Iarley: Investimento traz reconhecimento

Candidatos a personagem de contos de fadas são as coisas mais fáceis de se encontrar na mídia depois da invasão dos reality shows em nossas TVs. No futebol, os príncipes encantados dos jogadores são os milhares de dólares que levam daqui qualquer boleiro um pouquinho melhor que a média para as arábias ou para o extremo oriente.

Seria lógico que qualquer milhão de dólares atrairia um cearense de 29 anos que, depois de tentar a carreira no Vasco e ter sido dispensado, voltava a jogar por um clube médio. Iarley chegou a receber propostas milionárias para sair da América do Sul, mas preferiu um príncipe argentino da classe média a xeques árabes bilionários. Em vez dos milhões de dólares orientais, ele escolheu os milhares de dólares do Boca Juniors.

Verdadeiro gol de ouro

A história com o Boca começou na Libertadores da América de 2003. O Paysandu foi enfrentar o clube argentino em La Bombonera, desacreditado até mesmo para conseguir um empate. Só que a humildade paraense superou a soberba xeneize. O time brasileiro calou o Boca e sua torcida com uma vitória magra, porém merecida, na casa do adversário. Iarley marcou o único gol da partida. Gol que pode ser chamado de verdadeiro gol de ouro, porque chamou a atenção do técnico Carlos Bianchi, que logo depois pediria sua contratação.

Em tempos de propostas milionárias, foi um ato corajoso para um jogador de 29 anos, já na descendente da carreira, preferir a exposição num clube de ponta da América do Sul ao ostracismo no Qatar ou na Coréia. Ao escolher o Boca Juniors, o cearense Iarley fez um investimento de altíssimo risco.

Investimento arriscado, retorno mais que merecido

O investimento começou a dar indícios de que traria um grande retorno quando Iarley recebeu a lendária camisa 10 que vestiu Maradona. O Boca acreditava no brasileiro como solução para a ocupar a vaga de Riquelme, que mesmo depois de um ano fora do Boca ainda deixava muitas saudades. No primeiro jogo, talvez porque ainda não estivesse acreditando no que estava vivendo, Iarley não foi muito bem e decepcionou. Bianchi não desistiu e o colocou como titular novamente contra o Rosario Central.

Não foi em vão. Iarley arrebentou no segundo tempo, abrindo espaços com seus dribles curtos e criando chances de gol para Schelotto. O jogo seguinte, contra o Vélez, era extremamente importante para o brasileiro confirmar a boa impressão deixada contra o Rosario. Novamente no segundo tempo, Iarley encontrou espaços escondidos em minúsculos pedaços do campo, que conduziram o Boca à vitória de virada contra o Vélez Sarsfield. Foi o jogo decisivo para o brasileiro cair, com o perdão do trocadilho, na boca da torcida boquense.

O retorno foi garantido. Embora ganhando três vezes menos do que receberia na Arábia Saudita ou na Coréia do Sul (de onde também recebeu propostas), Iarley se destacou num dos maiores clubes sul-americanos e recebeu elogios das imprensas argentina e brasileira. Depois do belo gol marcado contra o maior rival Rival Plate, no 300º clássico entre os dois times, a torcida coroou o brasileiro com um grito de arquibancada que o chama de ´hermano de Pelé´.

Recompensado pela autenticidade

Orgulhoso da comparação, Iarley mostrou, com sua decisão acertada, que nem sempre a ´independência financeira´ no Oriente pode ser o melhor investimento para os brasileiros. Mesmo com 29 anos, ele apostou em jogar num clube de ponta e foi coroado com boas atuações e a chance de jogar a Copa Intercontinental, no qual sagrou-se campeão mundial.

O investimento no Boca trouxe a Iarley um reconhecimento na mídia que jogadores jovens como Nádson (na Coréia), Léo Lima e Souza (fugidos da Bulgária) não conseguiram. A autenticidade de sua escolha com resultados merecidos provou que ser princesa (ou craque) num reino de plebeus (perebas) é muito fácil. Entretanto, ser princesa (ou craque) num reino cheio de nobres (outros craques) é muito mais difícil, mas traz uma recompensa (o reconhecimento) muito maior.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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