão do terceiro lugar. Classificar-se para as semifinais é tudo o que a equipe precisa para sonhar em voltar para a Alemanha no ano que vem.
Elenco:
Goleiros: Mark Schwaarzer (1), Michael Petkovic (12) e Zeljko Kalac (18)
Defensores: Kevin Muscat (2), Craig Moore (3), Lucas Neill (4), Tony Vidmar (5), Tony Popovic (6), Jon McKain (17), Ljubo Milicevic (20)
Meias: Brett Emerton (7), Josip Skoko (8), Tim Cahill (10), Scott Chipperfield (11), Like Wilkshire (13), Simon Colosmino (14), Jason Culina (19), Ahmad Elrich (21) e Mile Sterjovski (23)
Atacantes: Mark Viduka (9), John Aloisi (15), David Zdrilic (16) e Archie Thompson (22)
Estrela: Tim Cahill
Fique de olho: Archie Thompson
Técnico: Frank Farina
Posição no ranking da FIFA: 56°
Tunísia
Animada depois da boa recuperação no grupo 5 do setor africano das eliminatórias para 2006, os atuais campeões da Copa Africana de Nações chegam a sua primeira Copa das Confederações com vontade de provar não serem apenas mais um selecionado africano pronto para dar vexame em solo estrangeiro. A tarefa, porém, será das mais difíceis. Mesmo com jogadores em clubes das principais ligas européias, não dá para esperar nada além da eliminação sumária logo na primeira fase. Qualquer coelho tirado da cartola de Roger Lemerre, campeão com a França em 2003, será surpresa.
Elenco:
Goleiros: Ali Boumniel (1), Khaled Fadhel (16) e Hamdi Kasraoui (22)
Defensores: Karim Saidi (2), Wissem Abdi (4), Hatem Trabelsi (6), Radhi Jaidi (15), Anis Ayari (19), Clayton (20), Amir Haj Massaoud (23)
Meias: Mehdi Nafti (8), Kaies Ghodbane (10), Jawhar Mnari (12), Adel Chadli (14) e Slim Benachour (18)
Atacantes: Karim Essediri (3), Ziad Jaziri (5), Imed Mhadhebi (7), Haykel Guemamdia (9), Francileudo dos Santos (11), Hamed Namouchi (13), Chouki Bem Saada (17) e Issam Jomaa (21)
Estrela: Francileudo dos Santos
Fique de olho: Slim Benachour
Técnico: Roger Lemerre (FRA)
Posição no ranking da FIFA: 40°
Grupo B
Brasil
Em vez de poupar seus principais jogadores e usar a Copa das Confederações da mesma forma que a Copa América no ano passado (como experiência para posições isoladas), Carlos Alberto Parreira optou por levar à Alemanha seu primeiro time, desfalcado apenas de três de seus titulares absolutos – Ronaldo, Cafu e Roberto Carlos. Se preferiu levar quem teve uma temporada extenuante, caso principalmente de Dida, Kaká, Émerson e Ronaldinho, dá para imaginar que o treinador já tem pronta a base que deve levar ao Mundial ano que vem. Ou seja: suas únicas dúvidas permanecem nos reservas dos laterais. Só isso mesmo para justificar a opção de tirar de seus astros a chance de um descanso que provavelmente fará a diferença lá na frente. A princípio, o Brasil é favorito absoluto ao título. Se a Seleção for eliminada antes, Parreira pagará o preço de ter levado sua força quase máxima para uma competição que não vale nada.
Elenco:
Goleiros: Dida (1), Marcos (12) e Gomes (23)
Defensores: Maicon (2), Lúcio (3), Roque Júnior (4), Gilberto (6), Cicinho (13), Juan (14), Luisão (15) e Léo (16)
Meias: Émerson (5), Kaká (8), Ronaldinho (10), Zé Roberto (11), Gilberto Silva (17), Juninho Pernambucano (18), Renato (19), Júlio Baptista (20) e Edu (22)
Atacantes: Robinho (7), Adriano (9), Ricardo Oliveira (21)
Estrela: Ronaldinho
Fique de olho: Gilberto
Técnico: Carlos Alberto Parreira
Posição no ranking da FIFA: 1°
Grécia
Depois de surpreender o mundo com a conquista da Eurocopa no ano passado, a Grécia já não apresenta tantos segredos quanto naquela oportunidade. O eficientíssimo sistema defensivo que foi capaz de segurar os ataques de Espanha, França, República Tcheca e Portugal em 2004 já foi dissecado por técnicos do mundo todo. Prova disso é a irregular campanha nas eliminatórias, onde os gregos ocupam a terceira colocação, atrás de Ucrânia e Turquia. Otto Rehhagel quer usar a Copa das Confederação para devolver a moral conquistada em Portugal a seus jogadores e mostrar para eles que ainda há tempo para recuperar-se e disputar o Mundial em seu país.
Elenco:
Goleiros: Antonios Nikopolidis (1), Konstantinos Chalkias (12) e Michail Sifakis (13)
Defensores: Giourkas Seitaridis (2), Loukas Vyntra (3), Efstathios Tavlaridis (4), Sotirios Kyrgiakos (5), Panagiotis Fyssas (14), Ioannis Goumas (18), Mihalis Kapsis (19)
Meias: Angelos Basinas (6), Theo Zagorakis (7), Stylianos Giannakopoulos (8), Vassilios Tsiartas (10), Pantelis Kafes (16), Georgios Karagounis (20), Konstantinos Katsouranis (21), Vassilios Lakis (23)
Atacantes: Angelos Charisteas (9), Dmitrios Papadopoulos (11), Zisis Vryzas (15), Ioannis Amanatidis (17) e Theofanis Gekas (22)
Estrela: Angelos Charisteas
Fique de olho: Ioannis Amanatidis
Técnico: Otto Rehhagel (ALE)
Posição no ranking da FIFA: 12°
Japão
Motivado após tornar-se o primeiro classificado para a Copa do Mundo, o Japão desembarca na Alemanha disposto a iniciar sua entrada definitiva no rol das principais seleções do planeta. Para isso, Zico espera conseguir ao menos classificar sua equipe para as semifinais da competição, feito jamais conseguido pelos japoneses. Na teoria, trata-se do time mais fraco do grupo, mas isso não significa nada, como já provaram os gregos em na Euro-2004. O elenco comandado pelo ‘Galinho de Quintino’ é experiente o suficiente para surpreender qualquer um.
Elenco:
Goleiros: Seigo Narazaki (1), Yoichi Doi (12) e Yoshikatsu Kawaguchi (23)
Defensores: Makoto Tanaka (2), Takayuki Chano (3), Tsuneyasu Miyamoto (5), Alessandro Santos (14), Atsuhiro Miura (17), Keisuke Tsuboi (20), Akira Kaji (21) e Teruyuki Moniwa (22)
Meias: Yasuhito Endo (4), Koji Nakata (6), Hidetoshi Nakata (7), Mitsuo Ogasawara (8), Shunsuke Nakamura (10), Takahashi Fukunishi (15), Jun’ichi Inamoto (18) e Masashi Motoyama (19)
Atacantes: Keiji Tamada (9), Takayuki Suzuki (11), Atsushi Yanagisawa (13) e Oguro Masashi (16)
Estrela: Hidetoshi Nakata
Fique de olho: Keiji Tamada
Técnico: Zico (BRA)
Posição no ranking da FIFA: 17°
México
Com a seleção mexicana praticamente classificada para a Copa do Mundo, Ricardo Lavolpe desembarca na Alemanha com o objetivo de aproveitar a oportunidade de testar o poderio de seu elenco contra adversários de estilos diferentes a seus rivais da Concacaf. A seu favor, o treinador tem um sólido sistema defensivo, calcado na experiência de jogadores como Rafa Márquez e Torrado, sem falar na ótima fase vivida pelo atacante Jared Borgetti. Não será surpresa alguma se o México passar para as semifinais.
Elenco:
Goleiros: Oswaldo Sanchez (1), Moises Muñoz (12) e José Corona (23)
Defensores: Aaron Galindo (2), Carlos Salcido (3), Rafael Márquez (4), Ricardo Osorio (5), Hugo Sánchez (15), Mario Mendez (16) e Salvador Carmona (18)
Meias: Gerardo Torrado (6), Zinha (7), Pavel Pardo (8), Ramón Morales (11), Gonzalo Pineda (14), Juan Pablo Rodríguez (20), Jaime Lozano (21) e Luis Perez (22)
Atacantes: Jared Borgetti (9), Omar Bravo (10), Rafael Márquez Lugo (13), José Fonseca (17) e Alberto Medina (19)
Estrela: Jared Borgetti
Fique de olho: José ‘Kikin’ Fonseca
Técnico: Ricardo Lavolpe (ARG)
Posição no ranking da FIFA: 7°