Mendoza: O Condor peruano

O torcedor do Milan não poderia esperar nada pior. A invencibilidade da equipe na temporada 2003/4 foi quebrada na própria casa, atuando pela Liga dos Campeões. O responsável por essa façanha foi o atacante peruano Andrés Mendoza, do Club Brugge, que anotou o único tento da partida. O gol saiu de um chute forte, indefensável para o goleiro Dida: ´´Eu faço igual a toda hora nos treinos´´, diz Mendoza, de 25 anos, sem nenhuma modéstia. Certamente, foi um dos feitos mais importantes de sua carreira no clube belga, desde que foi contratado junto ao Sporting Cristal em 1999. O gol marcado contra o rubro-negro de Milão, atual campeão europeu, em pleno Estádio San Ciro, tem mais um significado considerável: nas últimas sete apresentações do Brugge fora de casa, valendo por competições européias, o time não havia conseguido nenhuma vitória.
Força física, velocidade, cabeceio e uma canhota precisa e potente. Essas são as principais características do ´Condor´, como é conhecido, e cujo grande ídolo no futebol é o fenômeno Ronaldo, o qual costuma acompanhar desde que iniciou a carreira.
Colecionador de encrencas
O sangue latino pode explicar o temperamento forte do atleta. O atacante pode, a qualquer instante, estar envolvido em alguma confusão. Num amistoso realizado em 2002 entre jogadores peruanos e a seleção sub-17 do país, Mendoza ficou enfurecido com uma falta não marcada a favor de seu time e começou a agredir os jovens adversários, até que foi seguro por seus companheiros. Após a partida, atacou uma jornalista que havia flagrado momentos do incidente.
No mesmo ano, na Europa, ele também chamou a atenção da imprensa, ao brigar com o atacante iugoslavo Bratislav Rutic durante um treino. Esse ato de indisciplina custou caro ao peruano. Ele foi impedido pela diretoria do clube de disputar duas partidas da Liga dos Campeões.
Na primeira rodada da mesma competição em 2003, ele prejudicou a equipe ao levar um cartão vermelho, no empate por 1 a 1 contra o Celta. Entretanto, mesmo tendo seu nome incluído em situações desagradáveis, ele afirma, sempre sorridente, que não é polêmico.
Próxima parada: Espanha
A Liga dos Campeões e as eliminatórias para a Copa de 2006 são ótimas oportunidades para Mendoza aparecer ainda mais no cenário internacional e realizar seu maior sonho: uma transferência para a Espanha. Ele quer jogar na Liga devido ao idioma espanhol e por considerar o futebol jogado lá o melhor do mundo.
Analisando sua atual fase, são grandes as possibilidades de Mendoza, em breve, tornar seu sonho realidade. Ele vem fazendo parte da lista de convocados da seleção de seu país já há um bom tempo. No ano passado, balançou as redes três vezes contra o Excelsior Mouscron, na final da copa da Bélgica, ajudando seu time a erguer a taça. Já em 2003, sentiu pela primeira vez o gosto de faturar um campeonato belga (o 12º da história do Club Brugge) e, atualmente, lidera a disputa da artilharia com nove gols.
Logo na estréia das eliminatórias, atuando em casa contra os paraguaios, provou sua fama de artilheiro e balançou a rede uma vez na goleada por 4 a 1. Na partida seguinte, em Santiago, apesar da derrota por 2 a 1 frente aos chilenos, outro gol marcado. Às vésperas do jogo entre Brasil e Peru, foi citado pelo técnico campeão do mundo em 1994, Carlos Alberto Parreira, como uma de suas preocupações: ´´O Mendoza tem uma velocidade incrível e é muito perigoso quando puxa os contra-ataques´´.
Integrante de ótima safra
O atacante está bastante confiante no bom desempenho do Peru em busca de uma vaga para a Copa da Alemanha, tanto pela qualidade como pela experiência do grupo. Ao lado de profissionais que atuam no exterior, como Pizarro (Bayern de Munique), Solano (Newcastle), Palacios (Atlas-MEX) e Rebosio (Zaragoza), pode levar sua seleção a uma Copa do Mundo depois dela ter se ausentado das últimas cinco edições.
Sem conquistar uma Copa América desde 1975, o Peru será a sede da principal competição sul-americana de seleções em 2004. É uma grande chance para Mendoza ajudar a quebrar esse jejum. Ele participará do torneio pela segunda vez. Fez parte do grupo que foi convocado para a edição de 1999, porém, foi escalado apenas no último jogo da fase de classificação, pelo treinador Juan Carlos Oblitas, contra o Paraguai.
Curiosamente, o brasileiro Paulo Autuori é o atual treinador da seleção peruana. Na Taça Libertadores da América de 1997, ele foi o comandante do Cruzeiro, que ficou com o título. Na final, enfrentou o Sporting Cristal, que possuía no elenco o jovem Andrés Mendoza.
Caso Mendoza mantenha seu excelente desempenho, seja na seleção, seja no Brugge, ele tem totais condições de transformar-se num dos principais ídolos da seleção peruana de todos os tempos. Um qualificado rol, formado por Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz e Hugo Sotil, entre outros, pode ter incluído no futuro um novo nome. Resta ao ´Condor´ colocar a cabeça no lugar, para que seus vôos tenham sempre o sucesso como destino.