St. Etienne: Verdão na Terceirona?

Recordista em títulos do campeonato francês (dez), incluindo uma seqüência de quatro conquistas seguidas; única equipe a conseguir em quatro ocasiões vencer o campeonato e a copa local na mesma temporada; vice-campeão da Liga dos Campeões; uma das maiores (se não a maior) torcidas da França. Com toda essa bagagem, o St. Etienne está a um passo de ser rebaixado para a terceira divisão.

Faltando 12 rodadas para o final da competição, o 'Verdão' francês (a equipe do St. Etienne tem o apelido de 'Les Verts', pela cor do uniforme) está na lanterna da Segundona. Ainda há salvação, é verdade, já que a equipe está a apenas um ponto do 17º colocado, o último fora da zona de rebaixamento. Porém, pelo futebol mostrado até aqui, poucos acreditam que a equipe evite o vexame ter que disputar a 'Nationale' (terceira divisão) pela primeira vez em sua história.

A um passo do paraíso

A história do St. Etienne está intimamente ligada ao grupo Casino, empresa de distribuição francesa da família Guichard. Em 1920, Geoffroy Guichard, o patriarca da família, criou um clube para seus funcionários, a Association Sportive du Casino. Mais tarde, esta fundiu-se a outro clube da região, o Amical Sporting Club, criando a Association Sportive Stéphanoise, que em 1933 adotaria o nome atual Association Sportive Saint Etienne.

Foi também em 1933 que a equipe virou profissional, passando a disputar a segunda divisão francesa. Já sob o comando de Pierre Guichard, o clube não demorou muito para alcançar a divisão de elite do futebol francês, em 1938. Os Verts se manteriam na primeira divisão por 47 anos, com exceção de apenas uma temporada, a de 1962/3.

Curiosamente, essa temporada 'negra' na Segundona, que poderia ter sido o pior momento na história do clube, acabou marcando sua disparada rumo ao domínio do futebol francês. O ano que o St. Etienne passou na segunda divisão permitiu formar uma equipe entrosada, que já em 1964 venceria o título francês – tornando-se a primeira equipe recém-promovida na história da França a sagrar-se campeã. Daí em diante, o domínio foi total, com a conquista de oito títulos entre 1964 e 1976, além de mais quatro copas da França no mesmo período.

Foi em 1976 que o St. Etienne viveu seu melhor momento. Após uma década de tentativas, o ASSE finalmente conseguiu fazer uma boa campanha na Copa dos Campeões (hoje Liga dos Campeões), chegando até a final da competição, onde os franceses foram derrotados por 1 a 0 pelo Bayern de Munique. Para a tristeza da torcida 'verde', essa derrota foi o marco do início do lento processo de decadência do St. Etienne.

Até meados dos anos 80, os Verts conseguiram manter-se como uma equipe importante na França. Contando com Platini em seu elenco (entre 80 e 83), chegaram a ganhar mais uma vez o campeonato francês. Porém, em 1985 viria o segundo rebaixamento, do qual o ASSE nunca se recuperaria completamente.

Desde então, o St. Etienne alternou-se entre as duas principais divisões da França, passando igual período em cada uma. Na década de 90, forte crise financeira abateu-se sobre o clube, que chegou até a correr o risco de fechar as portas. Em 1999, reabriu-se a esperança, com uma promoção à elite com base em um elenco jovem, formado de acordo com as tradições do clube. Mas a alegria não duraria muito…

A sombra do Stade Reims

Porém, o último período na elite não foi nada feliz para a torcida 'verde'. A estada na primeira divisão durou apenas duas temporadas e foi manchada por um escândalo, envolvendo os jogadores brasileiros Alex e Aloísio, além do ucraniano Levytsky, que atuaram em diversas partidas como jogadores comunitários graças a passaportes falsificados.

O escândalo arrastou-se por vários meses durante a temporada 2000/1, incluindo uma longa batalha de recursos na justiça contra uma punição imposta pela liga francesa, que deduzira seis pontos do St. Etienne. No final, a punição foi cancelada, já que não havia provas de que a diretoria do ASSE agira de má-fé. Porém, o turbilhão causado pelo escândalo, aliado à ausência de três jogadores importantes, acabou causando o rebaixamento do St. Etienne.

E, desta vez, o processo de decadência do clube parece não querer estancar. Após um primeiro ano medíocre na Segundona, agora os Verts apenas lutam para não cair para a terceira. Um novo rebaixamento seria terrível, tanto do ponto de vista financeiro quanto esportivo.

O grande pesadelo que assombra a torcida do St. Etienne é que o clube parece seguir os mesmos passos do Stade Reims, time seis vezes campeão francês e que chegou a duas finais de Copa dos Campeões, após as quais entrou numa lenta decadência que levou o clube a cair até a sexta divisão, onde fechou as portas em 1993 (em seguida, o time reabriu com outro nome e hoje já está de volta à segunda divisão).

Até agora, para desespero da torcida, os Verts continuam imitando a trajetória do Reims. E o rebaixamento para a Terceirona seria mais um passo nessa direção. A história do Reims mostra que o poço pode não ter fundo. Que seja esse um aviso importante, tanto para os Verts da França quanto para o Verdão do Brasil (e a Lusa, e o Botafogo…).