Pennarossa: O importante é competir
Apenas dois times europeus têm coeficiente 0,000 entre todos os participantes da Copa da Uefa. Um deles é o ´Don Pernil´ Santa Coloma, campeão de Andorra, já conhecido dos leitores da Trivela. O outro é a Società Sportiva Pennarossa. Pelo nome, pode-se ter a impressão que é alguma equipe italiana obscura. Quase isso.
O Pennarossa é o atual (e inédito) campeão de um dos maiores sacos de pancada do futebol mundial, a República de San Marino. Participando pela primeira vez de uma competição internacional em seus 35 anos de história, o time não está nem um pouco preocupado por ser considerado o mais fraco do torneio.
O simples fato dos ´atletas´ poderem cruzar as fronteiras da Itália para defender o clube já é um feito único. Afinal, nenhum dos jogadores são profissionais. Em paralelo a suas carreiras de futebolistas, eles têm atividades que lhe garantem o sustento. A grande maioria trabalha como operário em fábricas da região dos Apeninos, onde fica o país; enquanto outros são comerciantes, profissionais liberais e até estudantes.
Ainda que tenha sido humilhado em casa contra o Zeljeznicar Sarajevo por 5 a 1 (igualando a maior derrota de um time de San Marino – o Folgore, que perdeu para o Basel pelo mesmo placar em 2000 , o Pennarossa tem muito o que sonhar. Em sua visita à capital da Bósnia-Herzegovina no jogo de volta (29/7), marcar um gol já estará de grande tamanho, já que nenhum time do país conseguiu tal feito.
História de dificuldades
A fundação do Pennarossa se deu em 1969, na cidade de Chiesanuova, por seis amigos, que entregaram a presidência do clube a Antonio Bartolini. O motivo para tal é mais do que simples: ele e Domenico Menghini, responsáveis pela injeção de capital na equipe.
O nome e o distintivo do time, uma pena vermelha, foram inspirados em um símbolo local. Isso explica o ´rosso´ do uniforme (o branco na camisa representa, segundo o próprio clube, ´a pureza´).
Depois de uma década de euforia, o clube entrou em decadência nos anos 80. Em 1987, o então presidente Luigi Raganini deixa seu cargo e quase leva a equipe à falência. A salvação foi Alfiero Vagnini que, depois de colocar dinheiro, tornou-se treinador, jogador e diretor técnico.
No início da década de 90, outra crise atingiu o Pennarossa. Sem jogadores suficientes em Chiesanuova, o time passou a ser administrado por um grupo de uma cidade próxima, Borgo Maggiore.
Tudo voltou ao normal em 94, graças ao atual presidente Massimo Barbieri, que encontraram jovens dispostos a defender a camisa rossobianca do clube. Resolvido esse problema, faltava apenas um: conquistar um título.
2004, o ano da virada
No ano 2000, o Pennarossa anunciou a contratação de Pierangelo Manzaroli. Meio-campista experiente e bastante rodado no futebol do país (com mais de 40 convocações para a seleção de San Marino), ele, assumiu também o cargo de treinador do time. Desde então a sorte do time começou a mudar.
Em 2003, o time da pena vermelha bateu na trave três vezes. Chegou às finais do Campeonato de San Marino, da Copa Titano e do Trofeo Federale, mas foi derrotado nas três.
A persistência do Pennarossa valeu a pena. Apenas 35 anos depois de sua fundação a sala de troféus do clube foi inaugurada. Neste ano (2004), Manzaroli conseguiu classificar seus comandados para as mesmas três finais e, desta vez, levou a melhor e, de quebra, conquistou os três títulos mais importantes do país e colocou seu time na Copa da Uefa.
Agora, o grande sonho do Pennarossa é ter um estádio próprio. Seus principais jogos são disputados no estádio Olímpico de Serravalle, campo do AC San Marino, que está na Série C da Itália. O único problema será levar torcedores para o campo, já que a média de público varia entre 50 e 100 gatos pingados por jogo. Quem sabe agora, que já tem seu nome cravado na história do futebol europeu, isso não melhore.